Brasília, 15/1/2025 – A Gavekal elegou o Brasil como “mercado mais decepcionante” de 2024, com a destruição de valor significativa vista nos mercados acionários, além do prêmio de risco embutido na curva de juros, o que tornou a vida do investidor local “miserável”, ficando sem onde “se esconder”, diante da queda sincronizada desses ativos.
“O sentimento de decepção é palpável nos corredores da Faria Lima, com a culpa sendo atribuída, universalmente, ao presidente Lula”, pontuou a Gavekal, em relatório assinado pelo CEO da casa de análises, Louis-Vincent Gave. De acordo com ele, os planos fiscais expansivos de Lula levaram o câmbio, os títulos públicos e as ações a um cenário de correção.
“Quem vai querer se incomodar com ações com os juros de títulos públicos de dez anos do governo girando em torno de 15%?”, questionou. Também para a Gavekal, os mercados já precificaram “muitas notícias negativas”, com poucos fatores sendo capazes de provocar um estrago adicional. Ela cita, no entanto, eventual risco de o país ser atingido por algum tipo de crise constitucional ou política.
Do outro lado, a Gavekal entende que os mercados podem passar a precificar as expectativas dos investidores para as eleições presidenciais de 2026 já ao fim deste ano de 2025. E as apostas da Gavekal são de que o atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, não deve disputar o pleito, em razão do seu estado de saúde e idade avançada.
“É possível que o mercado passe a precificar uma mudança à direita na política local”, afirmou a research, embora reconheça não ser o “suficiente” para curar os problemas do país, que lida com “excessivas regulamentações, pensões generosas para funcionários públicos e regime tributário arcaico”.
EM BUSCA D EVALOR
A Gavekal também pontuou que, tradicionalmente, o Brasil seguirá “altamente dependente” do ambiente global de commodities, e minimizou riscos de um colapso nesse front em 2025.
A casa de análises cita, por exemplo, o firme desempenho das commodities de energia neste início de ano, e a sinalização da China de contínua determinação em aumentar o crescimento econômico.
O CEO da Gavekal, que assina o relatório, diz que poucos países com liquidez oferecem o mesmo juro real que o Brasil. Também segundo ele, os títulos do Brasil tendem a performar melhor antes as Treasuries em um cenário de alta dos preços do petróleo, como ocorrido em situações anteriores.
“As ações locais oferecem valor atraente. A maioria das companhias operam a múltiplos de P/L de um dígito, enquanto negociam dividend yields de dois dígitos. “No entanto, é difícil acreditar que as ações serão capazes de performar fortemente com os juros reais do Brasil tão elevados como se encontram hoje”, complementa Gave.
Entre os riscos negativos para o Brasil em 2025, Gave cita um cenário de dólar avançando, prejudicando fatores como o crescimento global e as commodities, ou simplesmente uma situação política local que continue a ir de “mal a pior”.