São Paulo, 06/12/2024 – Com produção de petróleo e gás perto de níveis recorde, apoiada pela importante reserva de Vaca Muerta, e animação do mundo das finanças com reformas pró-mercado do presidente Javier Milei, a Argentina passou a atrair forte fluxo de investidores para empresas como YPF e Vista, cujos recibos de ações (ADRs) disparam na bolsa americana.
A estatal YPF, líder na região de Vaca Muerta, vê as ações em Nova York saltarem 123%, com ganho acumulado de 128% em 12 meses. A Vista Oil & Gas, que foi listada inicialmente no México como SPAC, ou empresa dedicada a aquisições, foi para a bolsa americana logo após comprar ativos argentinos, em 2018, e as ações em NY disparam 83% neste ano, com alta de 79% em 12 meses.
O JP Morgan, por exemplo, incluiu a ação da Vista como única da Argentina além de MercadoLibre na carteira para América Latina, em relatório no final de novembro, citando expectativas de que a empresa possa expandir lucros em 36% neste ano e 34% em 2025. A empresa é a segunda principal operadora em Vaca Muerta.
“Nós mantemos nossa exposição à Argentina por meio do setor de energia, destacando que nosso time de economistas ficou muito mais construtivo com as perspectivas econômicas após dados recentes de inflação, crescimento e equilíbrio fiscal”, escreveu o time do JPM.
O analista de equity research Vitor Mafra, da gestora Doxos Capial, sediada em Brasília, disse que a valorização do mercado acionário na Argentina “estava dada” desde que Milei venceu as eleições presidenciais, e que se expôs ao mercado quase que exlusivamente via YPF e ETFs.
“Milei retirou todos subsídios da companhia (YPF), então basicamente o preço do combustível segue a cotação internacional. Isso está pesando no bolso do argentino. Porém, a empresa se tornou lucrativa, a ponto de estabilizar as dívidas atrasadas em determinado momento”, explicou Mafra, pontuando ainda que sempre fica no radar a possiblidade de uma privatização.
VACA MUERTA
Além de YPF e Vista, a Argentina tem atraído novos investidores para a região de Vaca Muerta, com reservas gigantes de petróleo e gás ´shale´, como as exploradas pelos Estados Unidos. A produção de óleo da área atingiu recorde de 400 mil barris por dia no terceiro trimestre, e espera-se que possa atingir 1 milhão de bpd até 2030, segundo a consultoria Rystad Energy.
“A produção de petróleo e de gás na Argentina está em volumes perto de recordes para ambos, guiada pela crescente produção da formação de shale de Vaca Muerta, que está compensando o declínio de campos tradicionais”, avaliou em relatório hoje a Administração de Informações de Energia, EIA, do governo americano.
“A produção de petróleo da Argentina cresceu 50% enre janeiro de 2021 e setembro de 2024, e a de gás subiu 27%, levando a produção de ambos para perto dos recordes no começo dos anos 2000”, acrecentou a EIA, que estima reservas recuperáveis de 308 trilhões de metros cúbicos de gás shale e 16 bilhões de barris de petróleo shale e condensados.
A título de comparação, a Petrobras confirmou nesta semana a descoberta da maior reserva de gás da Colômbia, com volumes estimados de 6 trilhões de pés cúbicos in place.
Em setembro, a produção de Vaca Muerta respondeu por 58% do total de petróleo da Argentina, e 75% do volume total de gás.
Além de ter uma grande exposição a Vaca Muerta, com ativos de qualidade na região que permitirão crescimento orgãnico, a Vista tem uma equipe experiente e alinhada aos interesses dos acionistas minoritários, disseram analistas do UBS ao colocar recomendação de ´compra´ nas ações da empresa, no final de setembro, com preço-alvo de US$70.
FATOR POLÍTICA
Sobre a YPF, analistas do Bank of America disseram em setembro que veem como positivo o foco da estatal em Vaca Muerta, mas colocaram protestos contra Milei como um ponto de alerta, acrescentando que seria preciso entender melhor como seria a governabilidade e popularidade do presidente.
No momento, a cobertura de analistas para YPF tem quatro recomendações de compra, seis de manutenção e nenhuma de venda, segundo Wall Street Journal.
Mas, se os riscos à presidência de Milei eram apontados como fator para uma recomendação ´neutra´ do BofA para a YPF, os números de popularidade do líder do Executivo argentino têm se recuperado à medida que a economia sinaliza recuperação e a inflação desacelera. A aprovação a Milei subiu para cerca de 47% em novembro, de 43% no mês anterior, segundo o LatAm Pulse, pesquisa da AtlasIntel para a Bloomberg.
A The Economist avalia que a popularidade de Milei entre os argentinos é maior em comparação aos seus dois antecessores no primeiro ano de mandato presidencial. A publicação também considerou, na semana passada, que os resultados das medidas implementadas por Milei, até o momento, foram “melhores que o esperado”.
Milei afirmou, em entrevista, que fará “qualquer coisa” que possa para remover a inteferência do Estado sobre a economia. Disse ser “infinito” seu desprezo pelo Estado e mencionou haver ainda 3,2 mil reformas estruturais a serem feitas, em termos de desregulamentação. Durante a campanha, ele chegou a colocar a YPF em uma lista de empresas a serem privatizadas, mas depois recuou do plano, em meio a concessões para aprovar reformas.