Cenário macro complexo pode ajudar M&A

Fundos listados em bolsa atraem investidor com tese de aquisições em geração solar distribuída

Fundos listados em bolsa atraem investidor com tese de aquisições em geração solar distribuída
Suno Asset

São Paulo, 24/04/2025 – Fundos imobiliários e de infraestrutura listados em bolsa têm atraído investidores profissionais com uma tese de focada em geração distribuída de energia — geralmente, projetos de fazendas solares que têm a produção direcionada a atender à demanda de empresas específicas ou consórcios de consumidores. Capitalizados pelo acesso ao mercado financeiro, esses veículos de investimento estão em busca de aquisições no setor.

A gestora Suno Asset, por exemplo, mudou a estratégia de seu fundo imobiliário SNEL11, que captou recursos para desenvolvimento de usinas solares, e agora passou a apostar também em compras de ativos, enquanto a Athon Energia, ligada à Athon Capital, pretende dobrar de tamanho nos próximos anos, com parte do crescimento esperado por compras de ativos.

“Nossa proposta de médio e longo prazo é fazer uma consolidação desse mercado, que é altamente fragmentado. A partir de 2024 começamos a mostrar essas estratégias de M&A”, disse o diretor da Athon, Raphael Eckmann, lembrando que a empresa comprou no início daquele ano uma carteira de ativos solares de uma joint venture entre Raízen e Grupo Gera, por valor não revelado.

Com captações no mercado que incluíram a maior emissão de debêntures incentivadas já realizada para financiar projetos de GD, de mais de R$600 milhões, e o fundo listado de infraestrutura AATH11, a Athon acumula investimentos de mais de R$1 bilhão e passou dos 200 megawatts em capacidade; os planos são de “no mínimo dobrar” esse volume, para entre 400 MW e 600 MW nos próximos anos, disse Eckmann. Fundos de infraestrutura geralmente buscam retornos desalavancados acima de IPCA mais dois dígitos nos negócios.

Já o SNEL11, da Suno, fala em aportar capital em investimentos em geração distribuída que projetam “uma rentabilidade de 20% ao ano, conforme estudo de viabilidade”, com tese focada na renda gerada pela venda de energia dos projetos e mais possíveis ganhos de capital com vendas de projetos prontos. No início deste mês, o veículo levantou R$166 milhões, em sua terceira captação, atingindo valor de mercado de R$330 milhões.

“Os recursos da captação devem ser direcionados para compra de projetos de geração de energia limpa e o desenvolvimento de novas plantas. Outras captações do SNEL11 devem acontecer ainda neste ano. O plano é atingir R$1 bilhão sob gestão até 2026”, disse a Suno, em nota.

SETOR ATRAI CAPITAL

O apetite dos fundos de investimento pelos negócios de geração distribuída ocorre mesmo em meio a um ciclo de elevação da taxa básica de juros, Selic, hoje em 14,25%, que tem pressionado a capacidade de empresas, e diante de retração no interesse por novas usinas renováveis de grande porte, que sofrem cortes de geração por restrições no sistema — problema que não afeta sistemas menores, de GD.

“Diria que, com o ambiente atual, de deterioração do cenário macro (devido aos juros altos), tem um mercado muito interessante, onde você tem ativos de qualidade que eventualmente podem estar disponíveis no mercado. Seja porque os players estão mais complicados em sua estrutura de capital, em balanço, seja porque GD passou a não ser mais o foco. Existem oportunidades na atual deterioração”, disse Eckmann, da Athon.

Enquanto o rápido crescimento dos negócios conhecidos como GD atraiu elétricas que não atuavam no setor, caso da Serena Energia, outros grupos decidiram deixar o negócio. Fontes dizem que a Raízen avalia a venda até da integralidade da subsidiária Raízen Power, que tem ampla carteira de ativos de GD solar e de outras fontes de geração.

“Em 2017, 2018, havia algumas dezenas de milhares de ´players´ nesse mercado. Muitos se frustraram, muitos não conseguiram conectar seus ativos, e muitos quebraram”, disse Eckmann, ao comentar as movimentações no segmento que foram iniciando uma consolidação.

Com usinas solares em diversos Estados, incluindo Pará, Maranhão, Rio de Janeiro, São Paulo a Athon arrenda a produção das usinas em contratos de longo prazo para empresas incluindo grupos de saneamento, saúde e empresas de serviços públicos. O SNELL11, da Suno, tem usinas solares em Minas Gerais, Ceará, e Pernambuco, que estão “locadas” para os grupos do setor de energia Serena, Matrix, Lemon e CMU.

O segmento de geração distribuída solar saiu praticamente do zero no país a partir de 2015, quando foram aprovadas regulamentações de incentivo, e soma hoje 37,5 gigawatts instalados, mais do que a totalidade do parque eólico nacional. São 3,3 milhões de instalações, que incluem desde usinas para empresas até milhões de telhados solares em residências.

O setor atraiu grandes grupos multinacionais, como a alemã Siemens e a BlackRock, que investiram na Brasol, e Pátria Investimentos, que entrou no segmento com a Èlis Energia.

(LC | Edição: Luca Boni | Comentários: equipemover@tc.com.br)