Nos últimos 15 anos, todas quedas foram oportunidade

Nasdaq entra em território de correção; mas, dessa vez, provavelmente não é oportunidade, diz Gavekal

Nasdaq entra em território de correção; mas, dessa vez, provavelmente não é oportunidade, diz Gavekal
Grok/X

São Paulo, 11/03/2025 – O Nasdaq, um dos principais índices do mercado dos Estados Unidos e referência para ações de tecnologia, entrou em território de correção após acumular uma queda de 13,4% desde sua máxima histórica em dezembro de 2024. Diferente dos últimos 15 anos, este pode não ser um momento favorável para compras, de acordo com analistas da Gavekal.

“Nos últimos 15 anos, cada queda significativa na Nasdaq ofereceu a investidores uma oportunidade de compra. Então esta correção está de novo oferecendo ao investidor oportunidade de comprar nomes de alta qualidade e de crescimento nos EUA? Provavelmente não”, pontuou Louis Vincent em relatório a clientes nesta terça-feira.

Para a Gavekal, um dos fatores que desafiam o domínio dos mercados norte-americanos é o fortalecimento das perspectivas de crescimento da China e outros mercados acionários, incluindo Europa.

“O ambiente global de investimentos mudou de maneiras importantes ao longo dos últimos poucos meses. Para começar, a ideia de que os EUA são o único lugar onde os investidores globais podem alocar capital está sendo afora desafiada por novas tendências de políticas e mercados”.

 

OUTROS MERCADOS

A introdução de modelos avançados de inteligência artificial, como o DeepSeek, evidenciou as dificuldades das empresas do Vale do Silício em conter o avanço tecnológico chinês. Ao mesmo tempo, o governo chinês está focado no estímulo ao consumo e aos investimentos internos, tornando o mercado acionário chinês “um concorrente mais atraente na alocação de capital global”, apontaram os analistas.

O Japão também apresenta mudanças relevantes no fluxo de investimentos. A valorização do iene e a alta nos rendimentos dos títulos japoneses têm levado investidores a reconsiderar suas aplicações no país. Quando o iene está fraco, os japoneses tendem a buscar alternativas no exterior. Porém, com o fortalecimento da moeda e a melhora nos retornos domésticos, há um movimento de repatriação de capital, impactando os fluxos dos mercados globais.

Na Europa, políticas fiscais mais expansionistas, com líderes políticos trabalhando por aumento de gastos em defesa e infraestrutura, devem tornar os mercados locais mais dinâmicos. Países como Alemanha, Itália e Espanha estão adotando medidas favoráveis à valorização de ativos, o que pode atrair investidores que antes preferiam os EUA, avaliou a Gavekal, apontando que esse movimento reforça a tese de que há uma mudança estrutural na preferência pela alocação global de recursos.

Além dos fatores externos, o próprio mercado dos EUA enfrenta desafios internos. Valuations excessivos e incertezas políticas aumentam a cautela dos investidores.

De acordo com a Gavekal, desde 2009, os EUA foram os principais motores do crescimento dos mercados acionários globais. No entanto, a sobrevalorização dos ativos em relação ao PIB e a recente falta de impulso econômico levantam dúvidas sobre a continuidade dessa trajetória de liderança.

Diante desse cenário, algumas variáveis podem determinar o rumo do mercado. Anúncios corporativos, especialmente ligados à inteligência artificial, antes impulsionavam as bolsas, mas hoje já não garantem a mesma euforia. Dados econômicos dos EUA também indicam um ambiente menos favorável. A flexibilização da política do Federal Reserve pode trazer algum alívio, mas há um consenso crescente de que novas oportunidades de crescimento podem estar mais visíveis fora dos EUA, especialmente em mercados emergentes e na Europa.

(LB | Edição: Luciano Costa | Comentários: equipemover@tc.com.br)