Para onde vai o mercado elétrico

Onda altista em preços de energia não deve se manter, diz diretor da Cemig

Onda altista em preços de energia não deve se manter, diz diretor da Cemig

São Paulo, 15/03/2024 – Os preços no mercado de energia do Brasil têm subido a cada semana, com salto de quase 90% desde mínimas em décadas tocadas em meados de 2023, o que gera perspectivas positivas para empresas do setor de geração, mas a tendência de alta não deve se manter, disse à Mover o vice-presidente de comercialização de energia da Cemig, Dimas Costa.

O cenário de cotações baixas do último ano levou diversos grupos a suspenderem projetos para novas usinas, e pesou sobre as ações de empresas com grandes volumes de energia não negociada, como a Eletrobras. Nos últimos meses, um movimento de recuperação ganhou força, porém ainda há dúvidas sobre sua sustentabilidade.

“Estamos com uma carga que não cresce, reservatórios de hidrelétricas em níveis ainda extremamente favoráveis, e uma clima com tendência de ser mais ameno, em função do La Niña. Tem uma incerteza sobre chuvas, mas nos últimos anos de La Niña choveu perto da média. Para ser sincero, não estou vendo muita razão para ese preço”, disse Toledo à Mover, citando fenômeno climático previsto para o segundo semestre.

Preços de contratos de longo prazo de energia convencional sobem 55,7% em um ano, segundo o índice Dcide, negociados a R$155,73 por MWh, nível quase 90% acima da mínima de cerca de R$82 em maio passado. Para energia renovável, o preço avança 48% em um ano, a R$189,67/MWh, ante R$109 nas mínimas de 2023.

“É até um preço bom, que equilibra, justifica investimentos. Mas nós não estamos enxergando esses preços para o ano que vem, não. Lógico, como somos vendedores, e não estamos deficitários, quanto maior o preço, teoricamente melhor. Mas não estamos acreditando muito, dado as condições de contorno”, explicou Costa.

Segundo ele, para além das chuvas mais fracas nos reservatórios nesta estação úmida, que vai até abril, “o mercado está muito nervoso em função da temperatura, com mais aversão ao risco”, o que leva as empresas a buscarem contratos de longo prazo com geradores, apoiando os preços.

“Nós acreditamos que esse preço mais alto vai propiciar bons ganhos para nossa área de comercialização. Mas não na proporção do que tivemos ano passado”, disse Toledo. Em 2023, essa unidade de negócios Cemig teve desempenho de destaque, com salto de 57% no EBITDA no terceiro trimestre, para R$246 milhões, respondendo por 12% do EBITDA total do grupo no mesmo período.

“Um grande gol que marcamos foi 2023. Porque foi na contramão do mercado, estava todo mundo enxergando que o preço ia ficar alto, e nós vendemos. Vendemos o que tínhamos, e inclusive ficamos ´short´. Depois o preço despencou, e compramos energia até pela metade do preço que vendemos”, contou o VP.

“Foi um fato que estudamos, trabalhamos. E nossa turma que subsidiou esse resultado é a turma que hoje diz que o preço não tem essa razão de ficar alto assim”, disse Costa. Após o fim o período úmido e a chegada do La Niña, chuvas na normalidade poderiam levar a uma correção no mercado, segundo ele.

“Acreditamos que os preços vão ficar ali no patamar entre R$100 e R$120, se mantida uma hidrologia favorável. Ainda temos uma sobra estruturante de energia”, afirmou. Segundo ele, a sobra é hoje de cerca de 25%.

Apesar de chuvas na região das hidrelétricas estimadas em cerca de 70% da média histórica para este mês, as hidrelétricas do Sudeste/Centro-Oeste, com os maiores reservatórios, devem encerrar março com 66% da capacidade — abaixo dos 70% previstos em janeiro e do recorde de 76% em mesma época de 2009, mas muito melhor que os 40% de março de 2017, pior do histórico.

(GP | Edição: Luciano Costa | Comentários: equipemover@tc.com.br)