Bradesco (BBDC4): Pico de inadimplência está próximo, mas melhora da rentabilidade será gradual, diz CEO

Balanço do banco não agradou o mercado e ações caem 4%

Facebook/Bradesco
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Por Bruno Andrade

“É imprudência falarmos que batemos o pico de inadimplência, mas estamos próximos”, disse o presidente-executivo do Bradesco (BBDC4), Octavio de Lazari Júnior, em entrevista coletiva nesta sexta-feira (04).

A fala acontece um dia após o banco ter divulgado o balanço com lucro líquido recorrente de R$ 4,51 bilhões, queda de 35,8% na comparação com o mesmo período do ano passado.

A inadimplência, que tem sido o grande temor dos bancos nos últimos trimestres, assombrou novamente o balanço do Bradesco. A inadimplência acima de 90 dias disparou 2,4 pontos percentuais, indo de 3,5% para 5,9%.

O maior índice ficou com as micro e pequenas empresas, com a inadimplência em 7%. Já o cliente pessoa física apresentou uma inadimplência de 6,7%.

A alta da inadimplência também fez o banco elevar as suas Provisões para Devedores Duvidosos (PDD) em 94,2%, indo de R$ 5,3 bilhões para R$ 10,3 bilhões.

Lazari comentou que estima uma queda da inadimplência no Bradesco até o final de 2023. Segundo ele, um dos motivos para isso seria a melhora do cenário macroeconômico.

“A nossa expectativa é de que com a redução dos juros, os índices de inadimplência tendem a melhorar. O ciclo de redução da taxa de juros está contratado, parece que pode ser em um tamanho de 0,50 a cada nova reunião, ou até maior, como alguns economistas e analistas têm dito, mas essa redução já está contratada”, disse.

O executivo comentou também que está em busca de melhorar a rentabilidade do banco. O retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) do Bradesco caiu 7 pontos percentuais no comparativo anual, saindo dos 18,1% para 11,1%. O presidente do banco se comprometeu a entregar um ROE acima dos 18%.

“Esse retorno será gradual. O nosso compromisso é a cada trimestre poder entregar o melhor resultado, com o melhor ROE, mas por uma questão de cautela, dado esse cenário todo, nós entendemos que esse retorno será gradual”, argumentou Lazari.

Além disso, o executivo explicou que para fazer o banco voltar para a rentabilidade desejada, ele espera apresentar um crescimento, de forma gradual, das concessões de empréstimos, principalmente para as empresas de grande e médio porte.

“O que chama mais atenção é o crescimento maior das concessões para as médias e grandes empresas, por conta de uma necessidade de investimentos, pelo volume maior que essas empresas têm”, afirmou Lazari.

Já as pequenas empresas e pessoas físicas terão um crescimento de crédito menor. Ele comentou que esses dois segmentos estão mais vulneráveis ao cenário macroeconômico e, por isso, o crescimento será menor.

“As pessoas físicas, principalmente as de baixa renda, estão com um endividamento maior, e com o índice de inadimplência forte. Já as pequenas empresas são mais afetadas pela inflação e pela taxa juros. Por isso, temos a expectativa de uma concessão menor para esse grupo”, concluiu Lazari.

Balanço do Bradesco não agradou o mercado

As ações do Bradesco recuavam forte durante o pregão desta sexta-feira (04). Por volta das 11h45min, os papéis do banco recuavam 3,99%, a R$ 15,89. Para os analistas da XP Investimentos e do TC Matrix, terá uma recuperação lenta e mais demorada que a esperada.

Segundo o analista de ações do TC Matrix Carlos Vieira, a disparada das provisões é um motivo importante para o desagrado do mercado. “Enquanto outros bancos já estão reduzindo, o banco segue aumentando sua PDD. Espera-se que seja o topo do ano. É uma PDD muito alta para um trimestre sem casos específicos de inadimplência”, disse.

Ele também comentou que o retorno sobre o patrimônio médio (ROEA) continua muito baixo e que o indicador só terá uma melhora no próximo ano. “Estou precificando o banco com um ROAE de 12,0% em 2023 e 16,0% em 2024”, detalhou Vieira.

Para a XP Investimentos, o banco até pode apresentar uma leve melhor nos próximos trimestres, mas a recuperação só deve acontecer de fato no longo prazo.

“Acreditamos numa curva de melhoria, mas vemos o ponto de inflexão um pouco mais distante, dadas algumas incertezas, incluindo a elevada inadimplência e o baixo crescimento da carteira, que se traduzem em baixos níveis de rentabilidade”, afirmaram Bernardo Guttmann, Matheus Guimarães e Rafael Nobre.

Por esse motivos e receios, a XP Investimentos pede para o investidor não comprar as ações da companhia. No entanto, caso ele opte por esse caminho, o ideal é sempre tomar cuidado.

“Esperamos uma reação negativa do mercado para as ações, mas, por enquanto, não vemos razões para alterar a nossa recomendação neutra”, concluem Guttmann, Guimarães e Nobre.