Fechamento das bolsas

Ibovespa cai e Wall Street tem ´implosão´ recorde de ganhos por ausência de sinais de fim de guerra tarifária EUA-China

Ibovespa cai e Wall Street tem ´implosão´ recorde de ganhos por ausência de sinais de fim de guerra tarifária EUA-China

São Paulo, 08/4/2025 – O Ibovespa encerrou em queda, em linha com os índices acionários de Wall Street na sessão desta terça-feira, em mais um dia de volatilidade significativa, com operadores atentos à confirmação de tarifa adicional de 50% dos Estados Unidos sobre a China, resultando em uma tarifa cumulativa de 104%, que entrará em vigor a partir das 0h01, de acordo com a Casa Branca.

Os índices Dow Jones, S&P500 e Nasdaq 100 fecharam em quedas de 0,84%, 1,57% e 2,15%, respectivamente. As Treasuries yields de dois anos recuaram 6,2 pbs, a 3,726%, enquanto as de dez anos subiam 7,8 pbs, a 4,279%. O Índice Bovespa recuou 1,32%, aos 123.931 pontos.

Uma recuperação vivida pelos índices acionários no começo do dia desmoronou no início da tarde desta terça, horas após a Casa Branca confirmar que a China não respondeu a um pedido dos EUA de se manifestar até 13h00 sobre retirada as tarifas de retaliação impostas na sexta-feira, de 34%. De acordo com o Dow Jones Market Data, foi a maior destruição de ganhos já vista para o Nasdaq Composto ao menos desde 1982. Já para o S&P500, foi a maior implosão de ganhos desde 2008. Os índices ensaiavam uma forte recuperação, com o Nasdaq Composto avançando até 4,57% na sessão e o S&P500, 4,05%, antes da implosão vista.

Com isso, os EUA irão impor ao país asiático, a partir desta madrugada, tarifa adicional de 50% – que se somará à alíquota cumulativa de 54% anunciada anteriormente. A porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, afirmou que Trump crê que a China “tem de fazer um acordo com os EUA”.

“Se a China fizer um acordo, Trump será gentil”, afirmou Leavitt em conferência com jornalistas. O noticiário, porém, pesou sobre o sentimento dos investidores globais, que até então favoreciam uma sessão de recuperação para os índices acionários – após realizações significativas vistas nos últimos três pregões.

Em meio à contínua volatilidade, as Treasuries yields tiveram uma sessão de oscilações, com os rendimentos de dez anos operando em firme queda ao fim do dia. De acordo com a Bloomberg, operadores têm questionado o papel das Treasuries como ativo de refúgio – e veem “alternativas críveis” aos bonds dos EUA.

Cresce a ideia, entre traders, de que o governo Trump possa minar a demanda estrangeira por Treasuries, sob uma série de fatores que vão desde o questionamento da tese de excepcionalismo dos EUA, até visão de crise de confiança sobre o dólar americano.

Os estrangeiros, cuja maior parte de alocação em Treasuries concentra-se em vencimentos longos, também podem produzir impactos relevantes sobre a curva de juros caso haja uma menor demanda pelo ativo, ou até rotação. De acordo com a Bloomberg, caso haja uma menor demanda por Treasuries – a curva de juros pode inclinar.

Internamente, operadores também acompanharam contínuas críticas do CEO da Tesla, Elon Musk, a um dos principais assessores econômicos de Trump, Peter Navarro. Na véspera, em entrevista à CNBC, Navarro classificou Musk como um “montador de carros” após este sinalizar apoio ao livre comércio com publicação de vídeo de Milton Friedman no X, nesta semana.

Navarro também afirmou que a maior parte das peças que a Tesla possui em sua planta fabril no Texas vem do Japão e da China – como baterias. Musk, em contrapartida, disse que a Tesla é a montadora com a maior integração verticalizada de produção nos EUA – com maior percentual de peças proveniente dos EUA.

Em resposta a uma publicação no “X”, Musk pontuou que Navarro é “mais burro” que um saco de tijolos, e o apelidou de “Peter Retardado”. Musk também disse que Navarro é um “verdadeiro idiota”, e que os comentários dele sobre a montadora são “comprovadamente falsos”.

No front monetário, o presidente do Federal Reserve de Chicago, Austan Goolsbee, disse durante a tarde que as tarifas anunciadas pelo presidente Trump são muito maiores do que as modeladas pela autarquia, e que não está claro o quão rápido os custos mais altos serão repassados aos consumidores.

Pouco depois, a presidente do Fed de São Francisco, Mary Daly, afirmou que estava preocupada com a possibilidade de alta na inflação resultante das tarifas de Trump. Também de acordo com ela, não há clareza em relação aos impactos da política comercial, o que gera maior incerteza e obriga a autarquia a “andar mais devagar”.

Em linha com o último discurso do presidente do Fed, Jerome Powell, Daly afirmou que, em sua visão, as taxas de juros americanas se encontram em patamar “modestamente restritivo”.

IBOVESPA

O Índice Bovespa encerrou com recuo de 1,32%, aos 123.931 pontos. O volume foi de R$21 bilhões, acima da média dos últimos 50 pregões, de R$16,8 bilhões.

Os vértices ao longo da curva de juros encerraram em alta de até 10 pontos-base, com o mercado avaliando o resultado do leilão de títulos pós-fixados (NTN-B e LFT) que foi colocado integralmente no mercado com uma oferta reduzida. Foram vendidos 1,2 milhões de NTN-B e 900 mil LFT.

Ao fim da tarde, o dólar futuro operava em alta de 1,38%, cotado a R$6,019 com o real apresentando o pior desempenho ante o dólar em uma cesta de 23 divisas acompanhadas pela Mover. O índice Dólar DXY recuava 0,53%, aos 102,92 pontos.

Operadores avaliaram dados divulgados pelo Banco Central no relatório de Estatísticas Fiscais, que mostrou o setor público consolidado – formado por União, Estados, municípios e estatais – registrando déficit primário de R$19,0 bilhões em fevereiro. O déficit primário caiu 61,0% em relação ao mesmo mês de 2024.

O déficit em fevereiro foi puxado pelo governo central, que teve um saldo negativo de R$28,5 bilhões nas contas. Os governos regionais (Estados e municípios) tiveram superavit de R$9,2 bilhões. As estatais tiveram saldo positivo de R$299 milhões.

Já o resultado nominal do setor público consolidado considera o saldo das contas e as despesas com os juros da dívida. Em fevereiro, o déficit nominal foi de R$97,2 bilhões.

No âmbito corporativo, destaque para a forte queda das ações da Magazine Luiza, após Citi rebaixar a recomendação para “venda” e cortar o preço-alvo de R$8,00 para R$7,70, devido às expectativas de um cenário difícil no curto prazo.

Os analistas do Citi afirmam que “antecipar um ciclo de demanda positivo parece excessivamente otimista neste momento” para Magazine Luiza. “Estamos cautelosos com o macro brasileiro (demanda), que deve ser impactado por juros elevados pelo menos até o ano que vem”.

Na ponta positiva, CPFL subiu após diretores da Aneel sinalizarem voto favorável ao repasse às tarifas de um pagamento de R$4,6 bi devido pela CPFL Paulista à CPFL Brasil, do mesmo grupo. Para analistas citados pela Bloomberg, se confirmada a decisão, haveria espaço para mais dividendos.

Ao fim da sessão, as principais detratoras da sessão foram as ON da Vale e as ON e PN da Petrobras, que recuaram 5,48%, 3,56% e 3,20%, respectivamente.

Os papéis ON da Magazine Luiza, da CSN e da Cosan, lideraram entre as quedas percentuais, cedendo 13,41%, 5,70% e 5,99%, na mesma ordem.

Na ponta positiva, destaque para as ON da CPFL, da LWSA e da Caixa Seguridade, que avançaram 3,39%, 2,67% e 2,58%, nesta ordem.

Nos mercados de commodities, futuros do petróleo Brent para entrega em junho recuavam ao fim do dia 3,68%, a US$61,86 por barril, acelerando as perdas e operando nas mínimas de quatro anos, à medida que os temores de recessão exacerbados pelo conflito comercial entre os EUA e a China, as duas maiores economias do mundo, apagaram a recuperação dos mercados acionários.

Os futuros do minério de ferro recuaram 3,15% na última madrugada na bolsa de Dalian, pressionados ainda pela batalha comercial entre EUA e China. Com a queda, o minério atingiu o menor nível desde setembro do ano passado, cotado a US$101,04 por tonelada.

(LB + GP | Edição: Luciano Costa | Comentários: equipemover@tc.com.br)