Socorro ao Credit Suisse traz certo alívio antes de BCE

No Brasil, o mercado amplia cada vez mais a chance de o alívio monetário começar em maio.

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Por Patrícia Lara

As bolsas externas respiram com uma certa dose de alívio e as ações do Credit Suisse se recuperam, ainda que tenham saído das máximas do dia, após o banco suíço anunciar que vai recorrer a uma linha de empréstimo do Banco Nacional da Suíça, o banco central do país, de até 50 bilhões de francos suíços, algo próximo a US$54 bilhões, para fortalecer “preventivamente” sua liquidez. Mesmo assim, a desconfiança não foi debelada e coloca em xeque as expectativas de que o Banco Central Europeu deve promover uma alta forte dos juros na Zona do Euro para conter a inflação resiliente, em seu encontro nesta quinta-feira. No Brasil, o mercado amplia cada vez mais a chance de o alívio monetário começar em maio.

Ainda que a Suíça não faça parte do bloco que compartilha a moeda única europeia, as apostas no mercado monetário em aumento de 0,50 ponto porcentual da taxa de juros na Zona do Euro foi reduzida para 20% ontem, segundo a Reuters. O consenso das projeções coletadas entre os economistas era de ajuste de 0,50 ponto percentual. O anúncio da decisão ocorrerá às 10h15, após uma semana de nervosismo com o colapso do Silicon Valley Bank e do Signature Bank, nos EUA, e com a situação do Credit Suisse, que viu suas ações derreterem 24% ontem na Bolsa da Suíça após o Banco Nacional Saudita, seu principal acionista, rejeitar injetar mais dinheiro na instituição.

Em meio aos desdobramentos no setor bancário, a recuperação dos mercados acionários é contida. O índice Stoxx 600, que reúne as ações europeias, subia 0,24%, perto das 6h54, após derreter cerca de 3% ontem. Os futuros de índices acionários de Nova York mostram desempenhos divergentes, com os do Dow Jones e o S&P 500 no negativo e o do Nasdaq em leve alta.

No câmbio, o euro também repõe apenas parte das perdas da véspera frente ao dólar americano. O dólar cedia 0,39%, cotado a 0,9416 euro. Com o alívio, os investidores refreiam a busca por ativos mais seguros, como os títulos da dívida soberana dos Estados Unidos e da Alemanha, o que motiva alta do rendimento, que segue sentido inverso ao dos preços. O juro do papel de 10 anos do Tesouro americano subia 4,3 pontos-base, a 3,502%.

Além da decisão do BCE, o mercado acompanhará a coletiva da presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, às 12h15.

No mercado de commodities, o contrato futuro do petróleo Brent subia 0,52%, a US$74,21 o barril, ainda que tenha perdido parte do ímpeto inicial, após ter subido 1% mais cedo nesta quinta-feira. Ontem, o impacto da crise bancária levou os contratos do petróleo à mínima desde dezembro de 2021. O minério de ferro sucumbiu nesta madrugada à aversão ao risco e fechou a sessão em queda de 2,8% na Bolsa chinesa de Dalian, pressionado ainda por notícias de que o governo chinês pode reduzir a meta da produção siderúrgica de 2023.

No Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse ontem que o novo arcabouço fiscal será apresentado antes de sua viagem para a China. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), disse que discutirá os detalhes das novas regras fiscais com Lula amanhã. O governo corre contra o tempo para apresentar um substituto do Teto de Gastos que dê confiança ao Comitê de Política Monetária do Banco Central brasileiro, que se reúne nos dias 21 e 22 de março para decisão da taxa básica de juros.

Com o forte ajuste das taxas externas ontem, os juros futuros domésticos derreteram mais de 10 pontos-base na quarta-feira. Entre os contratos de opções de Copom negociados na B3 ontem, a aposta era de 16,1% em queda de 0,50 ponto percentual na Selic em maio, enquanto a probabilidade de corte de 0,25 ponto percentual rondava 19%.

MERCADOS GLOBAIS

O contrato de ouro para entrega em abril cedia 0,32%, a US$1.925,20 a onça-troy.

O minério de ferro cedeu 2,8% na bolsa chinesa de Dalian, a 902 iuanes, ou o equivalente a US$130,75 a tonelada.

O Bitcoin subia 2,13% nas últimas 24 horas, a US$24.885; o Ethereum ganhava 0,41% no mesmo período.

MERCADOS LOCAIS

O índice EWZ, que replica as ações brasileiras no exterior, estava estável no pré-mercado americano.

Os contratos de juros futuros na B3 devem seguir em ajuste das expectativas crescentes de alívio da taxa Selic em maio balizado ainda pela direção das taxas externas. Lote do leilão do Tesouro pode impactar movimento no dia.

DESTAQUES

O Credit Suisse disse, em comunicado, que está tomando medidas decisivas para fortalecer preventivamente sua liquidez, pretendendo exercer sua opção de tomar empréstimos do Banco Nacional Suíço (SNB) de até 50 bilhões de francos sob uma Facilidade de Empréstimo Coberto, bem como uma Facilidade de Liquidez de Curto Prazo, que são totalmente garantidos por ativos de alta qualidade. (Mover)

O CS também anunciou que o Credit Suisse International fará oferta para recomprar certos títulos de dívida sênior com pagamento em dinheiro em uma operação que pode contemplar até aproximadamente 3 bilhões de francos suíços, segundo o comunicado do banco suíço. (Mover)

A oferta de empréstimo ao Credit Suisse veio após as ações do banco despencarem até 30%, na mínima do dia nos mercados europeus ontem, diante de temores de operadores com a saúde financeira da instituição. Em comunicado conjunto, o FINMA, regulador financeiro do país, e o banco central suíço procuraram aliviar os temores de investidores, assegurando que o Credit Suisse atende “aos requisitos de capital e liquidez” impostos a bancos sistemicamente relevantes. (Reuters)

A agência de classificação de risco Moody’s projetou na véspera, em relatório, que o Federal Reserve, banco central americani, deverá elevar os juros em 25 pontos-base na reunião da próxima semana. (Reuters)

O grupo das sete principais economias do mundo, o G7, desejam manter o teto de preço para o petróleo russo no atual nível, de US$60 por barril, de acordo com fontes familiarizadas com o tema. Também de acordo com essas fontes, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, não estava disposto a ajustar as sanções ao petróleo. (The Wall Street Journal)

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse ontem à noite, em frente à sede da pasta, em Brasília, que o presidente Lula agendou para sexta-feira uma reunião para discutir a proposta do arcabouço fiscal. “Depois de amanhã, ele vai saber os detalhes todos para validar os parâmetros, validar o desenho para que possa autorizar a redação do projeto de lei complementar que vai para o Congresso Nacional”, afirmou. (Mover)

A intenção do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) de reduzir o pagamento de dividendos à União pode se chocar com a necessidade do governo de zerar o déficit público em 2024, uma vez que o retorno das estatais contribui para diminuir o rombo nas contas. (Valor)

AGENDA

Seguro-desemprego (Estados Unidos) – O Departamento do Trabalho americano divulgará os novos pedidos de auxílio-desemprego semanais. Divulgação: 09h30. Anterior: 211 mil. Consenso: 205 mil.

Construção de Casas Novas (EUA) – O Departamento de Comércio americano divulgará dados de construção de novas moradias de fevereiro. Divulgação: 09h30. Anterior: -4,50%.

Decisão de Juros (Zona do Euro) – O Banco Central Europeu decidirá a taxa básica de juros. Divulgação: 10h15. Anterior: 3,0%. Consenso: 3,50%.

Leilão do Tesouro (Brasil) – O Tesouro Nacional realizará o leilão de Letras Nacionais do Tesouro e de Notas do Tesouro Nacional-Série F . Horário: 10h30.

Yellen (EUA) – A secretária do Tesouro americano, Janet Yellen, testemunhará perante o Comitê de Finanças do Senado. Horário: 11h00.

Lagarde (Zona do Euro) – A presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, concederá uma entrevista coletiva após a decisão de juros do BCE. Horário: 10h45.

Balanços (Brasil) – A Eztec, a CPFL Energia, a Cyrela, a Ecorodovias, a Energisa e a JHSF reportarão os balanços do quarto trimestre de 2022 após o fechamento dos mercados brasileiros.