Primeira listada no Brasil a comprar BTC

Méliuz compra Bitcoin e avalia ter cripto como principal ativo estratégico em tesouraria; ações saltam

Méliuz compra Bitcoin e avalia ter cripto como principal ativo estratégico em tesouraria; ações saltam
ChatGPT

São Paulo, 06/03/2025 – A empresa de cupons de desconto e cashback Méliuz aprovou a compra de Bictoin e a contratação de estudo sobre a adoção da criptomoeda como “principal ativo estratégico da tesouraria”, tornando-se a primeira empresa brasileira listada em bolsa a investir diretamente em cripto.

A Méliuz informou que adquiriu 45,72 Bictoins, por aproximadamente US$4,1 milhões, o equivalente a quase R$24 milhões, ao câmbio de hoje, a preço médio de US$90.296,11 por Bitcoin, e que tem planos de fazer ainda mais. As ações da empresa subiam logo após a notícia, chegando a saltar mais de 26% no meio da tarde desta qunta-feira, a R$3,68 por ação ON, entre as maiores altas percentuais dos ativos na bolsa.

O movimento veio em meio a apostas de outras companhias no criptoativo, principalmente no exterior, e promessa do presidente americano Donald Trump de criar uma reserva estratégica de criptos.

O conselho da empresa, que abriu capital na B3 em 2020, solicitou à diretoria uma “análise detalhada sobre a viabilidade de ampliação dessa estratégia”, incluindo “possíveis formas de geração incremental de Bitcoin para os acionisats, seja por meio da alocação de caixa, do fluxo de caixa operacional ou de outras iniciativas estratégicas”.

A Méliuz disse que espera ter definições em aproximadamente 45 a 60 dias, e que a administração “acredita que a estratégia de tesouraria focada na reserva de Bitcoin tem potencial immportante para a maximização de valor para a companhia e seus acionistas”.

OUTROS CASOS

A estratégia de investir em Bitcoin tem sido utilizada por algumas empresas no mercado americano– o caso mais famoso é da Microstrategy, uma companhia de software que começou a alocar recursos na criptomoeda em 2020. Atualmente a Microstrategy tem cerca de 499 mil bitcoins em caixa, que valem US$45 bilhões.

O aporte da Méliuz equivale a cerca de 10% do caixa reportado pela companhia no final do terceiro trimestre, de R$240 milhões, posição considerada “confortável” pelo CEO, Gabriel Loures. A Méliuz registrou lucro ajustado de R$13,6 milhões no terceiro trimestre, com receita líquida de R$90 milhões. Em 2023, a Méliuz reportou prejuízo de R$21 milhões, com lucro ajustado de R$40 milhões e receita líquida de R$336,6 milhões.

A Méliuz, fundada pelo empreendedor Israel Salmen, de 35 anos, que é também o principal acionista, com 18,1% do capital, começou oferecendo cashback em lojas online e depois expandiu para o varejo físico e compra de créditos em celulares e apps. Hoje, a empresa oferece também conta digital, investimentos e outras soluções, via aplicativo.

RISCO BITCOIN

Ao Brazil Journal, Salmen disse que o objetivo é “construir valor no longo prazo”, e que “a Méliuz sempre topou tomar risco”, desde a fundação, em 2011.

Ele defendeu a decisão de alocar capital na criptomoeda em carta aos acionistas, em inglês e português, com 20 páginas, divulgada junto ao fato relevante.

“Muitas pessoas enxergam o bitcoin como um ativo de alto risco. Mas será que compreendemos verdadeiramente o conceito de risco? O que é mais arriscado: manter reservas em dinheiro sujeito a desvalorização devido a políticas públicas de forte expansionismo monetário ou investir em um ativo verdadeiramente escasso, que valorizou nos últimos 10 anos 77% ao ano em dólar e tem um valor de mercado de aproximadamente US$ 1,5 trilhão?”.

“Desde o fim do padrão-ouro em 1971, as moedas fiduciárias, como o Real e o Dólar, deixaram de ser lastreadas por ativos tangíveis. Hoje, seu valor depende exclusivamente da confiança nos governos e bancos centrais, que têm o poder de emitir dinheiro sem restrições. Isso leva a desvalorização monetária contínua, funcionando como um imposto invisível sobre a poupança das pessoas. Para nós, o Bitcoin surge como uma alternativa a esse sistema”, defendeu o jovem empreendedor.

O investimento em Bitcoin tem sido colocado por alguns entusiastas como “hedge” contra políticas monetárias ou fiscais erradas de Estados nacionais, uma visão apoiada pelo ex-diretor do Banco Central, Tony Volpon, durante participação no TC Cast, no ano passado.

“Acho um crime contra sua saúde financeira de longo prazo se você não tiver uma alocação mínima de bitcoin na sua carteira”, afirmou Volpon. “Vários investidores, muita gente com quem converso, estão entendendo isso. Ele (bitcoin) é um hedge contra risco sistêmico, de o Estado começar a falir, ou ser mal gerido pela classe política”, afirmou, na ocasião.

Nos Estados Unidos, o presidente Trump promete criar uma reserva nacional de criptoativos, na qual Bitcoin e Ethereum teriam papel central, mas com espaço também para outras criptomoedas.

(LC | Edição: Luca Boni | Comentários: equipemover@tc.com.br)