Por Bruno Andrade
O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) vai manter a Selic em 13,75% ao ano na reunião desta quarta-feira (21), mostra levantamento do TC Consenso dessa última semana. Além da manutenção do juros na próxima reunião, a maioria dos analistas acredita que o corte de juros deve acontecer na reunião de agosto.
Para Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, desde a última reunião do Copom, realizada no início de maio, a inflação continuou dando sinais de arrefecimento.
“O IPCA de maio registrou uma desaceleração de 0,61% para 0,23% em maio. O principal motivo foi preços de serviços, dos bens industriais, da média dos núcleos e do índice de difusão – todos monitorados de perto pelo Banco Central (BC). Ou seja, a queda da inflação corrente dá sinais importantes para a autoridade monetária”, explicou Sung.
Ainda assim, o especialista comentou que o IPCA deve acelerar no segundo semestre e esse seria um dos fatores para o BC não cortar os juros de forma dão abrupta.
“O IPCA voltará a subir no segundo semestre, pois os efeitos das desonerações tributárias sobre os combustíveis e energia, que ocorreram no ano passado, irão sair da base de cálculo. Mas de qualquer forma, a composição da inflação está melhor do que o esperado”, afirmou Sung.
Sendo assim, o especialista espera que o primeiro corte de juros aconteça em agosto na proporção de 0,25%. “A nossa projeção é que a taxa encerre o ano em 12,5%”, comentou o analista.
Heitor Martins, estrategista de investimentos da Nexgen Capital, também reforça a tese de continuidade da taxa a 13,75% ao ano nesta quarta-feira. “Mesmo que a inflação tenha desacelerado nos último meses, essa melhora é apenas de forma moderada, o mercado ainda teme um repique de inflação caso o corte seja feito agora”, disse a Martins.
A Selic está em 13,75% desde agosto de 2022. O Banco Central, que é gerido por Campos Neto, elevou a taxa para esse patamar para a controlar a inflação do último ano do governo Bolsonaro, que chegou a 12,13% no acumulado de 12 meses em abril de 2022.
Sem nenhuma perspectiva de controle das contas públicas no governo Lula, o BC manteve a Selic no mesmo patamar para inibir uma possível alta de preços. O relatório do BC, que revela as expectativas do mercado para os indicadores macroeconômicos, mostrou que as estimativas indicam que a Selic deve terminar o ano a 12,25%.
Campos Neto tem sido pressionado para cortar Selic
O presidente do Banco Central tem sido pressionado por todos os lados para fazer cortes na Selic. Na última segunda-feira (19), o presidente Lula fez declarações provocativas para Campos Neto baixar os juros. “O presidente do Banco Central precisa explicar por que mantém os juros em 13,75% em um país com inflação anual de 5%”, afirmou.
Lula já havia deixado claro que não se agrada com os juros na casa dos dois dígitos. “A inflação está baixando, o dólar está caindo, agora os juros precisam cair”, disse o petista.
No último dia 12 de junho foi a vez presidente do conselho de administração do Magazine Luiza (MGLU3), Luiza Trajano. Ela comentou que já ligou 20 vezes para o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reduzir os juros. E que se fosse por ela, “ligaria mais 20 ou 30 vezes”.
Campos Neto estava presente no evento, mas negou afirmar se já baixaria os juros na próxima reunião e que o voto dele é apenas um no total de nove. Trajano cutucou o presidente da autarquia ao exigir um corte mais significativo “Baixa os juros, mas não é 0,25 (ponto percentual), não, que é muito pouco”, disse.
A empresária participou e o presidente do BC participaram de evento do Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV). Após a leve tensão, a assessoria de imprensa de Campos Neto disse que ele tinha um outro evento para participar e o presidente do BC deixou o local. Trajano rapidamente retrucou. “Na hora que aperta, a assessoria manda recado”, disse ela fora dos microfones.
Campos Neto disse que voltaria ao evento daqui a um ano e prometeu que o cenário seria totalmente diferente. Trajano voltou a cutucar. “Vai ter muita gente quebrada até lá”, disse a dona do Magalu.