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Como funciona a dominância do mercado de criptomoedas?

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Por: Gabriel Fauth, do TradingView

Recentemente, observamos o movimento do mercado de criptomoedas, particularmente no gráfico do Bitcoin, em resposta às promessas eleitorais do presidente americano Donald Trump e a todos os eventos em evidência no mercado, como o possível ciclo de corte de juros nos Estados Unidos, a Inteligência Artificial e produtividade, além dos conflitos no mundo e tarifação. Todos esses eventos influenciam os preços no mercado em devidas proporções. Todos esses fatores influenciam o comportamento dos preços, cada um com seu peso. Alguns são recorrentes, como os ciclos de juros, enquanto outros têm impactos mais imprevisíveis.

Dentro desse contexto, é importante entender como os investidores se posicionam em momentos de maior ou menor apetite por risco. Em fases de “risk-on”, os mercados tendem a buscar ativos mais arriscados, como ações de tecnologia ou criptomoedas, na esperança de maiores retornos. Já em momentos de “risk-off”, há uma fuga para ativos considerados mais seguros, como ouro ou títulos do governo. Essa alternância entre otimismo e cautela ajuda a explicar parte da demanda por Bitcoin.

É com base nesse ciclo que trago à mesa a reflexão sobre o ciclo de dominância entre Bitcoin e Ethereum. Podemos perceber como ambos os ativos se comportaram no ciclo passado, o que pode ser um bom indicativo de fim de ciclo e início de outro.

Entendendo mais sobre a dominância de cada moeda

A dominância de mercado é um termômetro poderoso para entender o comportamento dos investidores dentro do universo cripto. Quando a dominância do Bitcoin aumenta, isso geralmente indica que os investidores estão buscando segurança dentro do próprio mercado cripto, concentrando capital no ativo mais consolidado e com menor risco relativo. É um sinal típico de cautela, seja por incerteza macroeconômica ou por falta de confiança em projetos alternativos (altcoins).

Por outro lado, quando a dominância do Bitcoin cai e ativos como Ethereum ou outras moedas ganham espaço, isso costuma refletir um ambiente mais propenso ao risco, um cenário de otimismo e apetite por retorno mais agressivo, semelhante ao que vemos em ciclos de risk-on mais amplos.

Observar a dominância, portanto, não é apenas olhar “quem está ganhando mais capital”, mas entender qual é o humor do mercado e em que fase do ciclo estamos. Em momentos de halving, por exemplo, é natural que o Bitcoin recupere protagonismo, pois os fundamentos de escassez e valorização futura ganham força.

Muito bem, entendendo o ciclo de halving como um gerador de valor para o Bitcoin, é de se esperar que o BTCUSD ganhe força e, por consequência, aumente sua porcentagem de capitalização de mercado frente aos demais ativos do ecossistema. Por isso, vemos que o Bitcoin flutua com uma dominância média de 55%, enquanto o Ethereum mantém cerca de 16%.

 

Em ciclos de halving passados como em 2020, vimos a dominância do Bitcoin escalar para entre 70% e 80% antes de iniciar o impulsionamento do que chamamos de altcoin season. Durante esse período, a dominância do Ethereum oscilou entre 20% e 10%. Mas afinal, o que isso significa?

Altcoins são todas as criptomoedas que não são o Bitcoin — incluindo Ethereum, Solana, Cardano, entre milhares de outras. Já a altcoin season é um fenômeno de mercado em que essas moedas alternativas passam a ter um desempenho muito superior ao do próprio Bitcoin, atraindo grande parte dos investimentos e diminuindo a dominância do BTC. Normalmente, isso acontece depois que o Bitcoin já teve uma forte valorização, e os investidores passam a buscar lucros maiores em ativos de maior risco. Estaríamos vendo um ciclo semelhante novamente?

Obviamente, valores de 10% ou de 70-80% podem ser considerados níveis de atenção, e não necessariamente de atuação, pois os preços não são absolutamente correlacionados à dominância. Podemos observar que a dominância do Bitcoin subiu vagarosamente por anos, enquanto o preço esteve levemente consolidado. Já comparando o gráfico do Ethereum com sua dominância, existem descolamentos frequentes que podem se comportar como armadilhas para os menos atentos.

Além disso, a persistência na dominância do Bitcoin será uma realidade mais evidente à medida que mais investidores institucionais de longo prazo encarteirem BTCs. A verdade é que o Bitcoin e as demais criptomoedas são ativos jovens, que ainda não atingiram sua plenitude. Por isso, não podemos confiar em regras absolutas ou sinais rígidos como os vícios do mercado tradicional.