Campos Neto faz discurso apaziguador, mas não entrega mudança de meta

Campos Neto defendeu que combater a inflação é olhar para o social

Agência Brasil
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Por Lucinda Pinto

O mercado financeiro passou o dia esperando ansiosamente pela entrevista do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, nesta noite no “Roda Viva”, da TV Cultura. Mas foi para a ala política do governo que o banqueiro central dirigiu suas respostas. Para o investidor, as explicações devem vir amanhã, na conferência organizada pelo BTG Pactual.

Campos começou a entrevista falando em ritmo muito acelerado, expressando o nervosismo que o momento provoca. E gastou boa parte de seu tempo tentado provar que não tem nada contra o atual governo, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que foi eleito de forma “legítima”.

Disse que fez amigos no governo passado, mas que está aberto a fazer novas amizades agora. E tentou desfazer a ideia de que classifica o atual governo como gastador, mas que o aumento de despesas é um processo em curso já há vários anos. Voltou a elogiar o ministro da Fazenda, Fernando Haddad que, segundo o presidente do BC, tem feito um grande esforço no campo fiscal. E negou que haja qualquer mensagem política nas atas do Comitê de Política Monetária.

Como se estivesse respondendo diretamente à presidente do Partido dos Trabalhadores, Gleisi Hoffmann, Campos Neto disse que é legítimo o debate defendido pela deputada na semana passada. A questão, insistiu, é que é a inflação alta, mais do que o juro, é o fator que mais prejudica os mais pobres. Combater a inflação é uma forma de olhar para o social, defendeu.

A grande questão é se esse tom apaziguador vai prevalecer sobre a afirmação – a mais importante de toda a entrevista – de que não há discussão sobre uma mudança da meta de inflação, defendida pelo governo. Mexer no alvo, disse Campos Neto, não vai flexibilizar a política monetária. Ao contrário, vai afetar as expectativas, a ponto de impor juros mais altos.

Essa era a resposta que o mercado queria ouvir, não o governo. Resta saber como ficarão os outros dois votos no Conselho Monetário Nacional.