Para analistas, alavancagem é ponto de atenção

Auren está confortável com preço pago por AES Brasil: "vai gerar muito valor"

Auren está confortável com preço pago por AES Brasil: "vai gerar muito valor"

São Paulo,16/05/2024 – A Auren Energia está ´muito confortável´ com a proposta para aquisição da AES Brasil, divulgada na noite de ontem, e avalia que o negócio “vai gerar muito valor”, disse hoje o CEO, Fabio Zanfelice, em teleconferência com investidores.

Controlada pela Votorantim Energia e pela canadense CPPIB, a Auren foi criada em 2017 para buscar oportunidades de expansão dos negócios das empresas no setor elétrico. Ela depois adquiriu a Cesp, em leilão de privatização, em 2018, e há alguns anos buscava uma nova transação para acelerar o crescimento.

“Nosso objetivo era criar uma empresa que fosse referência no setor, e conseguimos atingir esse objetivo”, disse Zanfelice, ao comemorar a compra da AES, que mais do que dobrará a capacidade de geração da Auren, criando uma das líderes em renováveis no Brasil.

A companhia fruto do negócio nasce com 8,8 gigawatts em capacidade, e será a terceira maior geradora privada do Brasil, atrás de Eletrobras e Engie Brasil, e com ativos 100% renováveis, segundo o JP Morgan.

“Reforçamos essa nossa crença no setor elétrico brasileiro. Para nós, é um dos maiores setores do mundo (em termos de oportunidades)”, disse Zanfelice, em teleconferência com analistas, hoje, para comentar a operação.

As ações da Auren tombavam mais de 4% hoje pela manhã, depois de confirmado o negócio, enquanto as da AES Brasil disparavam quase 14%. A Auren oferece até R$11,55 por ação da AES Brasil, com prêmio de 18% ante o fechamento de ontem, de R$9,78, mas com possibilidade de pagar parte do valor em ações, a depender da escolha dos acionistas.

ALAVANCAGEM É ALERTA

O negócio pode levar a alavancagem financeira da Auren, hoje baixa (1,8x) para 4,9x, o que foi colocado como ponto de atenção no negócio por analistas de Genial e XP, embora ambas as casas de análise tenham visto a transação como potencialmente positiva.

“Foi a melhor das oportunidades que poderíamos ter, e foi um preço justo pago pelo ativo. Temos muito que explorar, as sinergias que já estão claras serão capturadas rapidamente, e outras virão ao longo do tempo”, disse Zanfelice, projetando retorno da alavancagem a um nível ideal de 3-3,5x em até três anos.

“A companhia vai gerar um valor substencial, muito além do que colocamos como potenciais sinergias na operação”, acrescentou Zanfelice, citando projeção atual de sinergias de ao menos R$120 milhões por ano.

Além disso, a Auren espera obter ganhos ao elevar a produtividade dos ativos da AES para perto de seus números. Para os analistas da XP, Vladimir Pinto e Maíra Maldonado, a companhia poderia levar a disponibilidade das eólicas da AES para 93-94%, de 88,5% hoje.

“Vemos o negócio como alinhado com a estratégia da Auren, com sinergias operacionais, de portfólio de energia e tributárias significativas a serem obtidas. No entanto, a alavancagem deverá aumentar significativamente com o negócio”, escreveu o time da XP.

Segundo fontes, a francesa Total chegou a avaliar a AES Brasil, mas ao final apenas a Auren fez oferta. Grupos como Engie chegaram a sinalizar potencial apetitte, mas não chegaram a iniciar negociações de fato.

‘GANHA-GANHA’

Para o JP Morgan, “os benefícios da combinação são claros”. “A questão era o preço, e a Auren finalmente encontrou um número que, em nossa visão, determina um resultado ´ganha-ganha´ para as empresas”, apontou o banco americano em relatório, acrescentando que a Auren poderia vender alguns ativos para acelerar a desalavancagem.

Na teleconferência, Zanfelice confirmou essa possibilidade, sem detalhar. “Temos avaliado alguns ativos que não têm escala, não têm geograficamente combinação com algum outro. Vamos passar a avaliar, pode ser um desinvestimento desses ativos, sim”.

Os executivos da Auren também comentaram que a companhia segurou caixa recentemente, se preparando para a aquisição, e ainda assegurou um empréstimo-ponte, levantando até mais recursos do que avalia ser necessário. A oferta pode envolver de R$3,6 bilhões a até R$6,7 bilhões, no caso de todos minoritários da AES optarem por receber em dinheiro.

(LC | Edição: Luca Boni | Comentários: equipemover@tc.com.br)