Por Artur Horta
Gestoras estão com as carteiras de ações calibradas para aproveitar um muito esperado ciclo de queda de juros no Brasil, previsto para a partir do segundo semestre, que pode impulsionar vários papéis “amassados” ao longo dos últimos dois anos e levar a rentabilidade da bolsa de valores a superar outros ativos no país.
Ações de empresas nos setores de serviços, shopping centers, energia, infraestrutura, educação e alguns bancos “têm muito espaço para andar”, disse à Mover o gestor de Renda Variável da AF Invest, Leandro Saliba.
Apesar do otimismo crescente com o mercado brasileiro, o potencial de redução das despesas financeiras de companhias, devido à recente queda da inflação e futuros cortes na taxa, ainda não está completamente precificado, avaliou ele.
A Simpar, por exemplo, hoje a principal posição do fundo gerido por Saliba, tem cerca de R$30 bilhões em dívidas e pode economizar R$1,5 bilhão por ano no pagamento de juros com uma Selic menor, explicou.
Com a queda dos juros no radar, ações de setores que compõem o índice Small Caps tendem a ter desempenho superior às do Ibovespa, afirmou o gestor da Hoa Asset Management, Carlos Castrucci.
“É isso que temos buscado fazer com a carteira, alocando menos nos setores financeiro e commodities, e mais em consumo discricionário, bens de capital e construção civil. O desempenho do mercado está muito vinculado ao que acontece com a taxa Selic”, afirmou.
Como boa parte dos investidores e economistas, Castrucci espera que o Comitê de Política Monetária do Banco Central dê algum sinal sobre a queda de juros após reunião que ocorre hoje, ou que o Copom ao menos deixe de falar em possível retomada do ciclo de alta, sobretudo pela redução da inflação local nos últimos meses.
“No fundo em que estou fazendo a gestão, olhamos muito o ciclo de mercado para fazer alocação setorial. E quando você fala em movimento de taxa de juros, ela é uma das variáveis mais fortes para esse ciclo”, disse Castrucci. No ano, o Small sobe 14,50%, enquanto o Ibovespa avança 8,77%
Para Ricardo Almeida, head de Renda Variável da ASA Investments, além da Selic mais baixa, as empresas listadas podem se beneficiar à frente de quedas de custos, devido ao recuo da inflação, e da redução da alavancagem, o que impulsionaria a bolsa rumo a um desempenho melhor que títulos do governo indexados à inflação (NTN-Bs longas), por exemplo.
Almeida, no entanto, entende que “já tem bastante coisa boa nos preços dos ativos”. Por isso, além das notícias positivas e ventos favoráveis, o portfólio precisa contar com empresas de qualidade para ter um bom desempenho.
“Gostamos bastante de bancos nesse cenário. Com a inflação menor, a inadimplência cai, então os bancos revertem as provisões e, consequentemente, a rentabilidade sobre o patrimônio líquido, ROE, aumenta”, disse.
Em outros setores, o gestor citou uma preferência pelas ações de Raia Drogasil, Hypera e Grupo Mateus. “Elas têm alavancagem, mas têm crescimento e vão se beneficiar de uma economia mais forte com inflação mais controlada”, disse.
Do lado dos bancos de investimento, o Itaú BBA apontou que os papéis da operadora da bolsa, a B3, do grupo de logística JSL e de empresas de shoppings, como Aliansce Sonae, estão entre as apostas para investidores de olho no movimento da Selic, segundo relatório recente.
Já estrategistas do JPMorgan consideram que MRV, Bradesco, Rede D’Or, Vamos e XP podem ser boas apostas para o cenário. A tese de investimento no Brasil é “bastante clara, simples e fácil de entender – juros mais baixos e valuations baratos, não há necessidade de se aprofundar em políticas ou reformas complicadas”, escreveu o maior banco dos Estados Unidos, em relatório a clientes.