Quem investe há algum tempo no mercado americano já percebeu que as correções são inevitáveis. Elas podem ser desencadeadas por mudanças na política monetária, tensões geopolíticas, crises inesperadas ou, simplesmente, pela necessidade de o mercado de ajustar excessos. O grande erro que vejo muitos investidores cometendo é tentar prever quando isso vai acontecer, ao invés de se preparar para quando acontecer.
Eu prefiro focar no que posso controlar: minha estratégia. E quando o assunto é enfrentar uma correção de mercado, ter um plano bem estruturado pode fazer a diferença entre entrar em pânico e tomar decisões ruins ou aproveitar oportunidades e sair mais forte do outro lado.
Uma boa carteira sempre precisa ser diversificada e recheada de ativos que tragam segurança para os momentos de turbulência. Já vi muitos investidores sofrerem perdas massivas simplesmente porque estavam concentrados em poucos ativos ou em setores que despencaram juntos. Eu defendo a distribuição de forma inteligente, evitando exposição excessiva a setores mais vulneráveis, como tecnologia e consumo discricionário, que tendem a ser mais afetados quando o mercado esfria. Também gosto de incluir ativos que podem equilibrar o risco, como ETFs diversificados, ouro, títulos do Tesouro americano e até ativos internacionais. Empresas com balanços sólidos, baixo endividamento e geração de caixa previsível também costumam resistir melhor às quedas e se recuperar mais rápido.
Outra coisa essencial que aprendi ao longo do tempo é que liquidez é poder. Vejo muita gente totalmente alocada no mercado, sem um centavo disponível para aproveitar oportunidades quando uma correção acontece. Aí, quando as ações caem, em vez de poder comprar mais a preços descontados, a única opção é assistir ao portfólio derreter – ou pior, ser forçado a vender ativos para levantar dinheiro. Eu sempre mantenho uma reserva de liquidez, seja em T-Bills (títulos do Tesouro), money market funds ou simplesmente em cash, pronta para ser usada no momento certo.
Além da diversificação e da liquidez, também considero quais ativos podem se comportar melhor durante quedas de mercado. Nem todas as ações despencam no mesmo ritmo – e alguns setores são mais resilientes do que outros. Empresas do setor de saúde, como Pfizer e Johnson & Johnson, de consumo básico, como Procter & Gamble e Coca-Cola, e de utilities, como Duke Energy e NextEra Energy, tendem a segurar melhor o impacto porque vendem produtos essenciais. Além disso, ativos como ouro e metais preciosos, muitas vezes vistos como refúgios em momentos de incerteza, podem proteger parte do portfólio contra volatilidade extrema.
Mas, mesmo com uma carteira bem montada, é fundamental evitar um erro comum: tomar decisões impulsivas no meio da tempestade. Vejo muita gente entrando em pânico e vendendo ações de qualidade simplesmente porque o mercado está caindo. Isso acontece porque a maioria investe sem um plano claro, reagindo ao sentimento do momento ao invés de seguir uma estratégia bem definida. Para evitar cair nessa armadilha, sempre acompanho indicadores importantes, como o P/E Ratio do mercado, o VIX (índice do medo) e as taxas de juros do Fed. Se o VIX dispara, por exemplo, geralmente é um sinal de pânico – e esse pode ser justamente o momento de entrar no mercado, não de sair.
Outra coisa que aprendi ao longo dos anos é que empresas sólidas são as que se recuperam mais rápido após uma crise. O mercado pode até jogar o preço delas para baixo no curto prazo, mas se os fundamentos continuam fortes, a recuperação virá. Por isso, prefiro me expor a blue chips, empresas com dividendos consistentes e aquelas que possuem um moat competitivo, ou seja, uma vantagem duradoura sobre seus concorrentes. Ações de empresas altamente alavancadas ou com fluxo de caixa instável são as primeiras a sofrer – e muitas nunca se recuperam.
E quando o pior já passou, chega a hora de rebalancear a carteira. Muitos investidores simplesmente esperam o mercado subir de volta sem ajustar suas posições, mas eu vejo esse momento como uma excelente oportunidade para reavaliar alocações e reforçar ativos que ficaram baratos. Se algumas ações de qualidade caíram mais do que deveriam, eu aproveito para aumentar minha posição. Aplicar a estratégia de Dollar Cost Averaging (DCA) – comprando aos poucos sem tentar acertar o fundo exato – é uma maneira eficaz de aproveitar os preços descontados sem correr grandes riscos.
Agora, existe um ponto que poucos investidores conhecem, mas que pode ser um divisor de águas: as estratégias long-short. Enquanto a maioria das pessoas vê uma correção de mercado como um problema, alguns investidores usam esse momento para ganhar dinheiro com a queda. Estratégias long-short funcionam comprando ações que parecem subvalorizadas e, ao mesmo tempo, vendendo a descoberto ações que estão sobrevalorizadas ou que devem cair. Assim, mesmo em um mercado em baixa, há formas de obter retornos positivos. Um exemplo clássico seria comprar ações de empresas defensivas, como Coca-Cola, enquanto se vende a descoberto ações de empresas altamente alavancadas que podem sofrer mais com juros altos. O problema é que essa estratégia exige conhecimento técnico, controle de risco e um time de experts para monitorar os movimentos do mercado em tempo real.
E é justamente aqui que entra a importância de contar com um advisor profissional. Eu sei que muitas dessas estratégias parecem simples na teoria, mas colocá-las em prática da forma correta exige análise constante, ferramentas avançadas e experiência no mercado. Vejo muitos investidores tentando fazer tudo sozinhos, e a verdade é que a maioria acaba errando na execução. Um advisor com um time especializado pode não apenas ajudar na diversificação e proteção do patrimônio, mas também implementar estratégias sofisticadas, como hedge com derivativos e operações long-short, que podem transformar um período de crise em um momento de ganhos estratégicos.
No fim das contas, o mercado sempre será cíclico. Correções virão, crises acontecerão e ninguém pode evitá-las. Mas a forma como você se posiciona antes que a queda aconteça é o que define seu sucesso como investidor. Se você ainda não revisou sua carteira, não estruturou um plano de ação ou não pensou em como aproveitar oportunidades durante quedas, agora é a hora. Os investidores que se preparam antes são aqueles que não apenas sobrevivem às crises – mas saem delas ainda mais fortes.
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*Bruno Corano é empresário, investidor, economista formado pela UPENN – Universidade da Pennsylvania, sócio controlador da Corano Capital NYC, maior gestora privada brasileira nos EUA.