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Se Copom fosse hoje, deveria manter Selic no patamar atual, diz ex-diretor do BC

Agência Senado
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São Paulo, 18/04/2024 – Em meio ao recente aumento das incertezas quanto à política fiscal brasileira e ao ´timing´para o início do ciclo de afrouxamento monetário nos Estados Unidos, o Banco Central pode ser obrigado a interromper os cortes de juros por aqui, alertou hoje um ex-diretor da autarquia nas redes sociais.

“Até a próxima reunião, muitas coisas podem/devem acontecer, mas se a reunião fosse hoje, o BC deveria manter a Selic no patamar atual e não fazer nenhum ´forward guidance´”, escreveu no ‘X’, antigo Twitter, o ex-diretor de Assuntos Internacionais do BC, Tony Volpon, que ficou no cargo entre 2015 e 2016.

Para Volpon, o BC liderado por Roberto Campos Neto errou em não aproveitar uma “janela de oportunidade” para acelerar a queda da Selic no final de 2023, e “será um erro maior forçar a queda dos juros agora”.

Ontem, ao participar de evento da XP em Washington, Campos Neto admitiu que há “uma nova rodada de incertezas” desde a última reunião do Copom, com um processo de reprecificação das condições globais, após sinais de que o Fed pode levar mais tempo para começar a cortar juros nos EUA devido à resiliência da atividade econômica.

Embora atribuindo a maior parte do estresse recente ao cenário externo, Campos Neto também citou percepções do mercado de maior incerteza na política fiscal brasileira, e ruídos sobre interferência do governo em grandes empresas como Petrobras e Vale.

O chefe do BC, que deixará o cargo ao final do ano, chegou a admitir que a continuiade de incertezas muito elevadas poderá significar redução no passo de corte de juros. Por enquanto, o BC sinalizou em sua última ata, com o chamado “forward guidance”, que deve haver mais um corte de juros de 0,5% na próxima reunião, mas parte do mercado já avalia que poderia haver redução de ritmo para 0,25%.

Ao comentar o cenário da política monetária no ‘X’, o ex-BC Tony Volpon disse que deveria neste momento valer um princípio: “Corte quando você pode cortar, não quando você quer cortar”.

Em resposta a um comentário sobre o fato de o Brasil continuar no momento com maior juro real do mundo e taxa de inflação sob controle, Volpou comentou que uma maior desvalorização cambial poderia trazer desafios para o controle dos preços.

O dólar disparou cerca de 4% nos últimos dias, operando perto dos R$5,30 com a reprecificação global do ritmo de cortes de juros nos EUA e a piora da percepção sobre a política fiscal no Brasil depois da proposta do governo de reduzir a meta fiscal de 2025 de superávit de 0,5% para déficit zero.

Nos EUA, investidores deixaram recentemente de apostar em cortes de juros iniciando em junho, e hoje grande parte do mercado espera início da flexibilização monetária só em dezembro. O Bank of America, inclusive, alertou que surpresas altistas na inflação ainda poderiam adiar os cortes para 2025.

(LC | Edição: Luca Boni | Comentários: equipemover@tc.com.br)