Por Bruno Andrade
A centenária e tradicional rede de livrarias Saraiva (SLED4) protocolou um pedido de autofalência após cinco anos de recuperação judicial, em meio a dívidas de R$674 milhões e uma longa crise financeira que culminou no recente fechamento de todas lojas físicas.
Fundada em 1914 pelo empresário Joaquim Inácio da Fonseca Saraiva, inicialmente com foco em livros jurídicos, área de atuação de seu dono, a Saraiva foi uma das mais tradicionais redes do setor até começar a sofrer com a concorrência de varejistas online, como a Amazon, e o endividamento acumulado.
A administração mais recente, liderada por Jorge Saraiva Neto, até tentou reinventar a companhia nos últimos anos: ela passou a vender eletroeletrônicos para tentar gerar caixa adicional e quitar dívidas, mas a proposta também não resistiu à competição do varejo.
O pedido de recuperação judicial da Saraiva veio em 2018, quando a Amazon rumava para o domínio das vendas de livros. Em 2019, a companhia de Jeff Bezos passou a deter cerca de 80% do mercado de livros e e-books.
HISTÓRIA
Na memória dos brasileiros, uma grande livraria se vai. Ao longo de sua história, a Saraiva ganhou grande força no mercado de livros didáticos, e também se mostrou inovadora em suas estratégias.
O fundador da rede, Joaquim Saraiva, foi um dos pioneiros a introduzir técnicas de marketing mais agressivas no setor, como a venda por correspondência, por meio de catálogos que permitiam aos clientes pedir livros por correspondência e recebê-los em casa— basicamente antecipando o e-commerce que apareceria mais à frente.
A empresa até tentou voltar para esse formato agora, após fechar todas suas lojas nos últimos meses, como parte de uma reestruturação que focaria a atuação somente no e-commerce. O modelo, no entanto, não durou.
É claro que a falência ainda precisa ser decretada pela própria justiça, e o caso está na 2ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais da cidade de São Paulo. Todavia, são raros os casos que a justiça nega o pedido de autofalência.
Para os investidores, o prejuízo se concretiza. As ações PM da companhia chegaram a valer mais de mil reais cada em suas máximas, entre 2010 e 2011. No pregão de ontem, em seus últimos suspiros, o papel fechou cotado a R$1,60. Hoje, ainda não abriu negociação.
Na noite anterior, a Saravia disse ainda que a RSM Brasil Auditores Independentes (RSM) não presta mais serviços de auditoria para a empresa.