Cenário de aversão ao risco azeda os mercados

Dúvidas sobre China e Fed seguem no radar dos agentes econômicos

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Por Leandro Tavares

As bolsas internacionais operam em queda no último pregão da semana, refletindo o elevado cenário de aversão ao risco, diante das dúvidas sobre a economia global, principalmente nos Estados Unidos. No Brasil, os mercados voltam do feriado com liquidez reduzida, com a divulgação apenas dos dados da poupança pelo Banco Central.

Na Alemanha, a inflação, medida pelo preço ao consumidor, teve variação positiva de 0,30% em agosto na base mensal, enquanto no ano a taxa está em 6,10%. Ambos os dados vieram em linha com o consenso. 

Apesar do resultado, esse é mais um indicador que coloca luz sobre a decisão de política monetária do Banco Central Europeu (BCE) na próxima semana, em contraste com o dado da zona do euro, que mostrou uma inflação de 5,3% em agosto, o que reforça a dificuldade da economia no bloco. 

Na Ásia, os mercados fecharam em baixa, depois de o Produto Interno Bruto (PIB) japonês registar uma expansão de 1,2% no segundo trimestre ante o trimestre anterior, sendo que a leitura preliminar mostrou um avanço de 1,5%.

Além disso, as dúvidas sobre a economia chinesa também pesaram nos mercados, uma vez que as exportações e as importações da segunda maior economia do mundo caíram em agosto, sinalizando a dificuldade da demanda global. No período, as exportações tiveram retração de 8,8% na base mensal, enquanto as importações diminuíram 7,3%, segundo dados divulgados na véspera. 

Nos EUA, com uma agenda fraca, o destaque fica por conta do estoque do atacado em julho, às 11h00, que tem consenso de uma queda de 0,10% na comparação mensal. Às 14h00, a Baker Hughes divulga o estoque de sondas da última semana, enquanto às 16h00 será a vez do crédito ao consumidor, que tem projeção de US$16 bilhões em julho.

Ontem, o mercado de trabalho deu mais um sinal de aquecimento, ao registrar 216 mil novos pedidos de seguro-desemprego na semana passada, enquanto a projeção era de 234 mil, resgatando a possibilidade de mais uma alta do juro pelo Federal Reserve, deixando os investidores apreensivos. 

No âmbito corporativo, após a China anunciar restrições ao uso de iPhones por funcionários do governo central, a medida foi expandida para os governos locais e empresas estatais, gerando, assim, um princípio de tensão com os EUA, embora essa restrição ao uso de produtos estrangeiros estivesse em vigor desde 2020.

Essa iniciativa, inclusive, tem afetado as ações da Apple, que produz alguns de seus produtos na China, às vésperas do lançamento do Iphone 15, principalmente produto da companhia, agendado para a semana que vem.  

No Brasil, a volta do feriado é totalmente esvaziada, sem divulgação de indicadores relevantes e funcionamento do Congresso. Às 15h, está previsto a divulgação de dados da poupança pelo BC. 

Já a tão esperada reforma ministerial saiu do papel, após o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) confirmar André Fufuca (PP-MA) e Silvio Costa Filho (Republicanos-PE), aliados do presidente da Câmara, Arthur Lira, nos ministérios do Esporte e Portos e Aeroportos, nesta ordem. 

No entanto, o governo não esperava uma reação tão negativa dos nomes, principalmente de Fufuca, que substituirá Ana Moser. Agora, o governo deve se preocupar com uma possível reforma administrativa, encabeçada por Lira, que tem sido enfático ao sinalizar a necessidade de corte de gastos. 

A partir de hoje, o presidente Lula inicia sua participação na cúpula do G-20, em Nova Delhi, na Índia. O Brasil receberá pela primeira vez a presidência do bloco, em mandato que vai de 1º de dezembro de 2023 a 30 de novembro de 2024. 

Na quarta-feira, o Ibovespa encerrou em queda, contaminado pelo sentimento negativo no exterior e cautela antes do feriado local. No mercado de câmbio, o dólar fechou em alta, diante dos receios com a economia global. 

Para mais informações, acesse os Panoramas Corporativo e Político no pré-abertura. Fique de olho na cobertura dos indicadores e eventos mais importantes na agenda TC nos terminais da Mover e TC Economatica.

MERCADOS GLOBAIS

Perto das 07h00, o futuro dos índices Dow Jones, S&P500 e Nasdaq 100 operavam em queda de 0,17%, 0,24% e 0,31%, respectivamente

O Índice Stoxx Europe 600 caía 0,51%, enquanto o índice alemão DAX tinha baixa de 0,70% e o britânico FTSE-100 tinha queda de 0,37%. Entre os setores, destaque para o segmento de tecnologia, que tinha baixa de 1,07%. 

O dólar americano operava em queda em comparação aos pares. O DXY tinha baixa de 0,05%, a 104,992 pontos. No geral, as moedas operam sem direção única, com destaque para o rand sul-africano, que sobe 0,58%.

Os rendimentos dos títulos do Tesouro americano de 10 anos, ou T-Notes, operam em queda de 4 pontos-base, a 4,244%. 

Na Ásia, o índice HSI de Hong Kong foi encerrado antes do previsto, após chuvas torrenciais na região, enquanto o Xangai Composto caiu 0,18%. O índice Nikkei 225, da bolsa de Tóquio, teve queda de 1,16%.

O minério de ferro com teor de concentração de 62%, negociado na bolsa de Dalian, caiu 2,07%, às 6h00, cotado a US$112,66.

O petróleo tipo Brent, que serve como referência para a Petrobras, operava em alta de 0,60%, a US$90,46, recuperando parte das perdas recentes, depois de a Arábia Saudita anunciar a extensão no corte da produção de 1 milhão de barris por dia até o final de 2023.

O Bitcoin tinha alta de 0,77% nas últimas 24 horas, a US$25.920,00; o Ethereum caía 0,25% no mesmo período. 

MERCADOS LOCAIS

Bolsa: O Ibovespa futuro deve abrir instável, refletindo a redução dos negócios, por causa do feriado prolongado, além do sentimento global de aversão ao risco. O índice tem suporte mínimo em 113.100 pontos e resistência máxima em 122.600 pontos, segundo o BB Investimentos. 

Câmbio: O dólar futuro deve abrir em alta, com dúvidas sobre a economia mundial e de olho nos preços das commodities. 

Juros: Os contratos de juros futuros na B3 devem continuar o movimento de alta. Os juros futuros nos EUA operam em baixa, em meio à incerteza sobre os próximos passos do Fed. 

DESTAQUES

– O relator do projeto de lei complementar que prevê a compensação de R$27 bilhões da União para os estados, deputado Zeca Dirceu (PT), disse, à Mover, que seu parecer preliminar está pronto desde terça-feira e que os valores podem subir. Dirceu destacou que está ouvindo entidades, prefeitos e governadores, além de dialogar com o governo federal, líderes partidários e o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP). (Mover) 

– O coordenador de redes da Associação Nacional das Universidades Particulares (Anup), Silvio Pessanha Neto, defendeu em entrevista à Mover que a criação de vagas em cursos de medicina no Brasil deve ocorrer em locais onde há um vazio assistencial, e não apenas seguir uma estratégia de mercado, após o Ministério da Educação (MEC) regulamentar novos cursos em portaria publicada na última segunda-feira. (Mover) 

– Pouco mais de um ano após comprar 35% da Avenue – focada em clientes brasileiros que têm interesse em investir nos Estados Unidos –, o Itaú Unibanco está se preparando para exercer a opção de compra de mais 15,1% do capital social da corretora americana, o que o colocaria como controlador da empresa, segundo documentos aos quais a Mover teve acesso. (Scoop by Mover)

– O mercado precifica espaço menor para cortes na Selic. A curva de juros, que chegou a apontar taxa básica de 8,75% no final do ciclo, agora já indica que a Selic deve encerrar 2024 entre 9,5% e 9,75%. (Valor)

– Pré-sal promete arrecadação maior para o governo, mas ‘janela é curta’. A receita com a área promete subir de 0,05% do PIB para 0,93% do PIB até 2031, e o destino dos recursos é outro dilema. (Valor)

– Alta do petróleo pressiona a Petrobras. A cotação do barril no mercado internacional vai a US$90 e aumenta a defasagem dos preços dos combustíveis no país; no caso do diesel, Abicom vê diferença de 14%. (Estadão)  

– EUA investigam chip fabricado na China à medida que cresce o alarme sobre a Huawei. O Departamento de Comércio, que promulgou uma série de restrições contra a Huawei e a indústria de chips da China nos últimos dois anos, disse que está trabalhando para obter mais informações sobre um “suposto” processador de 7 nanômetros descoberto no Mate 60 Pro. (Bloomberg)