Empresários bolsonaristas moderam discurso para se adaptar ao governo Lula

Líderes fazem malabarismo retórico para conviver com o governo Lula

Ex-vice-presidente Hamilton Mourão recebe cheque de Jackson Widjaja
Ex-vice-presidente Hamilton Mourão recebe cheque de Jackson Widjaja

Por Marcio Aith e Patrícia Vilas Boas

Os líderes empresariais que apoiaram a Presidência de Jair Bolsonaro estão fazendo um malabarismo retórico para conviver com o governo Lula. Evitam a exposição pública ou hasteiam a bandeira branca  para evitar represálias. 

O mais icônico desses empresários, Luciano Hang, proprietário da Havan, diz agora que quer acabar com o discurso de ódio. “Temos um presidente novo, um governo novo. Vamos torcer pelo piloto. E que faça uma ótima viagem. Estou dentro do mesmo avião. Que o Brasil possa encontrar a paz, harmonia, felicidade e os empregos. Estarei junto. Vamos acabar com o discurso de ódio”, disse Hang.

Hang está sendo investigado pelo financiamento de atos antidemocráticos, que defendiam o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF).

Repetindo a metáfora aérea de Luciano Hang, outro empresário bolsonarista, Luiz Renato Durski Junior, proprietário da rede de restaurantes Madero, disse em entrevista ao site Exame Invest que torce pelo piloto que dirige o Brasil. “Sempre torço para o comandante do avião pilotar muito bem porque também estamos dentro do avião.” Durante a pandemia, Durski foi duramente criticado por ter divulgado um vídeo nas redes sociais falando que “o Brasil não pode parar por 5 ou 7 mil mortes”.

O único executivo que mantém seus ataques é Josmar Verillo, braço estratégico da Paper Excellence.  Verillo distribuiu duros golpes ao Supremo Tribunal Federal e ao PT em publicações datadas de 2019 a 2023. Sua obsessão está em atacar duramente o STF. Agride o Judiciário, mas, quando precisa, busca uma aproximação com os ministros de outro tribunal, o Superior Tribunal de Justiça. 

Em uma dessas mensagens agressivas, o então ministro Marco Aurélio Mello é chamado de “pândego”. Em outra, ele compartilha a mensagem de que o STF é “a maior fonte de instabilidade institucional e jurídica do país”.

Em uma terceira, Verillo divulga uma postagem com a seguinte mensagem: “Todos pensam que o advogado de Lula é Zanin. Mas não é. O maior advogado de Lula se chama Ricardo Lewandowski. As coisas que Lewandowski e Zanin têm em comum são a patetice e a lealdade canina ao ex-presidiário corrupto e lavador de dinheiro.”

No dia 3 de janeiro passado, em resposta a um tweet do Ministro da Justiça e Segurança Pública do Brasil, Flávio Dino, ele escreveu: “Vai para casa, comunista.” 

A Paper Excellence, de Verillo, é conhecida por ter custeado a viagem do deputado federal Eduardo Bolsonaro à Indonésia, com direito a dias de lazer surfando em uma das melhores ondas do mundo.

Procurado, o gabinete de Eduardo Bolsonaro não respondeu aos pedidos de comentários. A Paper Excellence disse que os encontros são “institucionais e realizados com transparência” e negou qualquer pagamento a Eduardo Bolsonaro.

“A Paper Excellence não faz doações a partidos políticos e nem a representantes públicos individualmente e não se envolve na política interna dos países onde atua”, disse a empresa ao FLJ.

Deputado Eduardo Bolsonaro recebe cheque simbólico das mãos dos executivos da PE, incluindo Verillo, à direita. Reprodução/Instagram

Quanto aos ataques proferidos por Verillo, a companhia disse que eles “não representam a opinião da Paper”, e que a empresa “não responde e não se responsabiliza” por suas opiniões e manifestações.

Além dele, existe uma lista de empresários que apoiaram firmemente o governo anterior. Como mostrado em uma reportagem do colunista Guilherme Amado, do jornal Metrópoles, no ano passado, donos de importantes marcas em um grupo de WhatsApp chamado “Empresários & Política”, defenderam opiniões, interpretadas como ilegais, em defesa  a um golpe de Estado no caso de uma eventual vitória de Lula. 

No grupo também estavam José Koury, dono do shopping Barra World, Marco Aurélio Raymundo, conhecido como Morongo, da marca de surfwear Mormaii, e Afrânio Barreira, do restaurante Coco Bambu. Na época, Koury escreveu “Prefiro golpe do que a volta do PT. Um milhão de vezes. E com certeza ninguém vai deixar de fazer negócios com o Brasil. Como fazem com várias ditaduras pelo mundo”.

Eles e outros empresários presentes no grupo de WhatsApp foram objeto de busca e apreensão e quebra de sigilo fiscal e telemático devido às mensagens a favor de um golpe.

Após o vazamento das conversas, Koury declarou que as mensagens estavam “fora de contexto”. Em uma nota, ele destacou seu “apoio integral” a qualquer pessoa que fosse eleita. “Tenho 64 anos, trabalho pelo menos 12 horas por dia, desde os 16 anos de idade, e sempre fui defensor da democracia e da livre liberdade (sic) de expressão e de pensamento. Aquele que for eleito, seja de que partido for, terá nosso apoio integral”, afirmou.

A Mormaii, empresa de Marco Aurélio Raymundo, não respondeu aos pedidos de comentários, assim como Coco Bambu, de Afrânio Barreira, não retornou ao FLJ até a publicação desta reportagem.

Nota da Redação: Representantes da Paper Excellence procuraram o FLJ para reforçar sua posição pública a rerspeito do assunto tratado nesta matéria. Embora a empresa já tenha respondido na próprio texto da reportagem, registramos novamente sua posição. A companhia sustenta não ter custeado qualquer recurso financeiro ou fornecido qualquer estrutura logística (passagens, hotéis ou passeios) ao deputado Eduardo Bolsonaro em viagem à Indonésia. Segundo eles, o encontro que tiveram com o deputado em Jacarta teve como papel anunciar investimento da companhia.