Investimentos em ativos reais: estratégia para tempos de crise

Investidores podem procurar países como o Brasil

B3/Divulgação
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Por: Oscar Decotelli

Devido a sua natureza cíclica, a história da economia global está repleta de crises financeiras e instabilidades que testaram a resiliência dos mercados e a capacidade dos países de manterem sua solidez econômica. Em meio a esses períodos, uma estratégia comum dos investidores consiste em buscar ativos considerados seguros, que normalmente estão associados a economias mais desenvolvidas, notadamente aos Estados Unidos. No entanto, é interessante observar que determinados países emergentes têm se posicionado como destinos atraentes para investimentos, mesmo em momentos de turbulência global.

Em termos macroeconômicos, o ano de 2022 foi marcado pela busca incessante pelo controle da inflação. Desde então, alguns países, como os da América Latina, obtiveram sucesso em reduzir o índice de preços, enquanto outros, como os Estados Unidos, ainda lutam (sem êxito) para que as mais altas taxas de juros em décadas sejam capazes de desacelerar sua forte economia. Como consequência, há meses, as expectativas para o mercado americano ficam aquém da realidade, e os agentes aguardam ansiosamente para descobrir quando um movimento do Fed de fato levará a um soft ou hard landing.

Como mencionado anteriormente, é comum que a nação americana seja sinônimo de segurança para grande parte dos investidores. No entanto, essa incerteza, agravada ainda mais por fatores externos – como a Guerra da Ucrânia e no Oriente Médio – faz com que os ativos especulativos proporcionem uma volatilidade pouco desejada ao portfólio, uma vez que acompanham diretamente o impacto das turbulências. 

Dessa forma, em tempos incertos, não é raro que os investidores procurem por países intensivos em ativos reais – como é o caso do Brasil –, para garantir uma segurança que, no momento, não é proporcionada por países com a economia baseada em ativos financeiros. 

Um exemplo tangível, que reflete parte desse contexto, consiste na crise de 2008. Por um lado, enquanto os Estados Unidos passava de um crescimento de 2% em 2007, para 0.1% em 2008, -2,6% em 2009 e 2,7% em 2010, o Brasil apresentou um crescimento de 6,1%, 5,1%, -0,1% e 7,5%, respectivamente, com um aumento considerável no volume de investimento direto estrangeiro a partir do início da crise. 

No caso da economia brasileira, não há dúvida de que esse resultado foi alcançado devido a um conjunto de fatores. No entanto, a predominância dos ativos reais na economia, e especialmente a performance do setor agrícola, corroboraram para que o país chamasse a atenção de investidores globais e passasse pela crise de forma mais suave que outros países desenvolvidos. 

Portanto, diante de significativas incertezas – cujo desfecho não apresenta um horizonte temporal claro para serem dissipadas – e com expectativas de que as mudanças em curso assumam um caráter estrutural em nível global, a natureza cíclica da economia pode ser colocada em prática mais uma vez em um cenário onde o Brasil se encontra ainda mais desenvolvido, estruturado, e consolidado como uma superpotência baseada em recursos naturais.