São Paulo, 14/03/2025 – A Eletrobras tem observado uma tendência de alta nos preços no mercado de comercialização de energia, após três anos de baixa, disseram executivos da companhia nesta sexta-feira, embora tenham evitado fazer projeções.
Com uma parcela relevante de energia descontratada para venda no mercado, a Eletrobras pode se beneficiar amplamente de um cenário mais favorável de preços, que, para alguns analistas, já começa a se configurar e ainda não foi precificado pelo mercado financeiro.
Os preços no mercado à vista de energia, que influenciam os valores de contratos de longo prazo, ficaram praticamente no mínimo permitido pela legislação entre 2022 e meados de 2024, na faixa de R$60 a R$70 por megawatt-hora, mas saltaram neste ano, chegando a tocar R$330/MWh em diversos momentos.
“Houve uma falsa impressão de que o sistema estava estável… Ficamos uns dois anos e meio com os preços no piso, e, em nossa visão, os agentes de mercado estavam ‘enviesados’ por essa percepção de que o preço permaneceria baixo”, disse o diretor financeiro da Eletrobras, Eduardo Haiama.
“No início de 2024, não havia nenhuma perspectiva de que o preço subiria. O preço de contrato para fornecimento de energia em 2026 estava em R$155 por MWh. Agora, um ano depois, aquele preço que estimavam em R$155 para 2026 já está sendo negociado a R$200, até um pouco acima neste momento”, acrescentou Haiama.
A Eletrobras tem entre 2% e 18% da capacidade de energia descontratada para 2025, livre para negociação no mercado, a depender das estratégias de hedge. Para 2026, entre 20% e 32% estão disponíveis, e para 2027, entre 37% e 46%.
Embora a empresa não tenha antecipado números, analistas do Itaú BBA avaliam que, “considerando a atual tendência de alta nos preços de energia”, a Eletrobras “pode ter acelerado o ritmo de vendas de energia durante o primeiro trimestre de 2025”.
Para negociar esses volumes, a Eletrobras montou uma equipe de comercialização sediada em São Paulo, coração do chamado mercado livre de energia, distante dos escritórios-sede no Rio de Janeiro, e já alcançou 660 clientes no mercado livre, um salto de 65% em relação ao quarto trimestre de 2023.
MUDANÇA REGULATÓRIA
Especialistas atribuem boa parte da alta no mercado de energia a uma mudança na metodologia utilizada para o cálculo dos preços de curto prazo de energia, o chamado PLD, que, na prática, elevou os valores ao adotar critérios de maior aversão a riscos de escassez de eletricidade a partir deste ano. A Mover e o Faria Lima Journal anteciparam a mudança e seus impactos no mercado ainda em julho de 2024.
“Como resultado, o novo modelo indica a necessidade de mais geração termelétrica mais cedo para preservar água nos reservatórios das hidrelétricas, levando a preços maiores no mercado spot”, escreveram os analistas do Itaú BBA.
Os preços spot influenciam o mercado livre de energia, e cada variação de R$10 por MWh nos preços dos contratos de longo prazo pode representar um aumento de 5% no valor justo das ações da Eletrobras, calculou o Itaú BBA.
DIVIDENDOS
Os resultados da Eletrobras no quarto trimestre, com lucro de R$1,1 bilhão e EBITDA ajustado de R$4,67 bilhões, ficaram abaixo das expectativas do mercado, mas o pagamento de dividendos superou as estimativas, aliviando parte das frustrações dos analistas.
A Eletrobras aprovou proventos adicionais de R$1,8 bilhão, elevando o total de 2024 para R$4 bilhões, o maior valor da história da companhia, equivalentes a 41% do lucro líquido e 60% do lucro regulatório, com um yield de 4,4%.
“A proposta de distribuição recorde de dividendos é nossa resposta aos investidores”, disse o CEO da Eletrobras, Ivan Monteiro, mencionando “desde os mais sofisticados” até os pequenos acionistas, incluindo aqueles que utilizaram recursos do FGTS para investir na valorização das ações da empresa após a privatização.
Os executivos da Eletrobras também comentaram que esperam assinar, em até duas semanas, os termos finais do acordo com o governo Lula, mediado pelo Supremo Tribunal Federal. Esse acordo permitirá a retirada de uma ação da União que questiona regras da privatização da empresa. Como condição para o acerto, a União terá três das dez vagas no conselho, e a Eletrobras não precisará mais aportar recursos em Angra 3.
(LC | Edição: Luca Boni | Comentários: equipemover@tc.com.br)