São Paulo, 29/05/2024 – A indústria nacional de energia eólica está pedindo socorro ao governo Lula, por meio de medidas de apoio, e autoridades em Brasília estão sensíveis ao pleito, discutindo alternativas que poderiam envolver até um leilão exclusivo para contratar novas usinas, disseram fontes à Mover.
Nos últimos anos, o setor tem sido afetado por um cenário de baixa demanda por equipamentos, que levou ao fechamento de fábricas, como unidades de Siemens Gamesa e GE, e impactou empresas como a Aeris, fornecedora de pás para turbinas, e Indústrias Romi e a WEG, que têm divisões voltadas ao segmento.
“Foi circulada uma lista de ideias, e a realização de leilões foi citada. Também tem discussões sobre o potencial de usar a capacidade industrial para exportação, e outra medidas relacionadas a financiamento”, disse uma das fontes, que falaram à Mover sob condição de anonimato.
No governo, a proposta sobre realização de um leilão para apoiar o setor eólico não surgiu dos técnicos do Ministério de Minas e Energia, mas está sendo analisada pela pasta, disse uma das fontes, que vê desafios para viabilizar tal medida.
“Não vejo como solução… não tem muito potencial (a ideia)… ainda há dúvidas sobre a demanda”, disse a fonte, ao lembrar que distribuidoras elétricas alegam ter energia contratada para atender os próximos anos. Com isso, um eventual leilão exigiria garantia de mercado para os projetos, na prática um incentivo que poderia pesar sobre as tarifas no futuro.
Ainda assim, a pressão política pelo leilão ou outras alternativas deve ser forte, dado que a pauta é alinhada à agenda de “transformação ecológica” do governo e aos planos de Lula de reindustrialização via setores estratégicos. Além disso, fechamentos de fábricas atingiram feudos políticos do PT, como a Bahia, que era sede de plantas da GE e da Siemens Gamesa.
“O crescimento do mercado está baixo, e o preço da eólica está pouco competitivo frente à solar. A coisa está começando a complicar para o setor, fábricas estão fechando no Brasil. O momento é ruim para o setor eólico”, disse o chefe da consultoria Thymos Energia, João Carlos Mello, que defende linhas de crédito mais competitivas voltadas especificamente às eólicas, para “manter os empregos aqui”.
No segmento solar, que tem tomado o topo das atenções em energias renováveis dos projetos eólicos, antes protagonistas, a maior parte dos equipamentos é importada da China. Na indústria eólica, o Brasil chegou a atrair quase uma dezena de fabricantes de turbinas e de outros componentes, com políticas adotadas principalmente a partir de 2009, em governos do PT, muitas das quais fecharam recentemente.
“O Ministério de Minas e Energia, a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial e a Casa Civil estão vendo possíveis ações para ajudar a cadeia eólica, um colega foi chamado à Casa Civil dar opiniões sobre possíveis ações”, disse outra das fontes.
Em meio ao momento complicado do segmento no Brasil, a Aeris está de olho na demanda nos Estados Unidos e na Europa, “focada em atender o mercado internacional e expandir sua divisão de serviços para aumentar a resiliência da receita e seu mercado endereçável”, disse o BTG Pactual, em relatório nesta semana. Diante desse quadro, as ações da Aeris despencam 56% no acumulado do ano e 74% em 12 meses.
A WEG, que produz turbinas eólicas em Santa Catarina, anunciou planos de fabricar as máquinas nos Estados Unidos, para diversificar em meio à fraqueza recente da demanda local. Na Romi, a unidade de negócio de fundidos e usinados teve queda de receita de 50% ano a ano no primeiro trimestre, afetada pela desaceleração na demanda por peças para eólicas.
(LC | Edição: Luca Boni | Comentários: equipemover@tc.com.br)