São Paulo, 17/03/2025 – As ações da Natura acumulam uma queda superior a 30% desde a divulgação do decepcionante balanço do quarto trimestre, na sexta-feira, levando muitos investidores a questionar se esse movimento representa uma oportunidade de compra.
“Honestamente, acreditamos que não”, responderam analistas do Itaú BBA em relatório publicado nesta segunda-feira sobre a multinacional brasileira de cosméticos. Após um tombo de 29,94% na sexta-feira, o maior desde seu IPO, os papéis da Natura seguiam em baixa, registrando uma queda superior a 3% por volta das 15h50 desta segunda-feira.
O banco americano JP Morgan rebaixou hoje a recomendação para as ações da Natura para “neutra”, destacando a frustração com o balanço, especialmente devido ao EBITDA abaixo do esperado, margens mais fracas e despesas elevadas, além de diversos efeitos não recorrentes. “Aguardamos a confirmação de melhores tendências operacionais”, afirmaram os analistas.
A Natura reportou um prejuízo líquido de R$439 milhões no quarto trimestre, impactado por efeitos pontuais da proteção contra credores da Avon International, em comparação com perdas de R$2,7 bilhões no mesmo período do ano anterior. O EBITDA ficou negativo em quase R$140 milhões, com margem EBITDA de -1,8%, um recuo de 1.160 pontos-base, enquanto a margem EBITDA recorrente caiu 70 pontos-base, para 9,1%.
“Foi um trimestre conturbado e complexo”, apontaram analistas da XP, que destacaram a queda na margem bruta como um fator negativo, interrompendo uma sequência de sete trimestres de expansão.
O JP Morgan reduziu o preço-alvo das ações ON da Natura de R$21,00 para R$11,00, ressaltando que a frustração com os resultados e os recorrentes efeitos não recorrentes nos balanços “minam a confiança que vinha sendo estabelecida com o mercado”, gerando incertezas sobre margens e a visibilidade dos resultados futuros.
LONGO PRAZO?
O Itaú BBA manteve sua recomendação de compra para as ações ON da Natura, embora tenha reduzido o preço-alvo de R$17,00 para R$14,00. O banco avalia que a tese de investimento da empresa dificilmente sofreu uma mudança estrutural, mas reconhece que o cronograma para a execução das entregas pode ter sido afetado.
Entre as preocupações do mercado está a demora maior que o esperado na resolução da crise da Avon International, colocada à venda, enquanto a Natura avalia alternativas para o ativo.
“Apenas uma sequência de resultados sólidos e com menos ruídos será capaz de reacender totalmente o interesse pela ação”, afirmaram os analistas do Itaú BBA.
Nos últimos anos, a Natura tem passado por um intenso processo de reestruturação, que incluiu a venda da marca de luxo europeia Aesop para a L’Oréal e da The Body Shop, esta última negociada por um quinto do valor pago na aquisição. Além disso, a empresa negocia a potencial venda da Avon International, em conversas com a gestora IG4, enquanto avalia outras alternativas para a operação.
(LC | Edição: Luca Boni | Comentários: equipemover@tc.com.br)