Discussão sobre metas de inflação é correta em um momento errado

Na prática, a revisão de metas hoje apenas traria um ambiente de juros mais altos e, possivelmente, de recessão.

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Por: Felipe Corleta

A discussão sobre se a meta de inflação de 3,00% para 2024 e 2025 é exageradamente baixa para um país emergente como o Brasil é válida, e deve ser feita, mas não antes que seja definido um novo arcabouço fiscal.

Neste momento, em que as expectativas de inflação de médio e longo prazo estão piorando, mas ainda ancoradas perto da meta do Banco Central, elevar a meta de inflação não trará ganho algum em termos de atividade econômica ou de fechamento da curva de juros. Na prática, a revisão de metas hoje apenas traria um ambiente de juros mais altos e, possivelmente, de recessão.

É importante também que a discussão seja conduzida pelo governo de forma alinhada ao Banco Central independente. Mexer nas metas já estabelecidas, de 2024 e 2025, traria sensação de que não há previsibilidade ou segurança jurídica na política econômica do país. Isso também resultaria em juros mais altos.

Pode ser que o governo anterior tenha exagerado ao colocar a meta de inflação de um país como o Brasil pouco acima da meta da Suíça ou dos Estados Unidos. É ambicioso porque a economia brasileira é indexada, com salários, aluguéis e outras cifras importantes sendo corrigidas anualmente pela inflação. É o paraíso da inércia inflacionária.

Recentemente, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, criticou a meta de inflação. É o primeiro mês de um novo governo que sinaliza ser importante recompor a arrecadação aumentando impostos e elevar gastos sociais.  Um governo que assume em meio ao abandono da mais dura regra fiscal que já existiu no Brasil: o Teto de Gastos.

Se o Teto vai acabar, é importante que a nova regra fiscal, que deve ser apresentada pelo ministro da Fazenda Fernando Haddad, seja capaz de consolidar as expectativas macroeconômicas do empresariado, da sociedade e dos investidores. Só assim será possível que se atinja a estabilidade de expectativas necessária para se discutir metas de inflação.

Hoje, essa discussão só piora o quadro econômico e cria novos fatores de incerteza, mantendo juros altos e desincentivando o crédito e o investimento no país. O melhor a se fazer seria concentrar esse debate na meta de 2026 e após a digestão do novo sistema de regras fiscais pelos principais agentes econômicos.

*O conteúdo do artigo é de responsabilidade do autor e não reflete o posicionamento do FLJ