Por Felipe Corleta
Presidente Lula, seguem seus ataques às elevadas taxas de juros no Brasil, e sua preocupação é compreensível: a taxa real de juros corrente no Brasil jogará a atividade econômica do país no vinagre.
Agora é preciso que você não apenas critique os juros, mas que deixe a Selic cair. Não foi a Proposta de Emenda à Constituição da Transição que fez com que o Banco Central sinalizasse que os juros permanecerão altos por mais tempo, quem sabe por todo ano de 2023, e tampouco são as ambiciosas metas de inflação.
O que faz com que a Selic não caia no segundo trimestre do ano, como havia sinalizado o presidente do BC, Roberto Campos Neto, na segunda metade de 2022, é o discurso atabalhoado do seu governo em relação à responsabilidade fiscal. Você precisa reforçar o que dizem os seus ministros para que haja confiança dos subscritores da dívida pública – ou do ‘mercado’ – e a Selic possa cair.
Não serão discursos vazios de que “o juro é muito alto” ou de que “a inflação pode ser 4,5%” que trarão a confiança necessária. O Banco Central de Campos Neto já se mostrou ao longo dos últimos anos sempre muito mais subserviente à curva de juros a termo do que às forças políticas. E, para o seu dissabor, o BC é independente e será difícil convencer o Congresso Nacional de que ele não deve mais ser (aleluia!). A Selic, portanto, não cairá antes que as taxas requeridas pelo mercado nos leilões do tesouro e nas negociações diárias dos DIs.
A única forma viável para que os juros caiam mais cedo do que mais tarde, presidente, é a apresentação de um arcabouço fiscal crível o mais rápido possível. Para isso, é momento de inverter prioridades: antes de criar um sistema de garantias para permitir financiamentos a exportadores e a obras na Argentina, por exemplo, apresente o substituto ao Teto de Gastos.
Ninguém espera que o seu governo deixe de lado as questões sociais. Continue demonstrando sua preocupação nesse sentido e agindo para combater os piores problemas do Brasil: educação, segurança alimentar, saúde e desigualdades. Faça isso, apenas, entendendo que, como disse o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, em seu discurso de posse: o cobertor é curto e os desafios, imensos.
Manifeste sua preocupação social sem constantemente cutucar o “mercado”. O mercado sequer existe da forma como você coloca. O mercado financia e refinancia o governo semanalmente, e cobra os juros na medida que não vê previsibilidade. Seus ataques ao Banco Central, à suposta “falta de responsabilidade social” dos investidores e aos nervos do mercado financeiro não ajudam nesse sentido. Na verdade, te trazem o efeito oposto: o seu Tesouro Nacional acaba pagando ainda mais juros e as suas perspectivas econômicas ficam ainda mais nebulosas.
É simples. Melhore o discurso, e os juros cairão naturalmente. Se isso for bem feito, você pode se surpreender com a rapidez do processo. Há espaço para isso. Você tem razão no mérito: os juros estão muito altos e podem azedar qualquer plano de desenvolvimento econômico do país. Basta, agora, acertar na forma.
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