Mercado está atento às discussões acerca dos impostos federais sobre a gasolina e o etanol

Por Patrícia Lara

A discussão sobre a volta de impostos federais sobre a gasolina e o etanol concentra as atenções do mercado nesta segunda-feira com notícias sobre o embate entre o Ministério da Fazenda, que defende a reoneração para melhorar o resultado fiscal, e a ala política do governo temerária em relação aos efeitos da volta da cobrança sobre a inflação. No exterior, as bolsas europeias e os futuros de Nova York sobem, após o pior desempenho semanal de 2023, diante da postura dura de bancos centrais em relação à inflação, bem como alertas recentes de autoridades do Federal Reserve, o BC americano, sobre a possibilidade de as taxas de juros subirem mais e por mais tempo do que o previsto.

A Medida Provisória que prorrogou a isenção da cobrança de PIS/Pasep e Cofins sobre a gasolina eo etanol perde a validade amanhã. A palavra final sobre o tema cabe ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que tem hoje uma reunião com ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), e o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, às 10h00.

No exterior, o petróleo Brent opera em leve alta de 0,14%, a US$83,23 o barril, após a Rússia indicar que está intensificando o corte da oferta, o que dá suporte à commodity em contraponto à apreensão sobre enfraquecimento da demanda sob o impacto da possibilidade de mais aumento da taxas de juros nos EUA e na Europa.

As consequências da invasão russa à Ucrânia se prolongam e o conselheiro de segurança nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, disse ontem que a China sofrerá sérias consequências caso forneça “ajuda letal” que possa favorecer a Rússia no conflito.

De volta ao Brasil, outro tema central é a escolha do diretor de Política Monetária do Banco Central. O governo cogita os nomes de Luiz Awazu Pereira da Silva e Tony Volpon, ex-diretores do BC na gestão Dilma Rousseff (PT), segundo a Folha. O mandato do atual titular, Bruno Serra Fernandes, expira amanhã.

Já o presidente do BC, Roberto Campos Neto, profere palestra hoje, às 10h00, no Evento IDP Summit – A transformação digital e a democratização do mercado financeiro, promovido pelo Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP), em Brasília.

A agenda doméstica também traz a pesquisa Focus, que deve refletir o impacto do resultado acima das expectativas da prévia do Índice de Preços ao Consumidor Amplo, o IPCA-15, mostrando os desafios que o BC tem para percorrer o caminho de recondução da inflação à meta estipulada pelo Conselho Monetário Nacional.

No exterior, a perspectiva de taxas de juros mais altas nos EUA mantém o Índice Dólar DXY, que mede a variação da moeda americana ante pares, acima de 105 pontos, ainda que faça um leve ajuste em baixa nesta manhã. Na sexta-feira, a persistência da inflação na economia americana foi evidenciada por dados acima do esperado do índice de preços do consumo pessoal. Os rendimentos dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos sobem nesta manhã.

MERCADOS GLOBAIS

-O minério de ferro fechou a sessão na bolsa de Singapura em queda de 3,16%, a US$122,75 a tonelada.

-O Bitcoin recuava 1,87% nas últimas 24 horas, a US$23.842,10; o Ethereum cedia 1,14% no mesmo período.

MERCADOS LOCAIS

-O índice EWZ, que replica o movimento das ações brasileiras no exterior, cedia 0,18% no pré-mercado americano.

-Os contratos de juros futuros na B3 devem seguir voláteis atentos às decisões em relação aos impostos sobre combustíveis e à diretoria do Banco Central.

DESTAQUES

A discussão sobre a volta da tributação federal sobre os combustíveis acontece em um momento delicado. Por dois dias seguidos a gasolina e o etanol perderam a paridade com os preços praticados no mercado internacional. Na última sexta-feira, segundo a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis, a defasagem da gasolina nos polos da Petrobras era de 6%, ou seja, o litro do produto estava R$0,20 mais barato no Brasil do que no exterior, enquanto o diesel estava com defasagem de 8%, ou R$0,28 o litro. Uma reoneração dos combustíveis poderá colocar pressão para um reajuste de preços, em meio a expectativas do mercado com o aumento da inflação. (Mover)

Segundo relatos feitos à CNN Brasil, uma das ideias seria editar uma nova Medida Provisória mantendo uma desoneração parcial, como, por exemplo, em relação apenas à Cide, cujo impacto sobre o preço final da gasolina é pequeno, e poderia aliviar o aumento. O fim completo da desoneração pode pressionar a inflação em março em até 0,70 ponto percentual, segundo cálculos de assessores do governo. (CNN Brasil)

Gleisi Hoffmann, presidente do Partido dos Trabalhadores, afirmou na sexta-feira que “antes de falar em retomar tributos sobre os combustíveis, é preciso definir uma nova política de preços para a Petrobras”. A publicação do tuíte acelerou as perdas das ações preferenciais e ordinárias da petrolífera na sessão. (Mover)

A quantidade de empresas de capital aberto que não são capazes de cobrir as despesas financeiras com a geração de caixa tem crescido e a tendência é que esse número continue em alta ao longo de 2023. É o que mostra um estudo produzido pelo Centro de Estudos de Mercado de Capitais, Cemec-Fipe. (Valor)

Caso as dificuldades do varejo se prolonguem, o Banco Central pode reativar uma linha de liquidez ao sistema, nos moldes do mecanismo que serviu para combater efeitos da crise da Covid-19, segundo uma fonte não identificada. A ferramenta será acionada caso fique claro que as dificuldades enfrentadas por grandes varejistas contagiaram o mercado. (Valor)