Por: Equipe Mover
São Paulo, 31/1/2025 – O mercado financeiro tem visto uma “tentativa de antecipação” de discussões sobre eleições presidenciais no Brasil, afirmou o economista-chefe da Meraki Capital, Rafael Ihara, que vê potencial para um “rali astronômico” se houver sinalizações de que o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não concorrerá ao pleito ou poderá perder a disputa.
Em participação no MoverCast, live promovida pelo TC Investimentos, ontem, Ihara avaliou que o mercado precifica hoje a continuidade de uma política fiscal “caótica”, e que os ativos devem performar positivamente a partir do momento em que os agentes passem a projetar maior probabilidade de vitória da oposição no pleito de 2026.
“O juro real de dez anos encontra-se em um patamar acima do observado na Dilma, em um cenário de estresse. Então o que está precificado no mercado é 80% a 90% de chance de continuidade da política desse governo, com essa política econômica de certa forma irresponsável. Eu achava que esse tema (eleições presidenciais) só começaria a ser discutido mais para o segundo semestre, mas existe uma certa tentativa de antecipação do tema. O Lula falando sobre isso desde a reunião ministerial, estamos discutindo pesquisas eleitorais”, reconheceu Ihara.
Em um cenário em que Lula desista de concorrer ao pleito, seria plausível observar um “rali astronômico” à nível local, com apreciação do real ante o dólar, fechamento da curva de juros e destravamento da bolsa, disse Ihara.
“O (André) Esteves (do BTG) falou sobre isso ao fim do ano passado. Um cenário Tarcísio contra Haddad é um rali astronômico. Então acho que há um cenário potencial de melhora para ativos locais com esse tema de eleições 2026, mesmo que você não tenha certeza que a oposição irá ganhar. Só de colocar probabilidade maior dela ganhar, isso abre espaço para melhorar tudo, juros, câmbio, bolsa.”
Ihara também não aposta em alguma medida fiscal “razoável” a ser apresentada pelo governo Lula até 2026. “Resolver a situação fiscal parece ser tarefa que ficará para o próximo governo.”
Também na visão do gestor, o mercado seguirá observando se dados da atividade econômica fizeram topo em dezembro. “Parece que de fato já passamos por momento mais forte da atividade, e a confirmação dessa atividade econômica mais fraca será importante para a continuidade dessa dinâmica de fechamento da curva de juros.”
As últimas leituras de produção industrial, das vendas no varejo restrito e do volume real do setor de serviços mostraram retração na base mensal em novembro, mostrando sinais incipientes de desaceleração.
TRUMP E EUA
Nos Estados Unidos, Ihara diz não se preocupar com a inflação local, ao citar o patamar atual de preços do petróleo, e também uma contínua desaceleração dos preços de habitação. Ele vê espaço para o Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) seguir cortando os juros. Na quarta-feira, o FOMC manteve a taxa-alvo Fed Funds inalterada no intervalo entre 4,25% e 4,50%, com seu chair, Jerome Powell, pontuando querer observar “progresso adicional” da inflação.
Também em sua visão, o Federal Reserve não necessariamente terá de reagir à eventual imposição de tarifas comerciais pelo governo de Donald Trump ante outros parceiros comerciais. “Existe a possibilidade de, ao implementar as tarifas, o dólar fica mais forte, e você de certa forma diminui o efeito inflacionário dessas tarifas. Não é óbvio que o Fed terá de reagir a isso”, complementou.
Segundo Ihara, o “principal problema” dos EUA é resolver a questão fiscal, embora não haja clareza sobre como Trump resolverá esse dilema. “Foi excelente a escolha do Scott Bessent como secretário do Tesouro, nome de Wall Street. Acho que ele vai tentar endereçar esse problema nos próximos meses”, afirmou.
Bessent, que teve nomeação ao posto de secretário do Tesouro confirmada esta semana pelo Senado, era responsável, anteriormente, pelo hedge fund global Key Square Capital Management, um fundo com tese de investimento macro, fundado em 2015. Antes, Bessent atuou como Chief Investment Officer do Soros Fund Management.
Ihara também reconhece que a tese de “excepcionalismo americano” tem sido “bastante consensual”, em meio à força do dólar à nível global e valuations esticados dos índices locais, embora nomes respeitados do mercado, como Howard Marks e Ray Dalio, tenham alertado para eventuais riscos de bolha com os atuais níveis de precificação vistos nos EUA.