Por Juliana Machado
As companhias ligadas ao setor doméstico – como MRV (MRVE3), Renner (LREN3) e Natura (NTCO3) – têm uma boa chance de entregar retornos fortes pelos próximos dois anos, após o pico da Selic batido neste ano. Este é o cenário com o qual alguns grandes gestores trabalham, com base na tendência apresentada nos últimos anos e nas perspectivas de que o início do ciclo de cortes da taxa básica de juros brasileira comece em agosto.
Um levantamento realizado pela Mover com dados da Economatica mostra que, historicamente, dois anos após a Selic atingir o seu pico, tanto o Ibovespa quanto o Índice de Consumo da B3 (ICON) entregaram retornos superiores. O movimento não foi unânime em todo o período – a crise financeira global de 2008 afetou, por exemplo, a trajetória do Ibovespa nos anos seguintes, assim como a crise do coronavírus tirou boa parte da tração do mercado a partir de 2020.
Ainda assim, é possível atestar que, no geral, o movimento histórico para as ações de varejistas foi até mais forte do que o próprio Ibovespa, como pode ser constatado na série histórica abaixo. O desempenho é bastante intuitivo, já que ativos de risco e especialmente empresas de consumo são beneficiados por um juro mais baixo, estimulante para a economia em geral.
Muito embora investidores considerem a situação específica de cada companhia para escolher as melhores oportunidades, os fundos e investidores com abordagem “top down” na bolsa, ou seja, que levam em conta o cenário macro para alocar os recursos, já se movimentam de olho na recuperação setorial.
“Gostamos de ações que podem sofrer ‘short squeeze’ num momento de otimismo exagerado, como Petz e Natura, além de EzTec e MRV”, afirmou o gestor de um grande fundo multimercados, que preferiu não ser identificado. “O valuation [preço] é atrativo e temos convicção na queda de juros. Em varejistas, porém, estamos menores, com posição ainda em Lojas Renner.”
Para o CIO da Occam Brasil, Carlos Eduardo “Duda” Rocha, a provável queda de juros não está totalmente precificada na bolsa e, por isso, ainda há espaço para papéis ligados ao setor doméstico – posições que a asset, com mais de R$8 bilhões sob gestão, carrega atualmente.
“Gostamos de ações nos setores de consumo e varejo, mas sempre considerando empresas bem encaixadas [na economia], que já crescem e geram caixa. Gostamos de locação de veículos e vestuário para alta renda”, afirmou.
Esta reportagem foi publicada primeiro no Scoop, às 14H03, exclusivamente aos assinantes do TC. Para receber conteúdos como esse em primeira mão, assine um dos planos do TC.