Brasília, 27/1/2025 – O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deve elevar a Selic nesta semana em 100 pontos-base, a 13,25% ao ano, de forma unânime e em linha com guidance concedido em dezembro, em um ambiente altamente desafiador para a convergência da inflação, com piora qualitativa para os preços e desancoragem contínua, em meio aos efeitos da depreciação cambial sobre bens industrializados e preços de alimentos, além de uma inflação de serviços em alta, diante de uma atividade resiliente.
O Copom inicia sua reunião de juros de dois dias a partir de amanhã, informando a decisão na quarta-feira, a partir das 18h30. Para agentes de mercado, o presidente da autarquia, Gabriel Galípolo, já havia pontuado que a “barra é alta” para qualquer mudança no guidance concedido em dezembro, de duas altas de 100 pontos-base cada em janeiro e março, além de as condições econômicas atuais sustentarem uma nova alta nesta semana.
Instituições d e sellside do mercado também anteveem revisão altista das projeções para inflação pelo colegiado para o fim de 2025 e para o horizonte relevante – que passa a ser o terceiro trimestre de 2026 – em meio a piores leituras semanais da mediana de projeções do Focus desde dezembro, um câmbio pressionado e um qualitativo de preços pior.
“A política monetária mais restritiva deve impactar a economia com mais força, a partir do segundo trimestre de 2025. Diante de tal risco, em meio a elevado grau de incerteza, avaliamos que a reação mais provável da autoridade monetária seja não indicar a magnitude dos movimentos para reuniões além da próxima” (março), escreveu o economista-chefe do Itaú, Mario Mesquita, em relatório a clientes.
Desde dezembro, operadores acompanharam uma depreciação cambial significativa – que levou a intervenções recordes diárias do BC, via leilões de dólar, para conter disfuncionalidade vista diante do fluxo significativo de saída de recursos, em meio à sazonalidade vista e uma contínua crise de confiança – além de expectativas inflacionárias distantes da meta perseguida.
Ainda que haja alívio adicional recente, na margem, para o real ante o dólar, o câmbio segue pressionado, enquanto a inflação corrente e as expectativas inflacionárias estão deterioradas. A XP antevê revisão do colegiado para estimativa do IPCA, ao fim de 2025, a 5,0%, ante 4,5%, com destaque à contribuição altista das expectativas inflacionárias.
Já a projeção para o horizonte relevante, que passa a ser o terceiro trimestre de 2026, deve avançar a 4,0%, ante 3,8%. “O cenário de inflação continua bastante desafiador para o Banco Central”, afirmaram analistas da XP, liderados por Caio Megale, em relatório a clientes.
Desde a decisão de dezembro, a mediana de projeções para o IPCA, ao fim de 2025, avançou a 5,50%, ante 4,59%. Para 2026, foi a 4,22%, ante 4,0%. Já para 2027, avançou a 3,90%, ante 3,58%. O colegiado já havia pontuado, na ata em dezembro da decisão, que a desancoragem das expectativas era “fator de desconforto comum” a todos os membros, e que deveria ser combatida.
Como notou a Warren Rena, a leitura do IPCA-15 de janeiro, reportado na última sexta, revelou composição ruim, com aceleração dos núcleos e dos serviços subjacentes. Na ocasião, a média dos núcleos que compõem o IPCA-15 avançou 0,67% em janeiro, na base mensal, acelerando ritmo de alta ante dezembro, de 0,4%.
Já a leitura de serviços subjacentes avançou 0,96% na base mensal, também acelerando ritmo de alta ante dezembro, de 0,71%. O índice de difusão, que mensura a disseminação da inflação entre os diversos grupos de produtos e serviços que compõem o IPCA, foi a 68,9%, aceleração considerável ante leitura de dezembro, de 61,8%.
O BTG citou a alta recente do petróleo, no mercado internacional, bem como a pressão cambial sobre mercados emergentes, como fatores que reforçam abordagem hawkish do Copom na decisão desta semana. O banco antevê Selic terminal em 15,25%, com alta de 100 pbs cada nas reuniões de janeiro e março, e de 50 pbs cada nas decisões de maio e junho.
No entanto, ainda que as expectativas de inflação continuem a se afastar da trajetória da meta perseguida, de 3,0%, e o Copom pudesse considerar um ajuste ainda mais intenso dos juros nesta semana, os números da atividade econômica começam a mostrar sinais incipientes de desaceleração, o que diminui a probabilidade de materialização desse cenário, na visão da XP.
Desde a decisão de dezembro, as leituras da produção industrial, das vendas no varejo restrito e do volume real do setor de serviços mostraram retração, na base mensal, em novembro, em meio a perspectivas de maiores efeitos da política monetária restritiva sobre a atividade econômica a partir do segundo trimestre.
A XP vê “sinais mistos” das principais variáveis incluídas nos modelos de inflação do BC dezembro. Pelo lado altista, cita o desempenho das expectativas inflacionárias, dos preços correntes e das cotações internacionais, em média, das commodities, que avançaram desde dezembro.
Pelo lado baixista, porém, cita as projeções da Selic do mercado, que subiram desde dezembro, o que tem potencial para reduzir as projeções de inflação ao longo do horizonte relevante. A XP também citou o recuo do câmbio nas últimas semanas, o que deve colocar a cotação média a ser utilizada pelo Copom, nesta semana, muito próxima ao valor de referência utilizado em dezembro.
“Entendemos que poderia ser prematuro ao Copom se comprometer para além da reunião de março, diante de determinantes da inflação se movendo em direções diferentes. Acreditamos que o colegiado optará por ‘deixar as portas em aberto’ para maio, ao afirmar que a decisão será ditada ‘pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta”, complementou a XP.