03/05/2025 – O megainvestidor Warren Buffet, CEO do conglomerado Berkshire Hathaway, que tem participações em empresas como Apple e Coca Cola, disse hoje ver equívocos na guerra tarifária lançada pelo presidente americano Donald Trump, ao ser questionado por acionistas durante esperado encontro anual da companhia em Omaha, neste sábado.
A Berkshire encerrou o primeiro trimestre com nível recorde de caixa acumulado, de US$347,7 bilhões, ante US$334 bilhões ao final de 2024, o que o vice-presidente do grupo, Greg Abel, definiu como “um ativo estratégico”, que permite enfrentar eventuais tempos difíceis “sem depender de ninguém”, como bancos ou parceiros.
Questionado sobre se a empresa está pronta para novos investimentos com os recursos em caixa, Buffet sugeriu que as oportunidades certas ainda não apareceram, e disse acreditar que encontrará ambiente favorável para fazer investimentos nos próximos cinco anos.
GUERRA COMERCIAL
Sobre as políticas tarifárias de Trump, Buffett afirmou que os Estados Unidos deveriam buscar negociar com o resto do mundo, focando em produzir aquilo em que o país possui vantagens comparativas, em falas altamente aguardadas por acionistas e operadores de mercado em sua conferência anual em Omaha, Nebraska.
“Não há dúvida de que o comércio pode ser um ato de guerra, e acho que isso levou a coisas ruins, assim como as atitudes que se manifestaram nos EUA. Deveríamos buscar negociar com o resto do mundo, e deveríamos fazer o que fazemos de melhor, e eles deveriam fazer o que fazem de melhor”, afirmou.
As falas do CEO da Berkshire sobre o impasse tarifário liderado pelos EUA, sob presidência de Trump, eram altamente aguardadas, e surgiram logo na primeira abertura para questionamentos de investidores no encontro – embora Buffett costume evitar se posicionar, explicitamente, sobre política.
“É um grande erro, na minha opinião, quando você tem sete bilhões e meio de pessoas que não gostam muito de você, e você tem 300 milhões que estão se vangloriando de alguma forma sobre o quão bem se saíram, e eu não acho que seja certo, e eu não acho que seja sábio”, disse Buffet, fazendo referência à população americana.
“Eu acho que quanto mais próspero o resto do mundo se torna, mais seguro ele se sentirá, e seus filhos se sentirão”, acrescentou.
VOLATILIDADE RECENTE
Ao ser questionado sobre o comportamento recente dos índices de ações nos EUA, Buffett minimizou os movimentos do mercado financeiro, que passou por momentos de volatilidade histórica no mês de abril, despencando após os anúncios de tarifas de Trump e depois recuperando totalmente as perdas, em meio a alguns recuos do presidente e sinais de possível início de negociações com a China.
“O que ocorreu nos últimos 30, 45, 100 dias, realmente não é nada. Desde que adquirimos a Berkshire, houve três vezes em que as ações caíram 50% ao longo do tempo. E em cada um desses tempos, não havia nada fundamentalmente errado com a companhia. Esse movimento recente não é algo grande”, explicou.
Também de acordo com ele, não houve uma situação de um “bearmarket dramático ou algo do tipo”. Segundo Buffett, os investidores talvez precisem de uma filosofia de investimento diferente caso quedas no curto prazo importem para eles.
EXCEPCIONALISMO DOS EUA
Buffett voltou a enfatizar o viés favorável à natureza econômica dos EUA, mesmo em meio a temores de recessão e visão de investidores sobre potencial perda do status de excepcionalismo do país na conjuntura global.
“Nós sempre estamos em processo de mudança. Nós sempre vamos achar todos os tipos de coisas para criticar nosso país, mas o dia de mais sorte da minha vida foi o dia em que eu nasci. Eu nasci nos EUA.”
RECEIO FISCAL
Questionado sobre potenciais hedges que a Berkshire faça para proteger alocação de capital de uma depreciação do câmbio, Buffett enfatizou que seu principal receio gira em torno da política fiscal.
“A política fiscal é o que me assusta nos EUA, porque ela é feita de forma com que todas as motivações são para fazer muitas coisas que podem causar problemas financeiros. Mas isso não se limita aos EUA. Acontece em todo o mundo”, explicou.
“O problema de como controlar as receitas e despesas do governo é algo nunca completamente resolvido, e atingiu dramaticamente algumas civilizações. E não acredito que estejamos imunes a isso”, disse Buffet, qualificando o déficit fiscal atual como “insustentável” caso continue por longo período.
Ele também disse avaliar que a inflação nos EUA segue em patamar “muito significativo”.
GAFE COM CACHORRO-QUENTE
Um acionista da Berkshire Hathaway de Chicago, Illinois, questionou Buffett sobre a tese de alocação da Berkshire em uma empresa de cachorro-quente chamada “Portillo’s”, em uma sequência de constrangimento ao vivo.
Buffett e seu braço-direito, Greg Abel, não souberam responder à pergunta. Posteriormente, Abel foi informado de que a companhia é detida por um fundo de private equity denominado Berkshire Partners, e não pela Berkshire Hathaway.
INVESTIMENTO NO JAPÃO
Buffett também explicou racional de alocação da Berkshire em trading houses japonesas – e afirmou que a companhia não irá se desfazer do capital alocado. Segundo ele, construir um relacionamento com essas empresas é algo de prazo longo, e a Berkshire não tem a intenção de mudar o que elas fazem.