Por Reuters
A apuração sobre as causas do apagão no Brasil que afetou 30 milhões de consumidores na terça-feira da semana passada está sendo a “mais importante da história” para o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), pois pode mudar paradigmas do setor, disse à Reuters o diretor-geral do órgão, Luiz Carlos Ciocchi, apontando que os indícios são de falha técnica e que não haveria culpa do operador.
O Relatório de Análise de Perturbação (RAP), que irá indicar as verdadeiras causas do apagão que interrompeu mais de 25% da carga de energia do Brasil, deve ficar pronto em 17 de outubro.
O problema foi iniciado a partir da falha em uma linha de transmissão operada pela Chesf, que foi sucedida por uma ainda inexplicada queda de várias outras linhas, desencadeando interrupções no fornecimento de energia em todos os Estados conectados ao Sistema Interligado Nacional (SIN).
É nesse “efeito cascata”, ocorrido em 600 milissegundos, que o ONS se debruça no momento.
“Não consigo ver nada que possa dizer que a culpa é do ONS… Não vejo o ONS como responsável”, afirmou o diretor-geral em entrevista, ao ser questionado sobre possíveis erros de previsão do operador que pudessem ter ocasionado o problema.
“Trabalhávamos naquele dia num regime igual ao dos dias anteriores, num regime absolutamente normal, sem alterar ou mudar nada.”
O clima é de expectativa para a divulgação do diagnóstico final, depois de alguns agentes do mercado de energia levantarem dúvidas sobre planejamento e programação do ONS, principalmente em relação à geração das usinas eólicas e solares no Nordeste.
O diretor-geral do órgão disse que também está ansioso pelo relatório técnico.
“Acredito que vai ser o RAP mais importante da história do ONS… Achamos que vai ser um novo paradigma e trazer muitas lições, ensinamentos e luz para o setor elétrico. Pode mexer com mercado, projetos futuros, equipamentos e até com a expansão do setor”, avaliou Ciocchi, para quem a conclusão pode se tornar ainda uma “referência internacional”.
Ciocchi disse ainda não acreditar nas hipóteses de falha humana ou sabotagem no apagão.
“As indicações são de falha técnica”, disse, acrescentando que já teve encontro com um representante da Polícia Federal para explicar tecnicamente o apagão.
O governo pediu que a PF e a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) contribuissem nas investigações do apagão, depois de o Brasil ter registrado ações de vandalismo em algumas torres de energia no início do ano, supostamente por pessoas contrariadas com o resultado da eleição presidencial.
Após o apagão, o ONS se tornou mais conservador na operação do sistema elétrico. Uma das medidas foi reduzir o carregamento das linhas de transmissão que escoam energia das regiões Norte e Nordeste para os centros de consumo do Sul e Sudeste.
“Estamos reduzindo a quantidade de energia que trafega pelas linhas de transmissão”, explicou Ciocchi. “Estamos trabalhando de 50% a 60% do que trabalhávamos antes do evento”.
Ciocchi acredita que essa redução de carga deve durar no máximo até a divulgação do relatório final das causas do apagão, mas afirmou que isso pode ser calibrado no dia a dia.
NÍVEL DOS RESERVATÓRIOS
O diretor-geral do ONS destacou que o problema da semana passada se tratou de um fenômeno elétrico e não estava relacionado ao suprimento energético, diferentemente da situação vivida pelo Brasil em 2021, quando uma forte escassez de chuvas prejudicou a geração das hidrelétricas e ameaçou apagões e racionamento.
Os reservatórios das usinas operam atualmente com uma boa quantidade de água em pleno período seco, e a expectativa do ONS é chegar ao fim deste período, entre outubro e novembro, com armazenamento confortável, alcançando ao menos 40% no pior dos cenários.
Este cenário deve garantir o acionamento da bandeira tarifária verde (sem acréscimo na conta de luz) até o fim do ano, e cria uma “boa janela de oportunidade” para a agência reguladora Aneel discutir o barateamento das bandeiras, avaliou Ciocchi.