Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, é o Malvado Favorito de Lula

RCN é um inimigo perfeito demais para Lula deixá-lo escorrer pelas mãos

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Por Márcio Aith

Dia sim, dia não, RCN, como é conhecido o jovem presidente do Banco Central, vai sobrevivendo sob ataques constantes da intolerância daquele que o detesta.

Lula não consegue passar um dia sem ofendê-lo. Criou o hábito sádico de subestimá-lo a ponto de não mencionar o seu nome enquanto o ataca. Priva, assim, seu Malvado Favorito de sua própria identidade.

Lula, todavia, poderia combatê-lo apenas no campo da política. Com golpes acima do campo privado, dos corredores de Brasília. Poderia, também, ouvi-lo, o que seria provavelmente a forma mais rápida de reduzir os juros. Ou mesmo esquecê-lo, deixá-lo trabalhar.

Ocorre que Lula sabe das dificuldades dos primeiros anos de qualquer novo governo. E, refletindo sobre estes primeiros anos, concluiu que foram os Deuses os responsáveis por colocar Roberto Campos Neto em seu colo.

RCN é um inimigo perfeito demais para Lula deixá-lo escorrer pelas mãos. Só um Malvado Favorito seria indicado por Jair Bolsonaro e Paulo Guedes.

Só um Malvado Favorito foi votar em outubro do ano passado com uma camisa amarela da seleção brasileira, como seu chefe anterior.

Depois, RCN é o primeiro presidente estável do Banco Central. Estável pelos quatro anos de seu mandato no BC, sendo que os dois últimos passam a coincidir com os dois primeiros anos do novo governo.

Lula, portanto, não pode demiti-lo nestes dois primeiros anos de seu mandato.

Por isso, optou por exibi-lo aos quatro cantos como a herança maldita de seu antecessor. Se a economia afundar, a culpa é do Malvado Favorito. Se for um sucesso, dirá que tudo foi obtido apesar de RCN. Para isso, é preciso vilanizá-lo diariamente. E será assim por dois anos.

Por isso Lula esteve o que pode ser provado, por trás das manifestações em que centrais sindicais queimaram bonecos representando Roberto Campos Neto.

Lula, e isso também pode ser provado, mandou seus obedientes soldados atacarem, de forma alternada, o seu Malvado Favorito. Quais soldados? Autoridades de partidos de esquerda, como Rui Costa, Randolfe Rodrigues, Lindbergh Farias, Gleisi Hoffmann, Ivan Valente, Erika Kokay, Zé Ricardo, Jandira Feghali e Guilherme Boulos.

Lula, vejam bem, criou tal balbúrdia com seu Malvado Favorito que convenceu o instituto Datafolha a incluir, em sua mais recente pesquisa, a curiosa pergunta sobre se o presidente está certo ao defender a queda da Selic ou se quem está certo é Roberto Campos Neto.

Com todo o respeito ao Datafolha, essa pergunta é uma das mais bizarras já concebidas por um instituto de pesquisa. É o mesmo que perguntar se o brasileiro prefere receber R$200 ou pagar R$200; enriquecer ou empobrecer. Por que a pergunta foi incluída na pesquisa? Porque Lula manipulou o Instituto, lamento dizer.

Lula é rápido em pensar estratégias e adorava, desde seus tempos sindicais, exercer o que vamos chamar de  “mutualismo discrepante”. E o que é isso? É um conceito para definir um ambiente em que dois adversários, tácita ou expressamente, vivem de acirrar seus conflitos para entusiasmar os seus exércitos.

Como líder sindical, nas negociações coletivas da década de 80, ele e o patronato combinavam índices de reajuste a portas fechadas. Decisão tomada, Lula ia anunciar as novidades para a companheirada, aos berros, xingando os patrões com quem antes tomava, supunha-se, café e falavam muita besteira.

*O conteúdo da coluna é de responsabilidade do colunista e não reflete o posicionamento do FLJ.