Sócio da Corano Capital NYC escreve para o FLJ

Quanto é “suficiente” para você? Coluna de Bruno Corano

Quanto é “suficiente” para você? Coluna de Bruno Corano

“Eu tenho algo que você nunca terá: o suficiente.”

Essa frase foi dita por Joseph Heller, autor de “Catch-22”, durante um jantar elegante com magnatas de Wall Street.

Um dos convidados comentou que o anfitrião da noite, um gestor de hedge fund, havia faturado mais em um único dia do que Heller havia ganhado com todos os seus livros somados.

Heller, com um sorriso calmo, respondeu com essa frase que ecoa até hoje.

Essa resposta simples, mas poderosa, foi eternizada por John C. Bogle em seu livro “Enough” (suficiente)- uma verdadeira obra-prima sobre dinheiro, ética e propósito.

E se você ler este texto até o fim, prometo que vai sair daqui com uma nova forma de olhar para a sua vida financeira.

Uma visão que pode te livrar da ansiedade, te dar clareza e, quem sabe, te trazer paz.

Porque talvez o que você esteja procurando não seja mais. Talvez seja suficiente.

O jogo da suficiência

A maioria dos brasileiros que investe o faz por um motivo bem claro: liberdade.

Mais tempo com a família, mais tranquilidade, uma aposentadoria decente, independência de verdade. Mas aí o jogo vira uma armadilha. Quanto mais o patrimônio cresce, mais o medo aparece.

Mais vontade de acelerar. Mais necessidade de controle.

Mais ansiedade com a próxima crise ou com a próxima alta que “você poderia ter aproveitado”.

Bogle, que viu de perto as engrenagens do sistema financeiro por mais de meio século, alerta: a busca cega por “mais” é o que arruína a maioria dos investidores. Essa busca por mais não acontece só com os super ricos. Ela afeta qualquer um que veja a riqueza como um fim, e não como um meio.

E essa visão distorcida do dinheiro muitas vezes vem embalada em metas vazias: dobrar o patrimônio, bater o CDI, conquistar status social, acumular bens.

Sabe o que esses objetivos têm em comum? Nenhum deles responde à pergunta mais importante: pra quê?

O suficiente que não cabe na planilha

Bogle divide o livro “Enough” em três partes:

O que é suficiente em relação ao dinheiro;
O que é suficiente em relação aos negócios;
O que é suficiente em relação à vida.

Vamos focar na primeira. Para ele, suficiente não é sobre um número mágico. É sobre um ponto de equilíbrio. Um lugar entre a escassez e o excesso. Onde você tem o bastante para viver bem e consegue dizer “não” para o que não importa.

Mas por que é tão difícil chegar lá? Porque vivemos em uma era de comparação constante. Todo mundo parece estar ganhando mais, surfando uma alta que você perdeu, mostrando resultados que você “deveria” estar alcançando.

A vitrine das redes sociais virou um espelho torto onde a imagem do sucesso é inflada e desconectada da realidade. E o pior: a indústria financeira se alimenta disso. Prometem fórmulas, atalhos, ganhos rápidos.

Te empurram produtos caros, com taxas escondidas e riscos disfarçados. Jogam você num jogo de especulação, quando o que você precisa é de investimento de verdade. E aqui entra um ponto que o Bogle sempre defendeu com unhas e dentes: a diferença entre ser um investidor e ser um apostador.

O investidor compra parte de empresas reais, que produzem, inovam, geram valor. Ele pensa no longo prazo, no crescimento orgânico, na segurança. Já o especulador vive de previsões, boatos e palpites.

Ele aposta no que pode acontecer amanhã. Investir, não especular. Um dos pilares do pensamento do Bogle é esse: “Não tente prever o mercado. Seja dono dele.” Ele defendia os investimentos simples, de longo prazo, com foco no valor real dos ativos, e não nas promessas mirabolantes de enriquecimento rápido.

E mais importante: ele batia firme na tecla da minimização dos custos. “Os custos são o inimigo silencioso do investidor”, dizia. Você pode até acertar a mão em uma ação ou fundo.

Mas se estiver pagando taxas de administração, performance ou corretagem desnecessárias, esse lucro vai embora sem você perceber. Bogle acreditava que o caminho para a independência financeira era simples. Era preciso investir cedo e com regularidade.

Os investimentos deveriam ser em ativos eficientes, com o menor custo possível. E, por fim, bastava deixar o tempo fazer o trabalho. Por isso ele foi pioneiro em fundos de baixo custo, como os indexados. E por isso a Vanguard cresceu como cresceu.

A mensagem dele é clara: o que sobra no seu bolso importa mais do que o que está na lâmina do fundo. E é aqui que muita gente se engana: não adianta mirar na rentabilidade se você não entende o risco que está assumindo e os custos que está pagando.

Não existe rentabilidade sem contexto. E não existe liberdade sem controle. O bastante é mais do que o dinheiro

Mas a parte mais impactante do livro Enough não está na discussão técnica. Está no convite que Bogle faz pra gente parar e pensar: “Será que sua vida está te levando para onde você quer chegar? Ou será que você só está correndo atrás de mais, mais e mais… sem saber por quê?”

Bogle propõe uma visão holística da riqueza. Sim, dinheiro é importante. Mas ele é um meio, não um fim. Ele defendia que a verdadeira medida do sucesso está em:

Viver com integridade;
Contribuir com a sociedade;
Cuidar da família;
Trabalhar com propósito;
Buscar sabedoria e justiça.

Em outras palavras, você não mede riqueza pelo tamanho da conta bancária, mas sim pela paz que sente ao deitar a cabeça no travesseiro.

Pela qualidade das relações que constrói. Pela relevância do que você entrega ao mundo. É como se ele dissesse: “você pode ganhar muito dinheiro… e mesmo assim fracassar na vida.”

E sabe o que é mais doido? A maioria das pessoas só percebe isso quando é tarde demais.

E agora?

Se você leu até aqui, deixa eu te dizer uma coisa importante: Talvez você já esteja muito mais perto do “suficiente” do que imagina. Mas se ainda não está, a solução não é correr mais. Não é procurar o próximo “milagre do mercado”. Não é ouvir mais um “especialista” de Instagram dizendo onde você deveria investir.

O que talvez esteja faltando é clareza. Um plano. Um parceiro que te ajude a separar o essencial do ruído. É te ajudar a construir uma carteira sólida, com baixo custo, alinhada com os seus valores e objetivos reais. E, mais importante: é te ajudar a entender o que é “suficiente” pra você.

Eu não acredito em receita pronta. Não acredito em soluções genéricas. Acredito em escuta, personalização e responsabilidade.

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Bruno Corano, é empresário, investidor, economista formado pela UPENN, e sócio-controlador da Corano Capital NYC, maior gestora privada brasileira nos EUA.