Bolsas externas sobem e Haddad fala em evento após críticas ao BC

Investidores seguem monitorando o mercado de energia, enquanto os contratos futuros de petróleo prolongam ganhos

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Por: Patrícia Lara

As bolsas europeias e os futuros dos índices acionários americanos operam em leve alta, em meio a sinais de que os bancos centrais não estão com pressa em acelerar o aperto monetário diante de sinais de esfriamento da atividade e de desinflação. Investidores seguem monitorando os desdobramentos no mercado de energia, enquanto os contratos futuros de petróleo prolongam o maior ganho em um ano registrado ontem, depois do inesperado corte da oferta decidido por grandes países produtores da commodity no fim de semana.

Ontem, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, minimizou a decisão de nações da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados, a Opep+, de reduzir a produção em 1,16 milhão de barris por dia a partir de maio. Já a secretária do Tesouro americano, Janet Yellen, disse que a medida “não é construtiva”.

No mercado de câmbio, o Índice Dólar DXY, que mede a variação da moeda americana ante principais divisas pares, cede abaixo de 102 pontos, enquanto os rendimentos dos títulos de dívida americana sobem. Nos EUA, os derivativos ainda apontam uma aposta maior, de 59%, na alta de 0,25 ponto percentual da taxa de juros americana em maio, para a faixa entre 4,75% e 5,00%, ante uma probabilidade de 57,2% observada ontem.

Enquanto o mercado assimila o impacto dos preços do petróleo no cenário prospectivo de inflação, sinais dão conforto sobre uma desinflação em andamento em algumas regiões. Os preços ao produtor na Zona do Euro desaceleraram para uma alta anual de 13,2% em fevereiro, ante 15,1% registrados em janeiro, e ficaram abaixo do consenso, de 13,3%. No comparativo mensal, o índice teve queda de 0,5%, ante o consenso de recuo de 0,3%. Com isso, o euro se aprecia, voltando ao patamar de US$1,09.

Do outro lado do globo, o Banco Central da Austrália interrompeu um ciclo de aperto iniciado em maio de 2022 e manteve sua taxa de juros em 3,6%, em linha com o esperado. O dólar australiano é negociado com desvalorização de 0,47%, a US$0,6753.

No Brasil, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), disse ontem, em entrevista à GloboNews, que a retirada de Roberto Campos Neto da presidência do Banco Central não é assunto para um ministro da Fazenda. “Cada um sabe das suas obrigações institucionais”, disse.

O ministro também afirmou que o Banco Central terá que reagir à proposta de arcabouço fiscal, se ela passar credibilidade.”O espaço que temos hoje para garantir o crescimento econômico é a redução da taxa de juros”, disse. “A autoridade monetária vai ter que reagir à nova regra fiscal. Não é possível manter a taxa de juros indefinidamente com as taxas de inflação que hoje estão no mercado”, completou.

Hoje, Haddad participa, virtualmente, do Bradesco BBI Brazil Investment Forum, a partir das 17h00. O secretário extraordinário para a Reforma Tributária, Bernard Appy, participa do mesmo evento, às 10h00. Já o presidente do BC tem reunião com diretores de Tesouraria do Bradesco e com o diretor departamental de Pesquisa Econômica e economista-chefe do banco, Fernando Honorato, às 11h00. O encontro é fechado à imprensa.

Na agenda de dados, a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores divulga o número de emplacamentos de veículos em março, às 10h30, e o Tesouro Nacional realiza leilão de títulos, no mesmo horário, com oferta de Letras Financeiras do Tesouro (LFT), que possui rentabilidade ligada à taxa básica de juros Selic, e Notas do Tesouro Nacional – série B, com remuneração pela inflação, além de cupom. O leilão ocorre após a liquidação pelo Tesouro de cerca de R$44 bilhões em títulos prefixados que venceram em 1 de abril.

No exterior, será divulgado o relatório JOLTS de emprego e encomenda às indústrias em fevereiro nos EUA, às 11h00. O economista-chefe do Banco da Inglaterra, Huw Pill, discursa às 11h30. Às 14h30, o mercado acompanhará o discurso da diretora do Federal Reserve Lisa Cook e da presidente do Fed de Boston, Susan Collins, enquanto a presidente do Fed de Cleveland, Loretta Mester, fala às 19h45.

MERCADOS GLOBAIS

O minério de ferro voltou a cair na bolsa chinesa de Dalian, fechando em baixa de 2,22%, a 880 iuanes, ou o equivalente a US$127,87 a tonelada, com sinais de demanda fraca pelo setor siderúrgico e preocupações sobre repressão do governo chinês a movimentos especulativos nos contratos.

O Bitcoin subia 1,36% nas últimas 24 horas, a US$28.369; o Ethereum ganhava 1,20% no mesmo período.

MERCADOS LOCAIS

O índice EWZ, ETF que replica as ações brasileiras no exterior, subia 0,77% no pré-mercado americano.

Os contratos de juros futuros na B3 podem passar por ajuste após queda acentuada na véspera.

DESTAQUES

A gigante brasileira de cosméticos Natura fechou um acordo com a L’Oréal para venda da sua controlada australiana Aesop por US$2,53 bilhões, para auxiliar no processo de desalavancagem e foco na integração das operações na América Latina, segundo comunicado. (Mover)

O Índice de Preços ao Consumidor (IPC), que mede a inflação na cidade de São Paulo, subiu 0,39% em março, desacelerando em relação ao avanço de 0,43% de fevereiro, mas ganhando força ante o acréscimo de 0,36% verificado na terceira quadrissemana do mês passado, segundo dados da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). (Agências)

A Ibiuna Investimentos manteve a cautela em sua mais recente carta aos cotistas, e avaliou que o arcabouço fiscal apresentado pelo governo aponta para trajetória de aumento contínuo de gastos juntamente com a elevação relevante da carga tributária. Segundo a Ibiuna, o arcabouço considera hipóteses “pouco plausíveis” de juros e crescimento, resultando em um impacto “modesto” sobre as expectativas de inflação. (Mover)

O gestor do Opportunity Total, Marcos Mollica, disse ontem acreditar que o Banco Central “não tem espaço” para cortar os juros diante da desancoragem das expectativas inflacionárias. Também segundo ele, as medidas propostas no arcabouço fiscal devem enfrentar dificuldade e “resistência”, principalmente aquelas que envolvem elevação da arrecadação. (Mover)

Os bancos encerraram o ano passado com 7.216 agências físicas, menor quantidade desde 2010, diante da digitalização dos serviços financeiros. Somente em 2022, foram encerradas 428 unidades, segundo levantamento feito com base em dados do Banco Central. (Valor)

O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump chegou a Nova York na véspera, em seu avião particular, para enfrentar acusações decorrentes de uma investigação de suborno pago a uma atriz pornô. Trump se tornará, hoje, o primeiro ex-presidente dos EUA a depor em um tribunal na condição de réu. Como parte de seu comparecimento, ele passará pelo procedimento padrão de tomada da impressão digital e fotografia. (Agências)

As exportações alemãs subiram significativamente mais do que o esperado em fevereiro devido à forte demanda dos Estados Unidos e da China. O aumento foi de 4% em comparação com janeiro, o que correspondeu à maior alta em 10 meses, superando o consenso do mercado, de 1,6%. As exportações subiram 2,5% em janeiro em relação ao mês anterior. (Mover)

Ao manter a taxa básica inalterada, o Banco Central da Austrália reconheceu que a política monetária opera com defasagem e que a economia ainda não sentiu todo o efeito da alta de 3,5 pontos porcentuais acumulada desde o ano passado. Mesmo assim, o BC acrescentou, em seu comunicado, que está pronto para retomar o aumento dos custos dos empréstimos caso a economia precise. (Mover)

O presidente do Credit Suisse, Axel Lehmann, pediu desculpas aos investidores pelo colapso do banco suíço de 167 anos em sua última reunião de acionistas como empresa independente na manhã desta terça-feira.“É um dia triste. Para todos vocês e para nós”, disse Lehmann aos acionistas na primeira assembleia presencial do banco em quatro anos, realizada em um estádio de hóquei no gelo com capacidade para 15 mil pessoas em um subúrbio ao norte de Zurique. (Financial Times)