Manifestante incendeia boneco de Campos Neto em ato do PT na véspera do Copom; A política da truculência vai funcionar?

Expectativa do mercado é de manutenção da Selic em 13,75% ao ano

Twitter/MTST
Twitter/MTST

Por Bruno Andrade

Um manifestante incendiou um boneco com a fotografia do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em um ato organizado pelo PT e CUT nesta terça-feira (12). A manifestação aconteceu na avenida paulista e escancarou a campanha do poder Executivo contra a autoridade monetária brasileira. Internautas repercutiram o ato no Twitter.

Mais cedo, em entrevista ao site Brasil 247, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva lamentou não poder demitir Campos Neto. “Eu não posso demitir porque isso depende muito do Senado”, disse. A fala do chefe do Executivo remete à lei de autonomia do Banco do Central, aprovada no governo de Jair Bolsonaro, que só permite a exoneração do presidente do BC com o apoio de 41 senadores, número difícil de ser alcançado.

Lula disse que os juros estão em patamares absurdos. “A primeira coisa que eu acho absurda é a taxa de juros estar a 13,75% num momento em que temos o juro real mais alto do mundo, num momento em que não existe uma crise de demanda, não existe excesso de demanda”, argumentou Lula.

Os ataques a Campos Neto aconteceram um dia antes da divulgação da decisão do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), que, segundo analistas, vai manter a taxa básica de juros da economia, a Selic, em 13,75%.

Para Fábio Sobreira, sócio e analista da Harami Research, uma forma prática para o governo fazer a taxa de juros cair seria com a apresentação de um arcabouço fiscal crível. “Se o governo confirmar que será um ótimo administrador, que não vai aumentar os gastos, o BC vai entender que terá um parceiro na luta contra a inflação”, disse.  

“Nesse sentido, o BC vai entender que não vai lutar sozinho, por isso, a autoridade monetária abaixaria os juros se o governo sinalizar alguma responsabilidade fiscal”, afirmou Sobreira ao FLJ.

Por outro lado, Campos Neto e sua equipe enfrentam uma pressão para cumprir a meta de inflação, visto que o Conselho Monetário Nacional (CMN) definiu a meta de inflação, em 3,25%, para 2023. A expectativa do mais recente boletim Focus é de que a inflação encerre o ano a 5,95%, muito acima da meta. 

O governo já propôs mudar a meta, mas, segundo Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos, isso não seria bem aceito pelo mercado. “Mudar as regras no meio do jogo não é bom. O melhor que o Banco Central pode fazer é tentar deixar a inflação no nível mais próximo ao teto da meta, que é de 4,75%”, explicou Alves.

Sendo assim, o consenso do mercado é de uma manutenção da taxa de juros a 13,75%. De acordo com Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, o Banco Central deve esperar a aprovação do arcabouço fiscal para sinalizar algum corte de juros. “A autarquia fez isso em decisões anteriores, como quando o Congresso aprovou a reforma da previdência”, comentou. “Desse modo, a pressão política atual terá peso zero e a Selic será mantida em 13,75%”, afirmou.