Campos Neto se reúne com representantes do setor financeiro e mercado espera antecipação do ciclo de alívio monetário no Brasil

No exterior, a cautela prevalece após tom mais duro do Federal Reserve, o banco central americano, no combate à inflação

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Por Patrícia Lara

Em meio à perspectiva de que o ciclo de alívio monetário no Brasil pode ser antecipado, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, tem reunião com alguns dos principais representantes do setor financeiro nacional nesta quinta-feira. O encontro é fechado, mas pode trazer repercussões nos ativos neste dia movimentado pela divulgação de dados de emprego aqui e nos Estados Unidos. No exterior, a cautela prevalece nas bolsas europeias e futuros de Nova York após tom mais duro do Federal Reserve, o banco central americano, no combate à inflação. Na China, a inflação teve desaceleração, mas deixou um desconforto entre os investidores por abalar a perspectiva de demanda revigorada no país.

Campos Neto se reunirá, por videoconferência, com o presidente do Bradesco, Octavio de Lazari Jr., do Itaú, Milton Maluhy, do Santander, Mario Leão, e do BTG Pactual, André Esteves, além de representantes da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), em São Paulo, para tratar de conjuntura econômica, das 11h30 às 12h15. Antes disso, ele se encontra com representantes da Legacy Capital.

Na véspera, a curva de juros passou a embutir uma chance de alívio monetário já em maio no Brasil, em meio a sinais de esforços do governo para apresentar uma nova regra fiscal, que será tema do encontro hoje do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), com a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet (MDB), em Brasília, segundo o Valor.

O recuo das taxas de juros pode ajudar o Tesouro, que faz leilão de títulos prefixados hoje para refinanciamento da dívida pública. O dia ainda traz um dado importante de atividade, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados de janeiro, com divulgação às 14h30. Na inflação, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo final de fevereiro, com divulgação amanhã, ajudará a moldar os prognósticos sobre se há espaço para antecipar a flexibilização da taxa básica de juros Selic.

Na China, houve sinal claro de alívio das pressões inflacionárias. Para o consumidor, a inflação desacelerou para 1% em fevereiro, no comparativo anual, o que representou o ritmo mais contido em 12 meses, após variação de 2,1% no mês anterior e abaixo do consenso de 1,9%. O resultado refletiu a desaceleração dos preços dos alimentos ao menor nível em 9 meses, para 2,6%, ante 6,2% em janeiro. Completando os sinais de descompressão, os preços aos produtores chineses tiveram queda pelo quinto mês seguido.

Mas a leitura de que a demanda pode não estar robusta na China pressionou inicialmente a cotação do minério de ferro. Os contratos, porém, tiveram uma reviravolta ao longo da sessão desta quinta e fecharam em alta impulsionados por um levantamento mostrando aumento da produção siderúrgica do gigante asiático. Já o mercado de petróleo segue mais vulnerável a sinais da economia americana e o contrato do Brent opera perto da estabilidade, ainda sob efeito da preocupação com uma alta mais agressiva dos juros pelo Federal Reserve, após falas vistas como duras do presidente do BC americano, Jerome Powell, ao Congresso nesta semana.

Nos EUA, saem hoje dados de pedidos de seguro desemprego, às 10h30, antes do relatório Payroll de emprego referente a fevereiro amanhã, que tem mais relevância para ajuste de expectativas sobre o rumo dos juros americanos.

O Índice Dólar DXY, que mede a variação da moeda americana ante uma cesta de divisas pares, recua, ainda que siga acima de 105 pontos. Já as taxas de curto prazo dos títulos da dívida americana permanecem sustentadas, com o rendimento do papel de 1 ano subindo 1,6 ponto-base, a 5,27%, perto das 7h30.

MERCADOS GLOBAIS

O futuro do petróleo Brent para entrega em maio cedia 0,11%, a US$82,55 o barril.

O minério de ferro subiu 0,6% na bolsa chinesa de Dalian, a 916,5 iuanes, ou o equivalente a US$131,45 a tonelada.

O Bitcoin recuava 0,38% nas últimas 24 horas, a US$21.669; o Ethereum cedia 0,02% no mesmo período.

MERCADOS LOCAIS

O índice EWZ, que replica as ações brasileiras no exterior, recuava 0,04% no pré-mercado americano.

Os contratos de juros futuros na B3 devem seguir em ajuste, acompanhando ecos de reuniões do BC e de Haddad com Tebet, enquanto o leilão do Tesouro pode ser um fator de suporte para as taxas.

DESTAQUES

Os contratos futuros da curva de juros recuaram na véspera, em movimento que foi lido por agentes do mercado como uma chance para corte da taxa Selic já na reunião do Comitê de Política Monetária de maio. Analistas apontam para uma potencial piora da atividade local, em um cenário de juro alto, com a deterioração das condições de crédito. (Mover)

Na corrida para tentar amarrar uma nova regra fiscal antes do encontro do Copom em 21 e 22 de março, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem reunião-almoço hoje com a ministra do Planejamento, Simone Tebet. (Valor)

O secretário extraordinário da Reforma Tributária do Ministério da Fazenda, Bernard Appy, afirmou nessa quarta-feira que os bancos terão um regime especial de tributação, sem dar mais detalhes. Appy falou na abertura das audiências públicas do Grupo de Trabalho da Reforma Tributária da Câmara dos Deputados. (Mover)

O Bank of America avaliou, em relatório na véspera, que prefere apostar em uma posição comprada no real do que no peso mexicano. Para o banco, embora a divisa mexicana esteja melhor posicionada devido ao ambiente macroeconômico e à política monetária, parte das boas notícias já está precificada no preço da moeda, enquanto o real só tem más notícias precificadas. (Valor)

A decisão do governo de taxar as exportações de petróleo levou cinco grandes empresas privadas do setor a contestar a medida na Justiça, na tentativa de derrubar a cobrança. Shell Brasil, Equinor, Petrogal, Repsol Sinopec e TotalEnergies ajuizaram ações. (Valor)

O Mercosul e a União Europeia concordaram com um cronograma de trabalho para tentar resolver pendências e fechar até o fim do primeiro semestre o acordo de livre comércio. Caso seja fechado até julho, o documento será enviado para tradução a fim de ser assinado no segundo semestre, durante presidência rotativa da União Europeia pela Espanha. (Valor)

A produção dos cinco principais produtos de aço, incluindo vergalhão, fio-máquina, bobina a quente, bobina a frio e chapa grossa média, cresceu 49 mil toneladas em relação à semana anterior na China, para cerca de 9,52 milhões de toneladas em 9 de março, mostraram dados da consultoria Mysteel. (Reuters)

Em testemunho perante o Comitê de Serviços Financeiros da Câmara dos Deputados ontem, Jerome Powell voltou a sinalizar a possibilidade de maiores altas de juros nos Estados Unidos, embora tenha dito que o debate está em discussão e que a decisão para a reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto do BC americano só será tomada após a divulgação de dados econômicos de fevereiro, que devem ser divulgados nesta e na próxima semana. (Mover)

O banco central da Malásia manteve sua taxa de juros overnight estável em 2,75% pela terceira reunião consecutiva. A decisão confirmou as expectativas de economistas. “Espera-se que a inflação principal e o núcleo sejam moderados ao longo de 2023”, disse o BC. O índice de preços ao consumidor da Malásia subiu 3,7% em uma base anualizada em janeiro. (Reuters)

O Credit Suisse atrasou a divulgação de seu balanço anual, inicialmente previsto para esta quinta-feira, para endereçar um pedido da Securities and Exchange Commission, o órgão regulador do mercado de capitais dos EUA, por mais informação sobre como computou dados de fluxo de caixa depois da reestruturação de suas divisões. As ações do banco suíço cediam 5% na bolsa da Suíça. (WSJ/Mover)

AGENDA

Agenda política (Brasil) – O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, junto com outros chefes de pastas e líderes do governo no Congresso, tem reunião com o presidente Lula. Horário: 09h00.

Agenda política (Brasil) – Haddad também tem encontro agendado com a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet. Horário: 12h30

Seguro-desemprego (Estados Unidos) – O Departamento do Trabalho americano divulgará os novos pedidos de auxílio-desemprego semanais. Divulgação: 10h30. Anterior: 190 mil. Consenso: 195 mil.

Leilão do Tesouro (Brasil) – O Tesouro Nacional realizará leilão de Letras Nacionais do Tesouro e de Notas do Tesouro Nacional – Série F. Horário: 10h30.

Discurso Fed (EUA) – O vice-presidente do Conselho de Governadores do Federal Reserve, Michael S. Barr, falará em evento. Horário: 12h00.

Caged (Brasil) – O Ministério do Trabalho e Previdência informará os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados de janeiro. Divulgação: 14h30.

Leilão de Títulos (EUA) – O Tesouro americano realizará leilão de títulos com vencimento em 30 anos. Horário 15h00.

Balanços (Brasil) – A Arezzo, a JHSF, o Magazine Luiza, a Tenda e a Via divulgarão os balanços do quarto trimestre de 2022 após o fechamento dos mercados brasileiros.

Inflação ao Produtor (Japão) – O governo japonês divulgará o Índice de Preços ao Produtor de fevereiro. Divulgação: 20h50. Anterior: 0,0%. Consenso: -0,3%.