Deputados colocam KPMG e PwC "contra a parede" na CPI da Americanas

Empresas de auditorias protagonizaram sessão desta terça (1º)

Agência Brasil
Agência Brasil

Por Erick Matheus Nery — atualizado às 17h32 de 2/8/23

Sem a presença de Miguel Gutierrez na CPI da Americanas (AMER3), a “artilharia” dos deputados foi redirecionada para as empresas de auditoria KPMG e PwC. Nesta terça (1º), os parlamentares se revoltaram com as respostas dos auditores e indícios documentais de conluio entre as duas empresas e a gigante do varejo.

A deputada Fernanda Melchionna (PSOL-RS) foi uma das mais enfáticas nas críticas, ao afirmar que as empresas de auditoria falharam na identificação da fraude ou por incompetência ou por conluio. “Incompetência já seria grave, aí tem tipos penais envolvidos”, comentou a parlamentar antes de ser interrompida pelos líderes da CPI devido ao estouro do tempo.

Além dos questionamentos sobre a verba de propaganda cooperada (VPC), o risco sacado voltou à pauta. Carla Bellangero, sócia de auditoria da KPMG no Brasil, disse que apurou o tema com dois bancos, mas que não poderia apresentar quais instituições eram essas por causa do sigilo, atitude que desagradou os parlamentares.

Junto a esta atitude, Bellangero argumentou que, ao apresentar um documento “à Administração”, estava levando essas informações tanto para a gestão Gutierrez como para o Conselho de Administração da varejista. Mendonça Filho (União Brasil – PE), afirmou que esse posicionamento “ajuda a confundir”. 

“Quando a gente trata de um assunto de tamanha responsabilidade, a gente precisa ser preciso, direto. E acho que a KPMG não foi, não atuou dessa maneira. Houve uma atuação, no mínimo, negligente, para não dizer uma coisa mais forte”, afirmou o político

O deputado Tarcísio Motta (PSOL-RJ) questionou a PwC sobre uma troca de e-mails entre a auditoria e a antiga gestão da Americanas. Na conversa apresentada à CPI por Leonardo Coelho, atual CEO da varejista, a multinacional teria sugerido que houvesse uma troca de texto nos documentos oficiais. Assim, em vez de dizer que “não havia” risco sacado, deveria estar presente no texto que a Americanas “não tinha conhecimento da existência” dessas operações. Ou seja, a empresa de auditoria externa teria “ensinado” a Americanas a esconder fraudes sem correr riscos.

Fábio Cajazeira Mendes, líder da auditoria da PwC, preferiu usar seu tempo de resposta para explicar os termos técnicos em vez de responder diretamente às perguntas. “Quando a gente diz que, na essência, o segundo texto significa a mesma coisa; é que o texto oferecido ali é conceitual”, tangenciou.

Em nota enviada ao FLJ, a varejista disse que os depoimentos das auditorias corroboram as evidências de que a antiga gestão cometeu fraudes na empresa. Confira o posicionamento na íntegra:

Diante das oitivas na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito), nesta quarta-feira (1º), a Americanas entende que os depoimentos das auditorias corroboraram evidências de fraude de gestão cometida pela antiga diretoria da companhia.

As informações prestadas na sessão desta terça demonstram que as auditorias não classificaram deficiências como significativas e que não encontraram distorções relevantes nos números auditados. A empresa reitera as informações e documentos apresentados à CPI em 13 de junho de 2023, com indícios de que ex-executivos fraudaram resultados financeiros e enviaram dados adulterados a bancos e auditorias.

A Companhia reafirma que o relatório apresentado à CPI, preparado pelos advogados da Companhia, que inclui documentos recebidos do Comitê Independente de Investigação, é preliminar e foi entregue às autoridades competentes, que realizam suas próprias investigações.

Onde está Miguel Gutierrez?

A presença de Gutierrez era uma das mais aguardadas na comissão. No entanto, o executivo enviou um atestado à CPI e não compareceu na sessão, conforme reportado pelo Faria Lima Journal (FLJ) no início da tarde.

Segundo o colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo, Gutierrez encontra-se na Espanha e disse aos deputados que foi acometido por uma “complicação renal” e precisava de um atendimento médico emergencial no país europeu.