Por Fabricio Julião
O comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) desta quarta-feira dividiu opiniões entre os agentes financeiros. Os mais otimistas coma possibilidade de um corte da Selic antecipado se frustraram e consideraram o tom da entidade monetária “hawkish”, mais duro, enquanto economistas pessimistas com o início da redução dos juros consideraram a postura mais “dovish”. O que parece certo é que o documento reduzirá a discrepância que prevalecia no mercado e pode contribuir para que as expectativas sobre o início do corte dos juros comecem a convergir.
Segundo o TC Consenso sobre o Copom, publicado pela Mover na última sexta-feira, mostrou que as previsões dos economistas para o início do corte de juros variavam entre junho deste ano e abril de 2024, ou seja, uma diferença de dez meses. Agora, após a divulgação do comunicado de hoje, a ala do mercado outrora mais confiante começa a empurrar as estimativas para o segundo semestre.
Por outro lado, a ala do mercado que trabalhava com uma Selic estável ainda por muito tempo enxergou um tom levemente mais leve no comunicado. Um dos pontos citados é que, anteriormente, o Comitê havia destacado “que não hesitaria em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”. A frase foi mantida no comunicado desta quarta-feira, mas com uma ressalva: a de “ser um cenário menos provável”.
Apesar de não trazer grandes mudanças em seus recados principais, o comunicado do BC deve mexer com o mercado amanhã. A frustração dos otimistas deve levar à alta dos DIs curtos – que contemplavam alguma probabilidade de um corte de juros a partir de junho. Já os longos podem reforçar a trajetória de queda, refletindo a máxima de que uma ação firme do BC no curto prazo abre caminho para corte de juros mais fortes no futuro.
Na avaliação do economista-chefe da Genial Investimentos, José Márcio Camargo, o mercado deve reagir positivamente ao resultado da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), dado o fato de que o órgão deu o primeiro sinal de que está mais tranquilo em relação à taxa de inflação.
“O mercado vai gostar: [o Copom] não sinaliza uma redução a curto prazo, mas parece mais tranquilo do que anteriormente”.
O comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgado nesta quarta-feira decidiu manter a taxa básica de juros em 13,75%, conforme o esperado pelo mercado.
Segundo Camargo, o principal destaque do comunicado divulgado é o fato de que, apesar de o Comitê afirmar que não hesitaria em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como o esperado, escreve que esse é o cenário menos provável.
“[O Comitê] acha que o cenário de retomada do ciclo de alta é menos provável do que achava na reunião passada”, afirmou Camargo.
Já para o chefe da mesa de operações da Ação Brasil, Idean Alves, o tom do comunicado do Copom foi duro e surpreendeu ao informar que o colegiado não hesitará em retomar o ciclo de ajuste e deverá manter a taxa Selic em patamar elevado por mais tempo.
O Copom manteve a taxa básica de juros em 13,75% ao ano pela sexta vez consecutiva nesta quarta-feira. No comunicado divulgado logo após a decisão, o comitê informou que a manutenção da Selic no patamar atual pode perdurar por mais tempo, o que, segundo Alves, frustrou a esperança de investidores por um corte de juros no curto prazo.
O Copom reforçou no comunicado que entende que o processo de alinhamento de expectativas e controle de preços acontecerá de forma gradual e mais lenta que o esperado, em razão de diversos fatores externos e internos, destacando a alta de juros das principais economias globais para controlar a inflação, o risco bancário nos Estados Unidos, e o novo arcabouço fiscal ainda indefinido no mercado local.
Segundo Alves, a decisão de hoje provavelmente deixará o ânimo dos políticos “à flor da pele”, já que boa parte da base aliada do governo pedia um corte de juros. Ele reforçou que mais uma vez o Copom sinalizou que vai ser técnico, e que não cederá às pressões políticas.
A projeção de juros em um patamar mais alto por mais tempo deve impactar negativamente os mercados brasileiros amanhã, com pressão em ações de empresas muito alavancadas ou que dependem do crédito para crescer, como as do setor de Varejo.