Mercado digere balanço do Itaú e ruídos sobre o Banco Central permanecem no radar

Por Patrícia Lara

O mercado acionário brasileiro deve reagir hoje ao balanço do Itaú divulgado ontem, que teve lucro abaixo do esperado diante de um provisionamento extra em meio ao imbróglio da Americanas. Ruídos sobre o Banco Central seguem ainda no radar. No exterior, os futuros acionários de Nova York têm queda leve e as bolsas europeias sobem após discurso do presidente do BC americano, Jerome Powell, ter reforçado ontem o otimismo sobre o processo de desaceleração da inflação nos Estados Unidos.

Aqui, o foco fica com o Itaú, que anunciou lucro líquido gerencial de R$7,67 bilhões entre outubro e dezembro de 2022, abaixo do consenso de projeções colhidas pela Mover, que previa R$8,28 bilhões de lucro. O resultado foi afetado por um provisionamento extra de R$719 milhões para cobrir 100% da exposição do banco a uma “empresa de grande porte que entrou em recuperação judicial”. Apesar disso, o lucro do Itaú representou aumento de 7,1% em relação a igual período de 2021. Na véspera, as ações preferenciais do banco caíram 2,31% e exerceram a principal influência negativa em pontos para o recuo de 0,82% do Ibovespa.

No campo da política monetária, perto do fim de seu mandato, o diretor de Política Monetária do Banco Central, Bruno Serra, fará palestra sobre o cenário macroeconômico no evento Repensar Macaé, a partir das 16h00. Serra deixará o cargo em 28 de fevereiro. Na véspera, a sessão voltou a ser marcada por ruídos em torno do BC. O vice-líder do governo no Congresso, o deputado Lindbergh Farias (PT), protocolou requerimento de convocação do presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, para que ele preste esclarecimentos à Comissão de Finanças e Tributação da Câmara sobre a condução da política monetária. A iniciativa ocorre após críticas severas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao patamar das taxas de juros. Após participar de evento nos EUA, Campos Neto volta hoje ao Brasil, mas não tem compromissos públicos.

Na contramão das críticas, o presidente do BC nos dois primeiros mandatos de Lula, Henrique Meirelles, avaliou como acertada a decisão do Comitê de Política Monetária do Banco Central de utilizar uma comunicação mais dura no contexto atual de desancoragem das expectativas inflacionárias e de discussões no governo sobre metas de inflação, segundo entrevista ao Valor. Mas também disse que é natural que políticos e empresários cobrem uma taxa de juros mais baixa.

No exterior, o Índice Dólar DXY, que mede a variação da moeda americana ante uma cesta de divisas, recuava, aproximando-se de 103 pontos. Na véspera, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, disse em entrevista no The Economic Club of Washington que deve haver um processo significativo de desinflação neste ano. Mas ele afirmou que o índice de preços ao consumidor só retornará a um patamar próximo de 2,0% “certamente” em 2024. Os juros dos títulos da dívida do Tesouro americano cediam.

Nas commodities, o barril petróleo Brent se valoriza pelo terceiro dia seguido com o suporte do dólar fraco e após queda dos estoques do produto bruto nos EUA, em um sinal positivo de demanda. Os contratos futuros de minério de ferro fecharam a sessão na China em elevação, após oscilarem entre altas e baixas na Bolsa de Dalian. Já o índice de referência de Cingapura chegou a ser negociado brevemente abaixo de US$120 a tonelada, à medida que os operadores reavaliavam as perspectivas de demanda de curto prazo da China.

A agenda do dia traz mais balanços corporativos, com Disney nos EUA e Klabin e Banco Pan entre as empresas que divulgam seus resultados trimestrais no Brasil. A Petrobras também abre sua prévia de produção do quarto trimestre após o fechamento do mercado. Ao longo da sessão, falas de dois membros do Fed – John Williams, às 11h15, e Christopher Waller, às 15h45 – podem trazer volatilidade.

MERCADOS GLOBAIS

-O futuro do petróleo Brent para entrega em abril subia 1,15%, a US$84,65 o barril.

-O minério de ferro subiu 0,7% na bolsa chinesa de Dalian, a 848 iuanes, ou o equivalente a US$124,99 a tonelada.

-O Bitcoin cedia 0,31% nas últimas 24 horas, a US$23.352,10; o Ethereum subia 0,94% no mesmo período.

MERCADOS LOCAIS

-O índice EWZ, que replica ações brasileiras no exterior, subia 3% no pré-mercado americano, com os recibos de ações do Itaú em alta de 3% no pré-mercado, após queda de 4,11% na véspera.

-Os contratos de juros futuros na B3 devem seguir voláteis diante da polêmica sobre taxa de juros e com o BC na mira do governo, de parlamentares do PT e de outros partidos de esquerda.

DESTAQUES

Discursos de parlamentares ontem na Câmara repercutiram a polêmica sobre a condução da política monetária. O líder do Psol, deputado Guilherme Boulos, afirmou que Campos Neto quer ser o “dono” da política monetária brasileira. Ele citou laços do presidente do BC com ministros do ex-presidente Jair Bolsonaro ao mesmo tempo em que se diz independente. Já o deputado Carlos Jordy (PL) disse que não permitirá que o governo tire a autonomia do BC. (Agência Câmara)

A autonomia do Banco Central foi um passo institucional muito relevante. Mas, como é a primeira experiência do país nesse modelo, é “saudável” que haja discussões (como as vistas recentemente) sobre como a independência deve funcionar na prática, afirmou Bruno Funchal, CEO da Bradesco Asset. (Brazil Journal)

Paulo Câmara, ex-governador de Pernambuco, aceitou ontem o convite feito pelo presidente Lula para comandar o Banco do Nordeste. No fim do mês passado, Câmara entregou carta de desfiliação do PSB. A nomeação dele, contudo, esbarra na Lei das Estatais e depende do Senado aprovar as mudanças nas regras de quarentena política que passaram na Câmara. (Valor/Estado)