Eleições em Portugal

A vitória brasileira nas eleições portuguesas; coluna de Marcio Aith

A vitória brasileira nas eleições portuguesas; coluna de Marcio Aith

 

São Paulo, 11/03/2024 – Portugal foi às urnas neste domingo e assistiu, impávido, um partido de extrema direita, o “Chega”, subir de 12 para 48 deputados, mudando o equilíbrio de forças no país. Apesar do crescimento, o partido ficou em terceiro lugar, e, apesar da identidade ideológica, não deverá se compor com a Aliança Democrática, de centro direita, que ganhou as eleições. O Partido Socialista, que obteve a segunda maior votação, ficou encurralado entre os dois partidos de orientação conservadora, sem muito espaço para agir.

As eleições portuguesas também tiveram um outro vencedor: o Ipespe, tradicional instituto de pesquisas brasileiro coordenado pelo cientista político Antonio Lavareda. Pela primeira vez, a CNN de Portugal decidiu incluir institutos estrangeiros entre as empresas, que, pelo modelo contratado, fariam o tracking diário para a TV. Resultado: o Ipespe acertou na mosca o resultado de 7 dos 8 candidatos, decifrando com exatidão tendências, a cabeça e o coração do eleitor português. O FLJ entrevistou Lavareda. O resultado segue abaixo.

Contratado pela CNN de Portugal para fazer pesquisas diárias, Ipespe “acertou na mosca”

FLJ – Como foi a seleção que levou o Ipespe a ser contratado para fazer pesquisas na CNN/Portugal?

Antonio Lavareda: Fomos procurados pelo Diretor da emissora, que nos informou que estavam decididos a contratar pela primeira vez um instituto brasileiro para realizar suas “sondagens”, como eles chamam, para sua cobertura da campanha eleitoral. E que também estava em contato com o DataFolha e com a Quaest.

Despertou-nos interesse o fato de que o trabalho consistia num tracking diário para a TV, algo que nossas emissoras nunca utilizaram no Brasil. Ao final do processo fomos escolhidos. E realizamos, modéstia à parte, um belo trabalho, acompanhando uma eleição histórica no país pelas mudanças que produziu no seu sistema partidário eleitoral.

FLJ- Vocês praticamente anteviram o resultado das eleições com uma pesquisa feita com 72 horas de antecedência, mesmo com o risco de mudança de cenário na reta final do pleito. Além disso, na eleição mais fragmentada do país. Teve uma dose de sorte nessa magia?

Lavareda: Não exatamente. A longa experiência estudando e trabalhando em eleições nos ajudou muito. Mergulhamos no exame da conjuntura delicada que o país atravessa, identificamos os principais marcadores a serem acompanhados de perto, e tivemos o máximo de cuidado acompanhando a coleta dos dados e o seu processamento. Ao final, deu tudo certo, graças a Deus

FLJ – Portugal pode ser considerado um país de direita/centro direita? Qual foi a principal preocupação que levou os portugueses levarem um partido de Direita, o Chega, a subir de 12 para 48 deputados?

Lavareda: Portugal dobrou à direita nessa eleição. Não poderia ser diferente. O PS, de centro esquerda, enfrentava o desgaste do ciclo longo, oito anos no poder, mais os efeitos da pandemia e da guerra na Ucrânia. O governo era aprovado por 39% dos eleitores e desaprovado por 56%. E 62% deles diziam nas nossas pesquisas que a economia do país estava “no rumo errado”, contra 29% que afirmavam o contrário. E mais importante, 75% dos portugueses expressavam sentimentos negativos sobre a governação do país pelo PS, incluídos aí metade dos seus próprios eleitores que se diziam “preocupados” com a condução do governo

 

FLJ- O Chega quebra uma tradição de bipartidarismo em Portugal. O que esperar desse novo cenário em que a AD, que governa o país e perdeu as eleições, e o PS não são os únicos protagonistas?

Lavareda- O Chega é um típico partido do movimento internacional de extrema direita populista, hoje forte no mundo todo. Nesse ambiente francamente oposicionista, ele levou sua votação dos 7% de 2022 para 18%. Tornando o sistema tripolar, e estabelecendo uma clara disputa pelo eleitorado à direita. Lembremos que há 50 anos, desde que começou a 3a República portuguesa, após a Revolução dos Cravos, era permanente a bipolarização entre PS e PSD ( que concorreu agora em coligação com o CDS/PP sob o rótulo da AD)só ameaçada duas ou três vezes. A maioria delas pelos comunistas nos anos 80.

FLJ- No Brasil, assim como a CNN em Portugal fez sua seleção técnica ao contratar o Ipespe, a TV Globo também foi a campo visando contratar duas empresas de pesquisa para as eleições municipais deste ano. Vocês participaram dessa disputa?

Lavareda – Não fomos convidados. Se tivéssemos sido ganharíamos com certeza, tal como ganhamos em Portugal( risos). Falando sério, o IPESPE faz pesquisas face à face como os melhores institutos, da mesma forma que realiza pesquisas on-line – aliás foi pioneiro em pesquisas eleitorais on-line nas municipais de 2000. E como é sabido, somos imbatíveis em pesquisas telefônicas, que realizamos desde 1993. Método que é utilizado pela absoluta maioria das empresas de pesquisa eleitoral americanas. O método face à face praticamente não é utilizado lá. Meio obsoleto. E três vezes mais caro. Mas a Globo tem muito dinheiro para gastar(rs).

FLJ- A TV Globo já não é mais a única emissora capaz de cobrir um pleito com profissionalismo. Vocês foram procurados por outros meios de imprensa? Pretendem cobrir as eleições associados a alguma emissora?

Lavareda- Nossa divisão de estatística avançada, o IPESPE Analítica, desenvolveu um agregador inteligente bayesiano* de dados. Essa divisão, reunindo um time de craques em produção e análise de dados, é comandada pelo cientista político Vinícius Alves, também professor do IDP São Paulo. Esse produto foi lançado recentemente no ÍNDICE CNN, que acompanhará as eleições municipais no G100, os cem maiores municípios brasileiros.
Afora isso, o IPESPE tem sido contactado por emissoras regionais interessadas em pesquisas nas suas áreas de abrangência

*Método estatístico baseado no qual o algoritmo agrega as pesquisas conferindo maior peso às últimas, e não fazendo simples médias