Especial FOMC

Fed deve manter juros inalterados em meio às incertezas renovadas com retorno de Trump

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Brasília, 27/1/2025 – O Federal Reserve deve manter a taxa-alvo Fed Funds inalterada na decisão desta quarta-feira no intervalo entre 4,25% e 4,50%, interrompendo uma sequência de três cortes consecutivos de juros ao longo dos últimos quatro meses, em um ambiente de acomodação do mercado de trabalho e incertezas quanto à trajetória de desinflação local em direção à meta, na esteira da posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos. 

O Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) iniciará amanhã sua reunião de dois dias, e divulgará a decisão na quarta, às 16h00. O chair do Federal Reserve, Jerome Powell, falará à imprensa às 16h30, quando pode oferecer novas pistas para a possibilidade de retomada de corte de juros pelo colegiado, bem como sobre os efeitos das potenciais tarifas de Trump sobre os modelos econômicos do banco central. Não haverá divulgação do relatório trimestral “Dot-Plot” nesta semana.  

A decisão de Trump de restringir a imigração para os EUA, com um aumento da deportação de imigrantes ilegais, e ameaça ao Canadá e México de imposição de tarifas de importação a partir do próximo sábado, 1º de fevereiro, devem ser alvo de questionamento a Powell, com potenciais efeitos sobre a oferta de mão-de-obra no país e temores de uma reaceleração dos preços.  

São esses os desafios que Powell encontrará em uma coletiva de imprensa que se segue à decisão, em que terá de navegar sobre as incertezas do início de mandato do republicano.  

“A decisão de janeiro do FOMC não deve fornecer muita informação nova. Na coletiva de imprensa, ouviremos pistas sobre potenciais novos cortes de juros se observarmos uma desinflação maior que esperada adiante, e como o colegiado pretende navegar a incerteza sobre potenciais aumentos de tarifas e seus impactos sobre os preços”, afirmaram os economistas do Goldman Sachs, liderados por Jan Hatzius, em relatório.  

Powell também deverá ser questionado sobre o atual nível de restritividade da taxa-alvo Fed Funds. Em dezembro, o núcleo da inflação de preços ao consumidor registrou alta de 0,2% na base mensal – desacelerando ritmo de alta pela primeira vez em seis meses, em uma leitura construtiva para a métrica. No entanto, no “Dot-Plot” de dezembro, mediana de projeções do colegiado apontou para dois cortes de juro em 2025, ante consenso de mercado, de três, estressando os índices na ocasião. 

O Goldman Sachs antevê que as próximas leituras da inflação ao consumidor serão menores, na base anual, o que poderá favorecer um ambiente de alívio monetário adicional pelo Fed, embora isso não seja necessariamente exigido, pelo ambiente econômico. No entanto, uma reversão do alívio no mercado de trabalho visto em 2024, a imposição de tarifas pelos EUA ante parceiros comerciais, e um crescimento da atividade econômica acima do consenso, podem turvar o quadro otimista para a trajetória de corte de juros adiante. 

“Alguns membros do FOMC podem estar relutantes em reduzirem os juros, seja pela incerteza sobre o que está por vir, como também pelo temor de que o alívio monetário possa ser visto como responsável por uma reaceleração da inflação em razão das tarifas”, considerou o Goldman, que tem como cenário-base dois cortes de juros de 25 pontos-base neste ano, nas decisões de junho e dezembro. 

A autoridade monetária, se depara, no entanto, com um desafio difícil de quantificar: as incertezas e imprevisibilidades de Trump, um líder e negociador que promete gerar volatilidade aos mercados em seu segundo mandato. Na quinta, Trump afirmou perante o Fórum Econômico Mundial de Davos que demandaria que os juros recuassem “imediatamente”, em uma estratégia de pressão aplicada contra Powell desde o seu primeiro mandato, entre 2017 e 2021. 

No entanto, na visão do especialista em Fed do Wall Street Journal, Nick Timiraos, o que difere o pedido de Trump agora por juros mais baixos, ante as súplicas no primeiro mandato, é o reconhecimento de que algo a mais tem de ocorrer para justificar Fed Funds menores. Isso seria possibilitado por menores preços de energia nos EUA, que levariam a uma maior desinflação local, segundo Trump, apegando-se à sua promessa de dominância energética. 

Essa estratégia, no entanto, levanta dúvidas em razão da capacidade econômica de petroleiras locais de realizarem extração adicional de barris de petróleo e gás. Trump e seu indicado ao posto de secretário do Tesouro, Scott Bessent, defendem a extração adicional de até três milhões de barris de petróleo por dia.    

O economista-chefe da BNY Investments, Vincent Reinhart, ex-membro do estafe do banco central, também pontou haver neste momento muitos “elementos em movimento” no front econômico e político. “(O FOMC) ir muito além pode denotar um movimento político. Mas se atrasar também pode enganar o público sobre o que esperar se bens importados se tornarem mais caros ou se a força de trabalho tiver menos trabalhadores que em outro momento.” 

O Bank of America antevê a escolha de “máxima opcionalidade” pelo Fed na decisão de janeiro, em meio a um cenário de “muita incerteza”, classificando a reunião desta semana como apenas para “preencher” o calendário de encontros. O estrategista do BofA, Mark Cabana, também avaliou que o mercado de trabalho parece ter se estabilizado em torno do pleno emprego desde a decisão de dezembro, e antevê manutenção de juros nesta semana.