São Paulo, 21/03/2025 – As ações da Cemig operavam em forte queda nesta sexta-feira, apesar de a empresa ter divulgado, na véspera, resultados próximos do esperado pelo mercado e bons dividendos, com alguns analistas concentrando atenção em uma exposição negativa da companhia no mercado de eletricidade.
O resultado da área de comercialização da Cemig, unidade que responde por 7,7% do EBITDA, registrou uma queda de 62% na comparação anual, influenciado por uma base de comparação forte no quarto trimestre de 2023 e por um efeito negativo de R$21,3 milhões devido à diferença de preços entre diferentes regiões no mercado elétrico, ou “submercados” no jargão téncico.
Em um passado recente, devido às limitações para investimentos decorrentes da elevada alavancagem, a Cemig adotou a estratégia de adquirir, a longo prazo, a produção de usinas eólicas e solares, principalmente no Nordeste, para revendê-la em contratos com clientes do mercado livre de eletricidade no Sudeste e em outras regiões. A empresa reportou uma exposição de aproximadamente 820 MW médios à diferença de preços.
RISCO DE SUBMERCADOS
Em relatório publicado na semana passada, analistas do Bradesco BBI destacaram que, nas últimas três semanas, houve uma diferença de aproximadamente R$ 285/MWh entre os preços spot do Nordeste e do Sudeste, o que poderia resultar em uma perda de EBITDA de R$100 milhões, ou R$72 milhões após impostos, no primeiro trimestre de 2025, representando cerca de 7% do resultado esperado para o período.
“Diante desse novo risco e da expectativa de desaceleração dos dividendos após o quarto trimestre de 2024, reduzimos a recomendação para as ações da Cemig de ‘neutra’ para ‘venda'”, escreveram os analistas do BBI.
Na teleconferência desta sexta-feira, a Cemig foi questionada sobre essa exposição, e um superintendente da área de comercialização afirmou que ela deve permanecer próxima de 700 MW médios no primeiro trimestre de 2025.
O tema também preocupa outros geradores. Em teleconferência, executivos da Eletrobras destacaram que o mercado de energia tem apresentado preços mais voláteis, com diferenças maiores entre os submercados, o que exige mais cautela nas operações de compra e venda de energia. “Estamos analisando toda a nossa carteira e avaliando todos os cenários possíveis de descolamento de preços”, afirmou o vice-presidente de Regulação, Rodrigo Limp.
“Essa situação representa desafios para os players com energia disponível no Norte/Nordeste que precisam entregar aos clientes no Sul/Sudeste, uma vez que terão que cobrir a diferença de preço de aproximadamente R$263/MWh para seus clientes”, disseram analistas da XP, no início de março, citando Engie e Cemig como potenciais impactadas.
Por volta das 16h30 as ações PN da Cemig recuavam 4,76%, cotadas a R$10,81, sendo a segunda maior queda percentual entre os papéis do Ibovespa na sessão de hoje. No acumulado do ano as ações caem 2,96%, por outro lado nos últimos 12 meses acumulam ganhos de 36,24%.
‘SHORT’
A equipe do Itaú BBA, liderada por Marcelo Sá, ressaltou que a Cemig passou a apresentar uma posição ‘short’ em seu balanço de energia para 2025 (-80 MW médios), 2026 (-10 MW médios), 2027 (-48 MW médios) e 2028 (-37 MW médios), apontando que o tema deveria ser questionado em teleconferência. “Especialmente considerando a posição ‘short’ em um período de alta nos preços de energia, que pode impactar as margens”, alertou o BBA.
“Olhando para frente, vemos as ações da Cemig como uma boa alternativa para ‘short’, não apenas pelo retorno pouco atraente, mas também devido ao balanço de energia para os próximos anos e ao risco dos submercados”, acrescentou o relatório do BBA. Recentemente, além do BBI, o JP Morgan também rebaixou a recomendação das ações da Cemig para ‘venda’.
Além das preocupações com a posição da empresa no mercado elétrico, a Cemig também enfrenta incertezas em relação à sua possível privatização, defendida pelo governador de Minas Gerais, Romeu Zema, ou à federalização, proposta pelo governo do presidente Lula. Essas questões deixam as ações da companhia sujeitas a volatilidade, conforme o noticiário político, segundo analistas.
(LC | Edição: Luca Boni | Comentários: equipemover@tc.com.br)