Planos da Petrobras para renováveis assustam mercado após entrevista de CEO

Reuters News Brasil
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São Paulo, 28/2/2024 – Os papéis da Petrobras caminham nesta quarta-feira para a maior queda diária desde outubro de 2023, após o presidente da companhia, Jean Paul Prates, citar “maior cautela” com a distribuição de dividendos aos acionistas, durante entrevista à Bloomberg TV, citando a previsão de maiores investimentos em transição energética.

O CEO da Petrobras também disse almejar que metade das receitas sejam oriundas de energia eólica, solar e de combustíveis renováveis em cerca de dez anos. A projeção causou preocupação entre analistas, principalmente devido ao ritmo de investimentos necessário para alcançar tais ambições.

Em 2022, a Petrobras teve receita operacional líquida de R$641,25 bilhões. Os negócios com renováveis e nitrogenados geraram apenas R$1,45 bilhão, ou 0,2% do total. Considerando esses números de 2022, para ter metade da receita vinda de negócios “verdes”, a Petrobras precisaria agregar cerca de R$320,62 bilhões em receitas no setor em uma década, ou 9,5 vezes a receita líquida da Eletrobras no ano, de R$34,1 bilhões.

“O problema não é a ‘cautela com dividendos’, mas a taxa interna de retorno (TIR) potencial desses projetos (renováveis)”, escreveu no “X” o líder de research da Warren Brasil, Frederico Nobre. Ele lembrou que a própria companhia admitiu em seu plano de negócios que a TIR em negócios de baixo carbono deve ser de em média 8% reais, contra 23% na exploração e produção de petróleo, e 14% em refino.

A equipe do BTG Pactual escreveu nota a clientes na qual qualificou a fala de Prates sobre a cautela em dividendos como “negativa”, mas disse entender que o CEO colocou um freio na animação do mercado, que começava a especular dividendos extraordinários acima de US$5 bilhões para a companhia. O BTG aposta em algo na casa dos US$4 bilhões.

“Acreditamos que os ruídos vão continuar até a divulgação dos dividendos na próxima semana… mas no final do dia ainda achamos que é justo esperar um provento robusto, dado que um cenário de não distribuição geraria excedente de caixa nos próximos anos”.

O UBS, também em nota a clientes, avaliou que o comentário de Prates mostra “indefinição” no governo sobre os dividendos da Petrobras. “Fazenda e minoritários querem o máximo, uma parte do governo quer menos, e achamos que o cenário mais provável é entre US$6 bilhões e US$8 bilhões”.

Na entrevista à Bloomberg, Prates falou em ser “mais conservador que agressivo” nos proventos. “Precisamos ser cautelosos. Os acionistas vão entender. Estamos no meio desta grande decisão de nos tornarmos uma empresa petrolífera em transição”, disse ele.

Perto das 16h30, os papéis PN da Petrobras despencavam 5,37% cotados a R$40,34. As ações da estatal sofreram forte pressão vendedora a partir das 13h, quando o volume de negócios intradiários se elevou. O volume projetado para a ação é de R$4 bilhões, cerca de 200% acima da média de 50 pregões e o maior volume diário desde dezembro de 2022.

No ano, os papéis PN da companhia acumulam alta de 8,57%, ante retração de 3,17% do Ibovespa no mesmo período. Nos últimos 12 meses, as ações acumulam alta de 97,72%. Já o Ibovespa detém retorno de 23,11% no mesmo período.

(LC+LB | Edição: Gabriel Ponte | Comentários: equipemover@tc.com.br)