Ibovespa opera estável em dia de aversão global ao risco; DIs despencam e dólar cai

Confira os principais destaques do mercado desta sexta (23)

Divulgação/B3
Divulgação/B3

Por Fabricio Julião e Juliana Machado

O Ibovespa se equilibrava entre ganhos e perdas e ameaçava um pregão positivo. Por um lado, pesa sobre o índice o ambiente desfavorável aos ativos de risco devido às perspectivas de novos apertos monetários em economias desenvolvidas; por outro, investidores avaliam a possibilidade de cortes de juros no Brasil, após o Banco Central adotar um tom vigilante com a inflação.

Por volta de 12h30, o Ibovespa tinha alta de 0,22%, aos 119.200 pontos. O volume financeiro era de R$10,5 bilhões. Na semana, o índice sobe 0,36% até agora.

Vale e Petrobras eram as maiores pressões de perdas para o índice. A ON da mineradora recuava 1,47%, a R$65,55, impactada pelo minério de ferro, que fechou em queda de 2,07% na Bolsa de Cingapura, a US$109,35 por tonelada.

Já a PN da Petrobras caía cerca de 2,64%, a R$30,62, também impactado pela baixa das commodities. O petróleo Brent futuro recuava mais de 1%, a US$73,19 o barril.

O índice testa nesta tarde um movimento positivo, de olho na comunicação do Comitê de Política Monetária do BC, que veio mais dura do que o esperado, mas foi compreendida por parte do mercado como uma porta aberta para cortes de juros, dependendo, em especial, das expectativas para a inflação. O maior impeditivo para novas altas, porém, vem do cenário externo, onde novos apertos monetários são dados como certo em economias desenvolvidas.

“Tanto o BC quanto o Federal Reserve deram seus vereditos sobre a política monetária, então, novos indicadores que sinalizem que a inflação está controlada é o que pode ser bem recebido agora e motivar os mercados”, afirma o diretor de investimentos da Mirabaud Brasil, Eric Hatisuka.

As empresas da categoria de consumo cíclico tinham as maiores quedas percentuais do dia. YDUQS ON, -8,59%, Via ON, -5,62%, CVC ON, -4,42%, e MRV ON, -3,92%.

Os setores de Petróleo e Gás, Bens Duráveis e Materiais Básicos também operavam majoritariamente no vermelho.

Do outro lado, empresas de energia se sobressaíam e tentavam levar o Ibovespa a encerrar a semana com saldo positivo, com as ON de Eletrobras, Equatorial, Eneva, CPFL Energia e Engie entre as maiores contribuições para o índice.

JUROS

As taxas dos contratos de juros futuros operavam em queda ao longo de toda a curva. O impacto inicial do comunicado do Copom na última quarta-feira, considerado mais duro em um primeiro momento, já foi assimilado mais ponderadamente. Alguns investidores, inclusive, acreditam que o BC deixou aberta a porta para um início de cortes da Selic ainda em agosto.

Os DIs com vencimentos em Jan/24 e Jan/25 caíam 7,0 pontos-base e 16 pbs, respectivamente, a 13,01% e 11,00%. Já as taxas dos contratos para Jan/27 e Jan/31 recuavam 15,0 pbs e 11,0 pbs, a 10,36% e 10,89%.

Conforme explicitado publicamente em diversas ocasiões, membros do governo não gostaram muito do tom do BC no comunicado do Copom de quarta-feira, quando a autarquia anunciou a 7ª manutenção consecutiva da Selic em 13,75% ao ano. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), inclusive, disse que o presidente do BC, Roberto Campos Neto, “joga contra a economia do país”.

Ainda assim, o tom considerado “hawkish” pelo mercado em um primeiro momento foi perdendo força, e investidores passaram a reiterar as expectativas de que um eventual corte da Selic possa ocorrer ainda em agosto. Isso ajudou a acelerar o movimento de queda dos DIs, renovando as mínimas intradiárias por volta das 12h30.

Nesta sexta-feira, também foram divulgados novos dados que refletem o alívio sobre os preços no Brasil – o que corrobora com a tese de corte de juros em um horizonte próximo. O Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S), da Fundação Getulio Vargas, apontou deflação de 0,24% na terceira quadrissemana de junho, após queda de 0,17% na leitura anterior.

EXTERIOR

O tom mais duro adotado pelo presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, em declarações ao Congresso americano nos últimos dois dias continuavam reverberando no mercado e estimulando a baixa dos três principais índices de ações do país.

Perto das 12h30, o Dow Jones tinha queda de 0,54%, enquanto o Nasdaq 100 recuava 1,21%; o S&P500 operava em baixa de 0,69%. Mantida a trajetória, os três índices fecharão a semana também acumulando perdas, após renovarem máximas na semana anterior.

Continuava no radar dos investidores e inibia a tomada de risco adicional a perspectiva de que o juro básico dos EUA ainda seja elevado neste ano em duas vezes para fazer com que a inflação volte para a meta de 2%. Assim, será preciso, daqui em diante, que a inflação ceda para que as ações encontrem suporte para novas altas.

As preocupações do quanto o aperto monetário nos EUA pode frear bruscamente a economia também foram acompanhadas hoje a partir de dados do índice de gerente de compras (PMI, na sigla em inglês). O PMI composto caiu de 54,3 pontos em maio para 53 pontos em junho, menor nível em três meses, segundo a S&P Global.

CÂMBIO

O real era a única moeda que se apreciava frente ao dólar nesta sexta-feira, dentro de uma cesta de 22 moedas acompanhadas pela Mover. A taxa de câmbio operava perto da estabilidade, em sessão volátil e de apreciação da moeda americana no exterior.

Perto das 12h30, o dólar recuava 0,14%, a R$4,7665. Já o dólar futuro caía 0,14% no mesmo horário, negociado a R$4,774.

O dólar tinha mais um dia de fortalecimento no mundo, devido à maior aversão ao risco global e à busca dos investidores por segurança. O Índice DXY, que mede a variação do dólar diante de outras moedas fortes e com bastante liquidez, subia 0,57%, aos 102.979 pontos.

No início da sessão, a taxa de câmbio brasileira seguiu o exterior e chegou a voltar para o patamar de R$4,80, com desvalorização do real em mais de 0,5%. Entretanto, o movimento foi atenuado, com o diferencial de juros ainda pesando sobre o câmbio, e revertido por volta das 12h15.