Prévia do FOMC

Fed deve manter juros, em modo 'esperar para ver', diante de crescentes incertezas sob Trump

Fed deve manter juros, em modo 'esperar para ver', diante de crescentes incertezas sob Trump
Grok/X

Brasília, 17/3/2025 – O Federal Reserve deve manter a taxa-alvo Fed Funds inalterada na decisão desta quarta-feira, no intervalo entre 4,25% e 4,50%, na segunda manutenção consecutiva, em modo de “esperar para ver”, ou “paciência ante pânico”, segundo analistas, em meio à crescente incerteza dos investidores quanto à política comercial do governo Trump e seus efeitos sobre os preços e crescimento, além da recente correção significativa vista nos mercados acionários.

O Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) iniciará amanhã a sua reunião de dois dias, e divulgará a decisão na quarta, às 15h00. O chair do Fed, Jerome Powell, falará à imprensa às 15h30, quando deverá ser confrontado com questionamentos envolvendo a correção nos mercados locais, emboradeva se esforçar para desvincular o comportamento das bolsasda atuação do Fed. Também haverá divulgação do relatório trimestral “Dot-Plot”.

Em sua última aparição pública, no início deste mês, Powell afirmou que a economia americana estava “bem”, e que o banco central poderia se colocar em modo de espera. No entanto, as incertezas dos investidores quanto à política comercial dos EUA, em meio às idas e vindas de Trump, resultaram em uma crescente aversão ao risco que deteriorou o sentimento do consumidor e, em última instância, desencadeou temores de uma eventual recessão econômica.

“Podemos ter quase certeza de que o Fed não irá cortar os juros na próxima quarta pela simples razão de que as autoridades não sinalizaram um corte, e o Fed não gosta de surpreender os mercados. E, apesar dos temores do mercado a respeito do crescimento, investidores não devem esperar muito de orientação sobre os juros”, afirmou o analista para economia dos EUA da Gavekal Research, Will Denyer.

Para a chefe de macroeconomia do UBS Global Wealth no Brasil, Solange Srour, “o Fed não será a boia” de salvação do mercado, uma vez que Powell ainda não deve sinalizar total disposição para agir, devido às incertezas sobre inflação futura. “Com o mercado extremamente volátil, Powell terá a difícil missão de não se tornar mais um fator desestabilizador”, escreveu ela, no Linkedin.

Desde a reunião de janeiro, a Treasury yield de dois anos – mais sensível à política monetária – chegou a recuar cerca de 45 pontos-base, na esteira de dados apontando para desaceleração econômica. Mais cedo, as Vendas no Varejo de fevereiro avançaram 0,2%, na base mensal, abaixo do consenso. Os dados para janeiro também foram revisados para baixo, apontando queda de 1,2% na base mensal – na pior leitura desde julho de 2021.

Os dados somam-se à leitura preliminar do sentimento do consumidor de março, na sexta, que recuou ao menor nível desde novembro de 2022, enquanto as expectativas para a inflação de longo prazo avançaram ao maior patamar desde 1993 – sob crescentes temores dos efeitos sobre os preços locais oriundos das tarifas prometidas por Trump ante parceiros comerciais.

‘DOT-PLOT’

Na esteira de maiores riscos de reaceleração dos preços, acompanhada de uma interrupção do crescimento econômico, operadores aguardam com maior expectativa o relatório trimestral do “Dot-Plot”. De acordo com a Bloomberg, investidores anteveem uma elevação na mediana de projeções para o núcleo da inflação local, acompanhada por uma revisão baixista para o crescimento econômico.

“As projeções do ‘Dot-Plot’ e a distribuição de riscos devem refletir estagflação: um menor crescimento e maior inflação”, escreveram analistas do Bank of America em relatório a clientes. A instituição também descarta qualquer corte da taxa-alvo Fed Funds no curto prazo.

Para o BofA, não parece “prudente” que o Fed assuma viés de que o impacto das tarifas sobre os preços na economia local seja “transitório”, em meio ao aumento das expectativas de inflação.

Segundo a Bloomberg, Powell deve se mostrar reticente em garantir aos investidores que o banco central agirá ao menor sinal de tropeços da economia sem uma leitura-chave: clara evidência de que a inflação caminha, de forma sustentável, em direção à meta perseguida de 2,0%, além de expectativas de preços ancoradas.

As leituras cheias da inflação ao consumidor e ao produtor de fevereiro mostraram tese construtiva para os mercados, em um primeiro momento, embora componentes que também abastecem a métrica favorita de preços do Fed – o PCE – tenham seguido firmes.

Ou seja, somando-se às expectativas de longo prazo do consumidor nas máximas em três décadas, o Fed tem pouco espaço para impulsionar a economia até que a fraqueza reportada passe a ser exibida no mercado de trabalho, avaliou o chefe de economia para os EUA do Deutsche Bank AG, Matthew Luzzetti. Ele não aposta em corte de juro pelo FOMC neste ano.

TRANSIÇÃO OU RECESSÃO?

Até o momento, o governo Trump pouco tem contribuído para aliviar temores de investidores quanto a uma potencial recessão econômica. De acordo o republicano, a economia local vive um período de “transição”, enquanto o seu secretário do Tesouro, Scott Bessent, disse ser “normal” a correção vista nos mercados.

“No longo prazo, se impormos uma boa política de tributos, desregulação e segurança energética, os mercados performarão bem”, disse Bessent à NBC no domingo.

De acordo com o estrategista-chefe para macro da Mizuho Securities, Dominic Konstam, Powell terá de ao menos enviar algum sinal aos investidores de que o banco central tem observado as preocupações em torno das perspectivas econômicas.

“A reunião do FOMC de março certamente será toda sobre incerteza política. O Fed certamente irá se manter à espera, enfatizando a necessidade de paciência ante pânico”, complementaram os analistas do BofA em relatório.

(GP | Edição: Luciano Costa | Comentários: equipemover@tc.com.br)