Banco Central deve manter Selic em 13,75%, mas intensificar avisos sobre risco fiscal e expectativas

Mercado aguarda sinais do banco sobre como a autarquia avalia a elevação das expectativas de inflação, após declarações polêmicas do governo em relação à meta de inflação

Agencia Brasil
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Por Clara Guimarães

O Banco Central do Brasil deve manter inalterada a taxa básica de juros Selic amanhã, confirmando a expectativa do mercado, que buscará sinais no comunicado sobre como avalia a elevação das expectativas de inflação, após declarações polêmicas do governo em relação à meta de inflação.

Todas as 16 casas de análise consultadas pela Mover projetam a manutenção da Selic em 13,75% por parte do Comitê de Política Monetária. O encontro do Copom desta semana será o primeiro realizado sob o mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que teceu, no dia 18, críticas ao BC, classificando a autonomia da autoridade monetária como uma “bobagem”. Além disso, ele considerou exagerada a atual meta de inflação a ser perseguida pela autarquia. Para esse ano, o centro da meta fixada pelo Conselho Monetário Nacional é de 3,25%.

Segundo relatório do economista-chefe de pesquisa macroeconômica do Itaú, Mario Mesquita, o comunicado do Copom deve trazer os debates recentes de arcabouço de política econômica, “em especial, discussões acerca da definição das metas de inflação para os próximos anos, e seus potenciais impactos sobre preços de ativos e ancoragem das expectativas”.

Em relatório do Bradesco BBI, assinado pelos analistas Andre Carvalho, Bernardo Keiserman, Ricardo Mauad e Guilherme Zimmermann, há consenso também que o mercado está ansioso para entender como o Copom enxerga os riscos vindos da frente fiscal, diante da falta de definição de um novo arcabouço.

Investidores irão procurar no comunicado da decisão qualquer sinal “sobre preocupações e premissas que estão observando no cenário atual”, avaliou o especialista em renda fixa da Quantzed, Ricardo Jorge, ressaltando que todas as declarações de Lula têm interferência na dinâmica da curva de juros e contribuem para prejudicar as expectativas de corte da Selic.

“Hoje temos um cenário de riscos fiscais e até que a gente veja a inflação melhorando de fato, acredito que a estratégia seguirá sendo a de manutenção de juros”, disse.

O especialista em investimentos da GT Capital, Caio Canez de Castro, também endossa a previsão de Selic estável, enquanto o governo não sinaliza nenhum esforço efetivo com o compromisso fiscal. “Os cenários que se apresentam ainda são muito inconsistentes e qualquer tomada de decisão agora pode resultar em uma desestabilização no mercado de juros”, afirmou.

Na última segunda-feira, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), prometeu que a regra que substituirá o Teto de Gastos será definida até abril, e ressaltou que os novos nomes para as diretorias do BC serão avaliados em parceira com o presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, mas que a prerrogativa da escolha é do presidente da República.

PROJEÇÕES DE INFLAÇÃO

Os 16 relatórios compilados pela Mover preveem uma elevação das projeções de inflação no horizonte relevante. Para o Itaú, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve avançar de 5,0% para 5,5% em 2023, e de 3,0% para 3,2% em 2024.

Já as simulações da XP replicando o modelo do Copom indicam aumento da projeção para o IPCA de 2023, de 5,0% para 5,5%; e estabilidade para 2024, em 3,0%.

“Os dados desde o último Copom mostram sinais mistos para a dinâmica inflacionária. No curto prazo, surpresas baixistas na maioria dos indicadores; por outro lado, incertezas fiscais intensificam os riscos altistas no médio prazo”, avaliaram o economista-chefe da XP, Caio Megale, e a economista Tatiana Nogueira em relatório da casa.

Além disso, o superintendente de pesquisa macroeconômica do Santander, Maurício Oreng, alerta para a influência do debate sobre uma possível mudança nas metas de inflação nas expectativas de inflação, com aumento de cerca de meio ponto percentual nas projeções de inflação para todos os horizontes entre 2023 e 2026 desde dezembro.

A autoridade pode aumentar o tom em sua avaliação dos riscos inflacionários, diante da possibilidade de decisões de política econômica levarem a maiores estímulos fiscais e piora das expectativas inflacionárias, conclui o relatório do Santander.