Ata do Copom reconhece efeito do pacote da Fazenda, mas ressalta risco de execução

Comunicado é divulgado após críticas de Lula à condução da política monetária pelo Banco Central

Agência Brasil
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Por Patrícia Lara e Felipe Corleta

O Comitê de Política Monetária notou com especial preocupação a deterioração das expectativas de inflação de prazos mais longos em ata do encontro da semana passada em que manteve a Selic inalterada. O colegiado, contudo, reconheceu que a execução do pacote apresentado pelo Ministério da Fazenda atenuaria os estímulos fiscais sobre a demanda, reduzindo o risco de alta sobre a inflação, ainda que tenha pontuado sobre os riscos para a sua execução.

Na ata divulgada há pouco, o Copom disse, no parágrafo 12, que a deterioração das expectativas de inflação pode ter ocorrido por diversas razões, destacando-se, dentre esses fatores, uma possível percepção de leniência do Banco Central com as metas estipuladas pelo Conselho Monetário Nacional. Também citou o potencial efeito de uma política fiscal expansionista, que pressione a demanda agregada ao longo do horizonte de projeções, ou a possibilidade de alteração das metas de inflação ora definidas.

No texto, o Comitê disse que manteve sua governança usual de incorporar as políticas já aprovadas em lei, mas reconheceu que a execução do pacote anunciado pela Fazenda atenuaria os estímulos fiscais sobre a demanda, reduzindo o risco de alta sobre a inflação.

O documento é divulgado após severas críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à condução da política monetária pelo BC.

Mesmo com o reconhecimento do potencial impacto do pacote fiscal anunciado pela Fazenda, alguns membros do colegiado notaram que será importante acompanhar os desafios na implementação do pacote, diz a ata.

ARCABOUÇO FISCAL

No parágrafo 24, o documento citou que, do ponto de vista de riscos domésticos, no tema fiscal, há dois conjuntos de riscos que se interseccionam. “Em primeiro lugar, a revisão do arcabouço fiscal diminui a visibilidade sobre as contas públicas para os próximos anos e introduz prêmios nos preços de ativos e impacta as expectativas de inflação”, diz a ata.

“Em segundo lugar, no que tange aos estímulos fiscais, o Copom seguirá acompanhando seus impactos sobre atividade e inflação e reforça que, em ambiente de hiato do produto reduzido, os impactos sobre a inflação tendem a se sobrepor aos impactos almejados sobre a atividade”, completa o texto.

O Comitê disse ainda que o risco de um hiato do produto mais estreito do que o avaliado persiste e o colegiado seguirá avaliando os dados e os modelos para um entendimento mais minucioso.

PERDA DE DINAMISMO

A ata destaca que dados de atividade no Brasil seguem indicando um ritmo de crescimento mais moderado na margem e os dados de emprego sugerem uma perda de dinamismo.

Para o Copom, a desaceleração do ritmo da atividade econômica deve se acentuar nos próximos trimestres, observa no parágrafo 11.

INFLAÇÃO GLOBAL

Em relação ao cenário internacional, o Copom citou que, no balanço de riscos, as pressões inflacionárias globais se atenuaram, mas avaliou que ainda há bastante incerteza sobre como se dará a desaceleração da inflação e tal processo tende a ser não linear.

“Os riscos devem persistir enquanto observarmos um mercado de trabalho apertado em várias economias avançadas”, diz o parágrafo 24 do documento.

Na sexta-feira da semana passada, após o encontro do Copom, os EUA divulgaram dados do mercado de trabalho muito acima do esperado, levando o investidor a precificar que há pouco espaço ainda para o Banco Central americano interromper o ciclo de aumento de juros.