São Paulo, 24/07/2025 – A WEG começa a ver incertezas associadas à política de tarifas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e à geopolítica afetarem a demanda pelos chamados equipamentos de ciclo longo, com clientes adiando decisões de investimento, enquanto se prepara para ajustar a estratégia caso o Brasil seja atingido por alíquotas mais elevadas.
Ontem, Trump disse que os Estados Unidos estão aplicando tarifas que variam de 15% a 50% sobre importações de diversos países, com a alíquota maior destinada àqueles “com quem não nos damos bem”. Ele não citou nenhuma nação específica, mas o Brasil foi até agora o único atingido por tarifas de 50%, previstas para serem impostas a partir de 1º de agosto.
“Caso a situação se mantenha, a WEG tem, sim, um plano de ação que pode mitigar parte dos eventuais impactos”, disse o diretor administrativo financeiro, André Luís Rodrigues, em teleconferência de resultados realizada hoje, após divulgação de balanço do 2T25 na véspera.
“Temos uma presença industrial global, e ao longo dos últimos anos, a gente vem acelerando investimentos em capacidade de produção nas diversas geografias onde atuamos. Como começamos a fazer isso lá atrás, pode ajudar, sim, nesse processo”, acrescentou o diretor.
“Para colocar todo mundo na mesma página: produzimos no Brasil pouco menos de um terço do que a gente vende nos EUA, e grande parte disso é motores elétricos”, detalhou Rodrigues, ao ser questionado sobre eventuais impactos e planos de mitigação.
“O que temos hoje desenhado é que podemos, sim, realocar nossas rotas de exportação. Podemos usar o Brasil para atender à demanda local no México e na Índia, e usar a produção desses países para atender o mercado americano”, apontou o diretor.
As adaptações podem levar “alguns meses”, admitiu o executivo, mas a Weg já havia trabalhado em planos similares no primeiro mandato de Trump, quando houve tarifas sobre produtos do México, posteriormente suspensas após negociações.
“A Weg, no primeiro mandato do Trump, já tinha um plano de ação. Naquela época, era com México. E em poucos meses conseguiríamos mitigar, se fosse o caso. Isso anos atrás. E a gente está hoje em uma situação bem melhor de ‘footprint’ industrial para ter essa flexibilidade de realocar cadeias de exportação”, explicou.
Com sede em Santa Catarina, a Weg possui operações industriais em 18 países e operação comercial em 42, com distribuidores em mais de 120 países e cerca de 47 mil colaboradores pelo mundo.
O Brasil responde por cerca de 43% da receita líquida da Weg, enquanto América do Norte é a segunda região mais importante, com 28%. Europa representa 13%, e América do Sul & Central e Ásia Pacífico empatam com 6% cada. A África tem 4% de contribuição.
A participação de produtos da Weg fabricados e vendidos no exterior nos negócios cresceu de cerca de 7% em 2010 para 35% em 2024. Cerca de 22% são produzidos no Brasil e exportados, enquanto 43% são fabricados e vendidos localmente.
RESULTADOS
Questionado sobre o desempenho esperado para o restante do ano, após a Weg ter frustrado expectativas nos dois primeiros trimestres, Rodrigues disse que é importante monitorar a dinâmica dos mercados e tarifas, mas mostrou otimismo.
“Continuamos com dinâmica operacional saudável que deve continuar suportando boas margens operacionais. Também seguimos confiantes em nossa estratégia, baseada em presença global e portfólio diversificado, com presença em vários segmentos, que nos permite reagir a mudanças de cenário de forma rápida e mitigar impactos macroeconômicos”, afirmou.
A Weg reportou lucro líquido de R$1,59 bilhão no segundo trimestre, avanço de 3% em base anual, com receitas de R$10,2 bilhões, salto de 10% ano a ano, mas com todas linhas do balanço abaixo das expectativas do mercado.
A margem líquida, também acompanhada de perto por analistas, ficou praticamente estável, com aumento de 0,1 ponto percentual ano a ano e de 0,3 p.p na comparação trimestral, enquanto a margem EBITDA caiu 0,8 pp em base anual e subiu 0,5 p.p sequencialmente.