Com Selic estável em 2023, cenário de recessão não pode ser descartado, diz economista

O economista-chefe do Opportunity Total, Marcelo Fonseca, projeta um crescimento do PIB da ordem de 0,5% em 2023, e de 1% em 2024, cenário que agora conta com um “risco baixista”

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Por Lucinda Pinto

A perspectiva de que a taxa Selic permanecerá no nível atual, de 13,75%, ao longo deste ano coloca um viés de baixa no cenário já fraco para o crescimento econômico brasileiro, segundo o economista-chefe do Opportunity Total, Marcelo Fonseca.

Ele projeta um crescimento do PIB da ordem de 0,5% em 2023, e de 1% em 2024, cenário que agora conta com um “risco baixista”, devido à postergação do corte de juros. “Não dá para descartar uma recessão”, afirmou à Mover.

Fonseca disse que a ata do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada ontem, confirmou a mensagem de que, dada a desancoragem das expectativas de inflação, não há espaço para um corte da Selic no horizonte visível, ou seja, durante todo este ano. Em seu cenário, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve atingir 6,4% no fim de 2023, e 4,5% em 2024, acima, portanto, da meta de inflação, de 3,25% e 3%, respectivamente.

“A mensagem de que não há espaço para cortar os juros tem como pano de fundo o ambiente de desancoragem das expectativas. E o BC dá destaque para os riscos fiscais”, afirmou. Ele observou que, nesse campo, houve uma “acomodação do discurso”, uma vez que a ata informou que o pacote de medidas apresentado pelo Ministério da Fazenda no mês passado pode reduzir o impacto desses riscos.

A ata também citou a discussão sobre as metas de inflação como um fator de desancoragem. “Para quem conhece o ‘economês’, fica claro que tem uma mensagem de que essa discussão dificulta a redução dos juros”, disse. “A política fiscal é um elemento do conjunto de fatores que o BC avalia, é um canal que impacta a atividade e a inflação de forma bastante relevante”, acrescentou.

Em termos de política parafiscal, tema que também tem preocupado investidores, Fonseca acredita que este instrumento deverá ser usado de forma ativa. Mas ele disse não haver espaço para que o Tesouro tenha um papel ativo de capitalização dos entes públicos, como se fez no passado. Assim, os efeitos macroeconômicos agora serão mais circunscritos. “A gente entende que talvez haja modificações na TLP – Taxa de Longo Prazo – que tornem a taxa mais estável, mas sem a introdução de um grande subsídio”, afirmou.