Por: Luciano Costa
São Paulo, 21/11/2024 – O fraco desempenho da bolsa brasileira neste ano tem deixado muitos investidores nervosos, mas para quem tem horizonte de longo prazo, de ao menos dez anos, “o cenário atual é um espetáculo”, disse o CEO da Finacap Investimentos, Luiz Fernando Araújo, em participação no MoverCast, da TC Investimentos.
“É um momento excelente, uma oportunidade histórica para acumular bons ativos. Não só bolsa, a NTN-B está pagando 7% real para 30 anos”, disse Araújo, gestor de um fundo de ações que atua com estratégia de ‘value investing’.
“Agora é uma oportunidade única, você consegue comprar empresas que estão baratas e são de qualidade, são as maiores empresas, as mais líquidas, as ‘blue chips’, como Vale, Petrobras, Itaú”, afirmou o gestor, posicionado nas três empresas. “Você consegue diversificar, tem empresas boas e baratas em vários setores”.
ELÉTRICAS
No setor elétrico, por exemplo, a precificação das ações “está uma coisa absurda”, disse Araújo, diante de queda de mais de 12% do índice de energia elétrica (IEEX) neste ano, bem pior que o desempenho do Ibovespa.
“De uma forma geral são concessionárias que têm um fluxo de caixa já contratado, tarifa regulada para garantir uma rentabilidade mínima. Então é praticamente uma renda fixa. Quando a gente faz uma análise delas, olha muito a taxa interna de retorno (TIR), e essas empresas do setor estão com IRR mais de 10% acima da inflação”, explicou.
“São empresas de baixo risco, fluxo de caixa estável, previsível, consumo de energia está aumentando, a matriz brasileira é renovável, bem aderente ao movimento ´ESG´ no mundo. Essas empresas estão muito bem-posicionadas e mesmo assim os preços não refletem”, avaliou Araújo.
A Finacap investe em empresas como Equatorial, Energisa — “um case de sucesso similar à Equatorial, mas menos conhecido”– e Eletrobras, Araújo disse que parte dos descontos no setor é por questões “circunstanciais, de curto prazo”. Ele citou incertezas sobre a renovação de concessões de distribuição e cortes de geração renovável sofridos por geradoras, devido às limitações na rede elétrica.
BANCOS
No setor de bancos, a Finacap tem posições em Itaú e Banco Inter, “empresas completamente diferentes”, sendo um incumbente, tradicional, com mais de 100 anos, e a outra uma startup de tecnologia, disruptiva.
“Itaú é nossa maior posição na carteira, mais de 10% do patrimônio, e investimos há muitos anos. Tem uma das melhores rentabilidades do mundo nos últimos 20-30 anos”, afirmou Araújo.
Já o Inter, na visão do gestor, é uma aposta na transformação no setor, com novos bancos desafiando os bancões. “O Inter nunca foi uma queridinha como o Nubank, ainda tem múltiplos nos patamares desses bancos tradicionais. Não questionamos que há uma mudança no sistema, e o Banco Inter é um dos desafiantes que está muito bem-posicionado, e não se vê refletido no preço como em outras operações”.
VALE
No caso da Vale, Araújo acredita que o minério de ferro voltará em algum momento a um ciclo positivo, mas avalia que a mineradora consegue ser lucrativa mesmo com as cotações atuais do minério.
“Não dá para você acertar o timing do ciclo do minério de ferro, então tem que olhar o custo marginal de produção. E a Vale está entre as mais eficientes. Tem uma margem de segurança, nesse preço que a Vale está muito folgada. Dá para sustentar e ganhar dinheiro mesmo com um ciclo estagnado da commodity”, afirmou.
MRV
A MRV faz parte da carteira do fundo da Finacap gerido por Araújo, que elogia a capacidade empresarial de Rubens Menin.
O gestor avalia que a construtora focada em baixa renda foi muito prejudicada pelos juros altos nos Estados Unidos, que impactaram a subsidiária americana Résia, e por aumentos de custos no pós-pandemia que atrapalharam a operação doméstica nas últimas ‘safras’.
“Acreditamos que a daqui pra frente a MRV vai começar a recuperar seus indicadores, e aí é uma questão de preço”, afirmou. “Porque o preço que está hoje já incorpora todos esses problemas de que falei. E ainda tem uma margem de segurança muito grande, o que justifica nossa posição”.
(LC | Edição: Luca Boni | Comentários: equipemover@tc.com.br)